Muhab recebe alimentação terapêutica da clínica de MSF no acampamento de Zamzam, em Darfur do Norte, para ajudar a melhorar seu estado nutricional.

A guerra no Sudão teve consequências desastrosas para a saúde e o bem-estar das pessoas. Ao longo de 2024, MSF prestou ajuda médica e humanitária em diversos estados do país devastados pelo conflito.

Os combates entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF) causaram a maior crise de deslocamento do mundo. Milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas. Muitas delas foram submetidas a violência sexual e étnica e enfrentam a desnutrição, a perda da moradia e a falta de meios de subsistência. O sofrimento das pessoas nos estados do leste e centro do país foi agravado por surtos de cólera e picos de malária e dengue durante o ano.

Para responder às imensas necessidades, MSF realizou uma série de atividades no Sudão. Nossas equipes enfrentaram muitos desafios durante a prestação de cuidados. Esses desafios incluíram restrições impostas pelas partes em conflito, atrasos na obtenção de autorizações de viagem, interrupções nas rotas de abastecimento por insegurança e ataques às nossas instalações e aos profissionais. Apesar desses obstáculos, tínhamos equipes trabalhando em 15 dos 18 estados do país, sendo uma das poucas organizações presentes em áreas controladas tanto pela SAF quanto pela RSF. A resposta humanitária internacional à crise tem sido insuficiente até o momento.

Lesões relacionadas à violência

Enquanto os combates se espalhavam por todo o país, dois pontos de inflexão importantes em 2024 foram as batalhas pelo controle do estado de Cartum, a leste, e de Darfur do Norte, a oeste.

Combates terrestres, bombardeios e ataques aéreos e de drones afetaram o norte de Cartum (Bahri), Omdurman e o sul de Cartum, resultando em grande fluxo de pacientes feridos chegando ao hospital turco, ao hospital universitário Bashair, em Cartum do Sul, e ao hospital Al Nao, em Omdurman, onde nossas equipes trabalhavam. Entre janeiro e novembro, um em cada seis pacientes feridos de guerra tratados no hospital Bashair tinha menos de 15 anos.

Instalações de saúde foram alvos de ataques em muitas partes do país, incluindo El Fasher, em Darfur do Norte, onde hospitais foram repetidamente invadidos, resultando em inúmeras vítimas entre pacientes e funcionários. No sul de Cartum, combatentes armados invadiram hospitais em diversas ocasiões, atiraram dentro do hospital e mataram um paciente no hospital universitário de Bashair. Esses ataques violentos forçaram MSF a suspender as atividades médicas em El Fasher e em dois hospitais em Cartum.

Desnutrição

MSF alertou para a crise de desnutrição no acampamentoo de Zamzam, no norte de Darfur. Estsa situação ficou evidente nos resultados dos exames em massa que MSF realizou no local ao longo do ano. A crise começou quando a entrega de alimentos e outras assistências humanitárias foram interrompidas após o início da guerra, em 2023. Foi ainda mais exacerbada em maio de 2024, quando a RSF sitiou El Fasher e os acampamentos ao redor, incluindo Zamzam. Em outubro, tivemos que suspender nossas atividades ambulatoriais de nutrição por causa do bloqueio dos suprimentos. Pouco depois de retomarmos essas atividades, o acampamento foi bombardeado repetidamente, forçando-nos a interromper novamente os serviços ambulatoriais de nutrição em dezembro.

As equipes de MSF também identificaram índices alarmantes de desnutrição e fome em outras regiões do Sudão. Durante triagens de crianças em Darfur do Sul e Omdurman (estado de Cartum), constatamos que as taxas de desnutrição ultrapassavam os limites de emergência. No estado sudeste do Nilo Azul, o dobro de crianças foi internado no hospital Damazin por desnutrição aguda grave em comparação ao ano anterior.

Surtos de doenças

Surtos de doenças preveníveis por vacinação ocorreram em muitas partes do país em 2024.

Após fortes chuvas, um grande surto de cólera atingiu o leste e o centro na segunda metade do ano. A situação era especialmente grave nos acampamentos de deslocados, onde as pessoas viviam em condições de superlotação e com acesso limitado à água potável. MSF respondeu nos estados de Cartum, Rio Nilo, Nilo Branco, Nilo Azul, Kassala e Al-Gedaref, criando novos centros de tratamento e apoiando os existentes. Nossas equipes também observaram índices preocupantes de malária e dengue em todo o Sudão.

Além de apoiar a vacinação de rotina, MSF realizou diversas campanhas de recuperação para crianças que não haviam sido vacinadas em 2024, incluindo uma campanha contra o sarampo em Rokero, no centro de Darfur. Também respondeu a um surto de sarampo em East Jebel Marra, no oeste de Darfur.

Saúde materno-infantil

O acesso a cuidados médicos foi especialmente difícil para mães e crianças. Em Darfur do Sul, equipes de MSF testemunharam a morte de muitas gestantes e recém-nascidos em razão da escassez de instalações de saúde em funcionamento. Algumas mulheres chegaram ao hospital em estado crítico, por causa dos custos inacessíveis do transporte.

Comunidades de difícil acesso

MSF prestou cuidados de saúde em acampamentos de deslocados superlotados e no entorno de onde aconteciam os conflitos, ao mesmo tempo que continuou a prestar serviços médicos a comunidades remotas e isoladas. Em Foro Baranga, oeste de Darfur, a organização se concentrou na triagem e no tratamento da desnutrição e da malária por meio de ações comunitárias. Em Rokero, Darfur Central, apoiamos unidades de saúde e uma rede de agentes comunitários de saúde.

Dados referentes a 2024

1.061.200

Consultas ambulatoriais

205.800

admissões no pronto-socorro

21.500

pessoas tratadas contra cólera

20.400

Partos assistidos

191.300

casos tratados contra malária

11.300

crianças admitidas em programas de alimentação hospitalar

39.700

crianças admitidas em programas nutricionais ambulatoriais

113.600

pacientes internados

160,1 milhões de euros

Despesas

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