© Marion Molinari/MSF

Em 2024, a República Democrática do Congo (RDC) foi o país com maior atuação de MSF. Nossas equipes responderam às imensas necessidades humanitárias do povo congolês, agravadas por anos de conflito. 

Em 2024, MSF intensificou suas atividades em resposta ao impacto devastador do conflito brutal que assola as províncias de Kivu do Norte, Kivu do Sul e Ituri, no leste da RDC. Até o final do ano, o conflito havia deslocado 4 milhões de pessoas. 

Também respondemos a inúmeras outras emergências, incluindo surtos de doenças e inundações, e continuamos a executar nossos projetos regulares e especializados em todo o país. 

 

Resposta ao conflito no leste da RDC 

O conflito no Kivu do Norte e no Kivu do Sul começou em 2021 e se agravou em 2024, entre o M23 e as Forças Armadas Congolesas (FARDC) e seus respectivos aliados, bem como outros grupos armados, causando novas ondas de deslocamento. Somente em fevereiro, 250 mil pessoas chegaram aos acampamentos já superlotados nos arredores de Goma, capital do Kivu do Norte.  

Em 2024, as condições de vida nos acampamentos continuaram a se deteriorar pela falta de ação nacional e internacional. Além disso, as linhas de frente se aproximaram da cidade, deixando os acampamentos mais vulneráveis à violência armada. Muitos civis foram pegos no fogo cruzado, com inúmeras pessoas sendo mortas ou feridas por bombardeios de artilharia pesada, enquanto outras foram submetidas à violência sexual. 

Para enfrentar essa grave crise humanitária, intensificamos nossos esforços de resposta a emergências. Fortalecemos os cuidados gerais, maternos e pediátricos; realizamos campanhas de vacinação, que salvaram vidas; e fornecemos tratamento para vítimas e sobreviventes de violência sexual. Muitos deles eram mulheres e crianças.  

Em 2024, nossas equipes trataram um número sem precedentes de pessoas vítimas de violência sexual em Kivu do Norte. Continuamos a ser o principal fornecedor de água nos acampamentos ao redor de Goma, com investimentos significativos em infraestrutura de saneamento, incluindo um sistema de abastecimento de água alimentado por energia solar, uma estação de bombeamento de água e uma unidade de tratamento de lodo fecal. Esses esforços foram cruciais, uma vez que também tratamos milhares de pessoas com cólera nos locais de deslocamento. 

A escalada dos combates em múltiplas frentes e os repetidos deslocamentos forçados em Kivu do Norte e Kivu do Sul limitaram ainda mais o acesso das pessoas aos cuidados de saúde, incluindo a vacinação. Consequentemente, houve aumento dos casos de desnutrição, sarampo e cólera nos hospitais e centros de saúde onde nossas equipes trabalham. As unidades médicas nas quais as equipes de MSF atuam têm registrado aumento significativo do número de pacientes feridos em decorrência da guerra e de civis em busca de segurança diante dos combates contínuos, especialmente nas cidades de Mweso e Masisi, em Kivu do Norte.  

Para auxiliar as pessoas em movimento, nossas equipes instalaram clínicas móveis em áreas de deslocamento, embora a alta insegurança tenha restringido repetidamente nossos movimentos, principalmente no território de Masisi. No início de 2024, em Kivu do Sul, dezenas de milhares de pessoas fugiram para Littoral e Hauts-Plateaux, na zona de saúde de Minova. Posteriormente, outros deslocamentos em massa ocorreram ao longo do ano, elevando o número de pessoas deslocadas na região para mais de 200 mil. Após aumento dos casos de cólera e sarampo, lançamos atividades de emergência para prestar cuidados médicos aos doentes e feridos e melhorar as condições de higiene nos acampamentos de deslocados. 

Apesar dos ataques contínuos e generalizados contra civis ao longo de 2024, a crise em curso na província de Ituri foi amplamente ignorada pelo governo da RDC e teve resposta internacional limitada. Nem hospitais, nem locais para pessoas deslocadas foram poupados. Em 6 de março, o hospital geral de referência de Drodro foi atacado e saqueado por indivíduos armados, que mataram uma paciente em seu leito. Esse ataque, juntamente com outras violações do direito internacional humanitário, teve impacto significativo no acesso da população aos serviços de saúde em Ituri. 

Continuamos a apoiar a clínica Salama em Bunia, oferecendo cirurgia e cuidados pós-cirúrgicos, incluindo fisioterapia, serviços ortopédicos e apoio à saúde mental, para pacientes que sofreram traumas ou lesões relacionadas com a violência. Também auxiliamos 13 zonas de saúde na província a se prepararem para eventos com vítimas em massa, realizando treinamentos e fortalecendo o sistema de encaminhamento. 

MSF manteve o apoio aos dois hospitais gerais em Angumu e Drodro, bem como aos acampamentos de deslocados nas proximidades, com foco no tratamento da malária e infecções respiratórias, além dos cuidados maternos e pediátricos. 

 

Resposta a surtos de doenças e outras emergências 

Ao longo do ano, implementamos atividades de emergência para apoiar pessoas deslocadas por conflitos ou desastres naturais em outras regiões do país, incluindo Mai-Ndombe e Kisangani. 

Ao longo de 2024, as equipes móveis de emergência de MSF se concentraram principalmente na resposta às epidemias de sarampo. No entanto, também enfrentamos aumento dos surtos de Mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos. O aumento nos casos foi impulsionado por uma mutação, que facilitou a transmissão do vírus entre humanos. Esse cenário foi agravado pela densidade populacional extremamente alta nos locais de deslocamento ao redor de Goma, em Kivu do Norte, e Minova, em Kivu do Sul. 

Realizamos vigilância epidemiológica, atividades de conscientização e pesquisas, e apoiamos o Ministério da Saúde com atendimento a pacientes nas províncias de Équateur, Kivu do Sul, Ubangi do Norte, Ubangi do Sul, Tshopo, Haut-Uélé, Bas-Uélé, Ituri e Kivu do Norte. Em Tshopo, respondemos com vigilância e apoiamos o Ministério da Saúde na criação e gestão de dois centros de tratamento. Em Uvira, epicentro de Mpox em Kivu do Sul, MSF auxiliou na gestão de casos, medidas de prevenção e controle de infecções, e conscientização da comunidade. 

Em janeiro, quando chuvas torrenciais provocaram inundações na capital, Kinshasa, nossas equipes de logística atuaram na construção de sanitários e chuveiros, bem como na distribuição de água potável e barracas, enquanto nossas equipes médicas ofereceram atendimento médico e cuidados em saúde mental. 

 

Atividades de cuidados gerais e especializados 

Paralelamente às ações de emergência, seguimos com nossos projetos regulares em diversas regiões da RDC. Entre eles, estão o apoio a unidades de saúde e a capacitação da rede de agentes comunitários para identificar doenças de alta prevalência, como malária e desnutrição, principalmente em áreas de difícil acesso. 

Prestar cuidados a sobreviventes de violência sexual é outro componente essencial de muitos de nossos projetos. Nossas equipes oferecem não apenas tratamento médico, mas também apoio psicológico. Além disso, envolvem as comunidades por meio de atividades de sensibilização, para garantir que as pessoas saibam onde buscar atendimento. 

Em Kinshasa, prestamos cuidados de HIV no Hospital Kabinda e em cinco centros de saúde. Estamos trabalhando para melhorar o acesso aos cuidados de saúde para pessoas com deficiência — por exemplo, apoiamos as unidades de saúde a se tornarem acessíveis a cadeirantes e enviamos clínicas móveis com intérpretes de linguagem de sinais às comunidades. 

Dados referentes a 2024

2.285.100

Consultas ambulatoriais

19.700

Crianças admitidas em programas de alimentação hospitalar

2.819

Número de profissionais (posições equivalentes a período integral)

834.300

Vacinações aplicadas contra sarampo em resposta a surto

15.600

Intervenções cirúrgicas

130,2 milhões de euros

Despesas

46.900

Pessoas tratadas por violência sexual

1.220

Pessoas em tratamento contra HIV com antirretrovirais

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