Um fisioterapeuta de MSF atende a um paciente ferido durante o terremoto no Hospital Concepção, Imaculada, em Les Cayes. Haiti, setembro de 2021. © Pierre Fromentin/MSF

Em 2022, Médicos Sem Fronteiras (MSF) concentrou esforços no preenchimento das enormes lacunas na oferta de serviços de saúde do Haiti, um país devastado pela escalada da violência e um ressurgimento mortal da cólera.  

 A situação já volátil do país se deteriorou significativamente em 2022, na medida em que gangues rivais travaram uma guerra brutal nas ruas, paralisando e isolando a capital, Porto Príncipe, por longos períodos. Esses níveis de violência sem precedentes levaram a um aumento acentuado do número de pacientes internados em nossos hospitais durante o ano.  

 Julho foi o pior mês, com mais de 300 pessoas mortas e inúmeros casos de estupro reportados. Muitas casas foram incendiadas e mais de 20 mil pessoas tiveram de se deslocar por toda a cidade. Em meio a essas condições desafiadoras, nossas equipes trabalharam para manter e ampliar as atividades em nossos três hospitais de trauma e emergência em Porto Príncipe. Atendemos vítimas de ferimentos por arma de fogo e facadas e sobreviventes de violência sexual, bem como pessoas com queimaduras graves e lesões relacionadas com acidentes de trânsito.  

 Nosso hospital em Cité Soleil teve que suspender as atividades em abril, depois que um paciente morreu do lado de fora do prédio. No entanto, em julho, reabrimos as instalações para responder ao aumento do fluxo de pacientes feridos. 

 Após o anúncio do aumento dos preços dos combustíveis, em setembro, protestos violentos irromperam por todo o país. Barricadas foram erguidas, bloqueando muitas das mais importantes estradas, e a atividade econômica foi paralisada. A situação se agravou quando uma das principais gangues bloqueou o acesso ao principal terminal de petróleo do país por mais de um mês, exacerbando a escassez de combustível e forçando as instalações de saúde a fechar ou reduzir a oferta de serviços, já que dependem de geradores para sua eletricidade.  

 A agitação também interrompeu temporariamente a distribuição de água, reduzindo o abastecimento e criando condições ideais para o ressurgimento da cólera. Na medida em que o surto se espalhava, a situação de saúde logo se tornou extrema, já que até mesmo os serviços básicos se tornaram praticamente inacessíveis devido à violência contínua e à crise de combustível, que perdurou por muito tempo, mesmo depois de restaurado o acesso ao terminal de petróleo. 

 Para atenuar esses problemas, nossas equipes continuaram a oferecer uma série de serviços médicos na capital e em outras partes do país, apesar dos enormes desafios para a obtenção de combustível e de suprimentos médicos e para a referência de pacientes entre diferentes instalações de saúde. Além de administrar e apoiar hospitais e centros de saúde, prestamos assistência por meio de clínicas móveis nos bairros mais afetados de Porto Príncipe, como Brooklyn, Bel’Air, Bas Delmas e Delmas 4. Foi possível para nossas equipes trabalhar nessas áreas de difícil acesso porque a atuação de MSF é percebida de forma positiva e respeitada pelas comunidades. 

 

Violência sexual e de gênero 

A violência sexual e de gênero (SGBV, na sigla em inglês) é um problema generalizado no Haiti. O agravamento da crise socioeconômica e os níveis elevados da guerra entre gangues tiveram um impacto considerável no psicológico de comunidades inteiras, que se tornaram isoladas e mais expostas ao risco de agressão sexual. MSF administra duas clínicas em Porto Príncipe e, mais ao norte, em Gonaïves, e apoia três hospitais para oferecer às sobreviventes de SGBV atendimento médico, psicológico e social especializado. Uma linha telefônica gratuita reduziu as barreiras de acesso aos cuidados, oferecendo aos sobreviventes apoio psicológico remoto e encaminhamento para centros de saúde. Nossas clínicas móveis ativas em bairros inseguros e de difícil acesso oferecem atendimento para SGBV como parte de seus serviços. 

 

Saúde materna 

A oferta e o acesso à saúde materna são extremamente limitados no Haiti, o que contribui para que o país registre uma das maiores taxas de mortalidade materna do mundo. Nossas atividades no sul visam atender às necessidades urgentes na região. Em 2022, expandimos nossas atividades de saúde sexual e reprodutiva em nossa clínica em Port-à-Piment, no sudoeste do Haiti, passando a oferecer cirurgia para casos obstétricos complicados, bem como atendimento de pré e neonatal.  

 

Resposta de emergência a um surto de cólera 

Superlotação, condições de vida insalubres e acesso precário à água potável foram fatores que contribuíram para um grave ressurgimento da cólera, doença que já matou cerca de 10 mil pessoas desde 2010, quando o país foi atingido por uma epidemia após um grande terremoto. 

 Após a chegada dos primeiros casos suspeitos às instalações de MSF no final de setembro, internamos aproximadamente 13 mil pacientes em nossos seis centros de tratamento de cólera (CTCs) em Porto Príncipe e arredores até o final do ano. Além disso, tratamos cerca de 2.500 pacientes nos quatro CTCs que abrimos no departamento de Artibonite, ao norte da capital.  

 Nossas equipes responderam ao surto da doença em todo o país, apoiando as comunidades locais com a cloração de pontos de água e a conscientização sobre medidas de higiene em alguns dos bairros mais afetados. Em dezembro, oferecemos apoio logístico à campanha de vacinação contra a cólera realizada pelo Ministério da Saúde, para garantir que o maior número possível de pessoas fosse imunizado contra a doença. 

 

Dados referentes a 2022

45.500

Consultas de emergência

1.686 (posições equivalentes a período integral)

Número de profissionais

5.780

Pessoas receberam tratamento por violência física intencional

48,7 milhões de euros

Despesas

2.600

Pessoas receberam tratamento por violência sexual

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