Pessoas recebem assistência das equipes de busca e salvamento de MSF, após 99 sobreviventes terem sido resgatados e 10 corpos recuperados pelo Geo Barents. Mediterrâneo Central, novembro de 2021. © Virginie Nguyen Hoang/Collectif HUMA

Em 2022, Médicos Sem Fronteiras (MSF) manteve suas atividades de busca e resgate para prestar assistência às pessoas forçadas a se arriscar na perigosa travessia do Mediterrâneo Central, apesar dos crescentes desafios operacionais e políticos que se apresentaram.  

Após cada resgate, oferecemos apoio médico e psicológico aos sobreviventes, muitos dos quais sofriam com hipotermia, queimaduras causadas por combustível e enjoo. Também tratamos condições relacionadas com a pele e dores no corpo em geral, muitas vezes resultantes das terríveis condições de vida e da violência sofrida na Líbia. Muitos sobreviventes também relataram terem sido submetidos a tortura ou violência sexual. 

Em uma operação realizada em junho, nossa equipe resgatou dezenas de pessoas de um barco de borracha que havia se desintegrado. Cerca de 30 pessoas morreram afogadas, e uma mulher que trouxemos a bordo não pôde ser ressuscitada.  

Foram muitas as vezes que nossas equipes aguardaram por longos períodos – nove dias a bordo, em média – até que tivessem acesso a um local seguro para o desembarque dos sobreviventes. As autoridades italianas tentaram implementar uma política de “desembarque seletivo” em novembro, permitindo, inicialmente, que apenas aqueles considerados vulneráveis deixassem o navio. No entanto, na medida em que a saúde mental dos sobreviventes se deteriorou rapidamente e a situação se tornou insustentável, todos foram eventualmente autorizados a desembarcar e a política foi descartada.  

O espaço operacional para operações de busca e resgate se tornou ainda mais restrito no final do ano, quando as autoridades italianas passaram a exigir que os navios de ONGs atracassem mais ao norte da costa, excluindo-os, portanto, da zona de busca e resgate por longos períodos e reduzindo ainda mais a capacidade, já insuficiente, de salvar vidas. Essa prática foi agravada por um novo decreto acordado pelo Conselho de Ministros da Itália em dezembro, que estipula que as ONGs solicitem um porto e naveguem até ele “sem demora” após um resgate, em vez de permanecer no mar procurando por outros barcos em situação de perigo.  

MSF continua denunciando as consequências mortais das políticas de migração europeias e a falta de rotas de migração seguras e legais, e pede à União Europeia e aos governos europeus que suspendam o apoio aos retornos forçados à Líbia.  

 

Dados referentes a 2022

3.850

Pessoas resgatadas no mar

2.940

Consultas ambulatoriais

57

Pessoas tratadas por causa de violência sexual

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