Wael Abdul carrega suas filhas gêmeas recém-nascidas, que estão sendo atendidas em uma unidade especial apoiada por MSF no hospital Al-Jamhouri, na cidade de Taiz. Iêmen, junho de 2021. © Nasir Ghafoor/MSF

Médicos Sem Fronteiras (MSF) está trabalhando para enfrentar a crise humanitária que vem se desdobrando no Iêmen, proporcionando cuidados vitais às pessoas feridas em conflitos e respondendo aos índices crescentes de desnutrição e doenças evitáveis. 

 No início de 2022, em resposta a uma escalada dramática dos combates em várias linhas de frente e um aumento significativo dos ataques aéreos, nossas equipes em Abs, Mocha e Sa’ada lançaram várias intervenções decorrentes de eventos que geraram vítimas em massa 

 Embora a intensidade do conflito tenha diminuído desde a trégua mediada pela ONU, em abril, confrontos esporádicos continuam ocorrendo nas linhas de frente de batalha, muitas vezes resultando em vítimas civis pegas no fogo cruzado ou expostas a dispositivos não detonados.
 A espinha dorsal da crise humanitária do Iêmen é o conflito armado, mas a consequente deterioração da economia também teve um impacto direto nas condições de vida, saúde e acesso da população a tratamentos essenciais. Como os preços dos alimentos e dos combustíveis continuam subindo, muitas famílias não têm condições de se alimentar ou se deslocar até instalações de saúde. 

 A oferta de serviços de saúde no Iêmen, em especial serviços médicos básicos de alta qualidade e acessíveis a nível comunitário, está diminuindo e, em alguns casos, é inexistente. Como pudemos testemunhar nas instalações de saúde que apoiamos, o acesso precário a cuidados médicos gerais faz com que muitas pessoas posterguem a busca por tratamento ou sejam forçadas a viajar para locais mais distantes, de modo que, quando chegam, frequentemente estão em pior condição e desenvolveram complicações. 

 Um grande número de pessoas no Iêmen continua precisando urgentemente de assistência e apoio humanitário, uma vez que a deterioração acentuada dos serviços causa lacunas crescentes na oferta de cuidados de saúde. A situação foi agravada pelas restrições desproporcionais impostas pelas autoridades iemenitas à entrada de pessoal e de suprimentos humanitários, o que dificultou a oferta de ajuda essencial de maneira efetiva e oportuna. MSF continua pedindo uma resposta internacional maior, mais eficiente e mais direta no Iêmen, e pede a facilitação do acesso de MSF e de outras organizações a pessoas vulneráveis. 

 Em 2022, nossas equipes trabalharam em 12 hospitais e apoiaram outras 16 unidades de saúde em 13 províncias, concentrando esforços na internação e no atendimento de emergência. No entanto, devido à falta de cuidados básicos de saúde nas áreas rurais, as alas dos hospitais que MSF apoia estão frequentemente sobrecarregadas, na medida em que as pessoas tendem a chegar às instalações com complicações, porque não puderam receber cuidados quando precisaram deles. Como resultado, as instalações que apoiamos geralmente operam bem acima dos 100% de sua capacidade. Portanto, prestamos assistência a centros de saúde básica em várias regiões do país, incluindo a oferta de apoio financeiro a profissionais de saúde, treinamentos, doações de medicamentos e o custeio das referências às instalações administradas ou apoiadas por MSF.  

 

Desnutrição 

No Iêmen, a desnutrição é um risco constante para crianças, gestantes e pessoas em situação de maior vulnerabilidade devido a condições médicas, com picos sazonais e anuais associados à estação de escassez entre as colheitas. Esse padrão foi observado antes da escalada da guerra, no final de 2014, mas se agravou e se tornou mais generalizado devido ao conflito em andamento, que exacerbou a insegurança alimentar para as pessoas em condições de vulnerabilidade.  

 Em 2022, o pico de desnutrição começou mais cedo do que em anos anteriores e só terminou em novembro. As instalações apoiadas por MSF ficaram sobrecarregadas pelo alto número de pacientes, que chegou a 10 mil pessoas em tratamento ao longo do ano. Nossas equipes lançaram intervenções de emergência para enfrentar o aumento do número de casos de desnutrição aguda e as complicações de saúde decorrentes, e estão particularmente preocupadas com as doenças associadas transmitidas pela água, que potencializam a fragilidade dos menores de cinco anos, especialmente quando já estão desnutridos.  

 

Atendimento de emergência e cirurgia 

Durante o ano, os prontos-socorros apoiados por MSF no Iêmen trataram centenas de milhares de pacientes, muitos com ferimentos relacionados com a violência ocorridos durante o conflito. Muitas outras pessoas acabaram por precisar de cuidados de emergência associados a condições que, inicialmente, eram menos graves, mas pioraram porque a falta de assistência médica acessível em suas comunidades retardou a busca por tratamento.  

 Nossas equipes realizaram milhares de intervenções cirúrgicas em 2022, não apenas por lesões relacionadas com a violência, mas também por emergências, como complicações obstétricas. Um número significativo de vítimas de acidentes de trânsito também foi tratado em várias localidades do Iêmen. A baixa oferta de cuidados maternos resultou em um alto número de mulheres que enfrentaram complicações no parto e riscos aumentados para a mãe e o bebê; muitas vezes, isso ocorre porque o tratamento é recebido tarde demais. 

 

Cuidados materno- infantis 

MSF oferece apoio à saúde materno-infantil na maioria das províncias do Iêmen, onde há uma demanda cada vez maior por esses serviços. Nossas equipes assistiram partos, incluindo cesarianas, e prestaram atendimentos de pré-natal e neonatais. Em um esforço para reduzir as altas taxas de mortalidade materno-infantil, trabalhamos com o Ministério da Saúde nas províncias de Hodeidah, Hajjah, Ibb e Taiz para desenvolver fluxos para referências de emergência, a fim de agilizar o acesso aos cuidados. 

 

Baixa cobertura vacinal e doenças evitáveis 

Constatamos o ressurgimento de doenças evitáveis, como cólera, difteria, sarampo e coqueluche, no Iêmen, devido à baixa cobertura vacinal, às más condições de vida e ao colapso do sistema de saúde. Em resposta, nossas equipes vacinaram, conduziram atividades de promoção e educação em saúde para incentivar as pessoas a se vacinarem e também administraram centros de isolamento de doenças.  

 

 

Dados referentes a 2022

108.200

Pessoas internadas em hospitais

121 (posições equivalentes a período integral)

Número de profissionais

5.630

Consultas individuais de saúde mental

60.400

Consultas ambulatoriais para crianças com menos de 5 anos

230

Pessoas tratadas por causa de violência sexual

4,1 milhões de euros

Despesas

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