Pessoas em uma canoa navegam nas águas da enchente em Bentiu, estado de Unity. Sudão do Sul, dezembro de 2021. © Sean Sutton

No Sudão do Sul, administramos um de nossos maiores programas de assistência em todo o mundo, atendendo às muitas necessidades de saúde resultantes de conflitos contínuos, eventos climáticos extremos e surtos de doenças.  

A população do Sudão do Sul continua sofrendo as consequências da violência recorrente, acesso precário a cuidados de saúde, instabilidade econômica e do quarto ano consecutivo de inundações devastadoras. Mais de dois terços da população precisou de ajuda humanitária em 2022 1, e este número deve aumentar, uma vez que foram feitos cortes substanciais na ajuda internacional durante o ano.  

Em 2022, Médicos Sem Fronteiras (MSF) ofereceu uma série de serviços de saúde, incluindo cuidados básicos e especializados, e enviou equipes móveis para ajudar pessoas deslocadas e comunidades remotas em duas áreas administrativas e oito dos 10 estados do país. Além de responder a emergências e surtos de doenças, implementamos atividades preventivas, como campanhas de vacinação e quimioprevenção sazonal da malária. Também abrimos uma ala de internação em uma região remota da Área Administrativa da Grande Pibor e iniciamos a reabilitação de um hospital em Kajo Keji.  

Inundações 

Cerca de dois terços do Sudão do Sul foram cobertos por inundações durante a estação chuvosa de 2022, afetando mais de um milhão de pessoas2. Nos últimos quatro anos, a intensidade das inundações não tinha tido precedentes, o que fez com o que o país assumisse a linha de frente na crise climática mundial. Dezenas de milhares de pessoas vivem em acampamentos para pessoas deslocadas, onde faltam abrigo, água potável, assistência médica e instalações sanitárias.  

Com muitas comunidades isoladas em “ilhas”, MSF conduziu clínicas móveis para melhorar o acesso a cuidados de saúde e realizou referências de emergência por barco. Em alguns locais, também montamos estruturas temporárias para garantir a continuidade do atendimento. Em Bentiu, no estado de Unity, ampliamos nossa capacidade de leitos de 135 para 175 em resposta ao aumento do fluxo de pacientes com doenças transmitidas pela água. Em Maban, no estado de Alto Nilo, distribuímos itens de primeira necessidade, como lonas plásticas, cobertores, kits de higiene e equipamentos de cozinha, e estruturamos instalações de água e saneamento. Por vezes, nossas equipes tiveram de viajar a pé por várias horas para levar medicamentos às pessoas desabrigadas pelas enchentes na Área Administrativa Especial de Abyei.  

Violência 

A violência aumentou em muitas áreas em 2022. Nossas equipes responderam a emergências relacionadas com conflitos em sete locais, distribuindo itens de primeira necessidade e conduzindo clínicas móveis nas comunidades afetadas. 

O conflito entre grupos armados no Alto Nilo e em Greater Fangak causou centenas de vítimas e desalojou dezenas de milhares de pessoas. Nossos hospitais em Old Fangak, na cidade de Malakal e na instalação de Proteção aos Civis de Malakal (Protection of Civilians – PoC, na sigla em inlgês) – o último PoC restante no país – receberam muitos pacientes feridos. Alguns chegaram com infecções graves, pois, por vezes, demoravam dias para chegar ao hospital, devido à insegurança e às enchentes.  

Em julho, lançamos uma intervenção de emergência de três meses e distribuímos itens de primeira necessidade no condado de Magwi, no estado de Equatoria Oriental, para apoiar as comunidades com necessidades médicas e de água e saneamento após o início do conflito na região. Também passamos a prestar suporte aos serviços médicos em cinco unidades de saúde geral. Em uma intervenção de emergência em Tambura, no estado da Equatoria Ocidental, nossas equipes ofereceram cuidados gerais de saúde e vacinação, além de apoio à saúde materna e serviços de saúde mental, após o deslocamento de cerca de 80 mil pessoas devido à violência.  

Nossas equipes não ficaram imunes à violência. Uma enfermeira sul-sudanesa de nosso hospital em Agok foi morta dentro de sua casa em fevereiro, quando os combates intercomunitários tiveram início. Outro membro da equipe de MSF foi morto a tiros no condado de Leer. Em Yei, um grupo armado roubou uma equipe de MSF na estrada e incendiou dois de nossos veículos. 

Quando confrontos violentos irromperam em Agok nos meses de fevereiro e março, a maioria dos moradores dali fugiu para a cidade de Abyei ou para o condado de Twic. Para continuar respondendo às suas necessidades, nossas equipes acompanharam o movimento dessas pessoas, prestando suporte aos serviços no hospital Ameth-Bek, em Abyei, e oferecendo assistência médica às pessoas deslocadas no condado de Twic. Além disso, prestamos assistência médica geral, incluindo apoio a atividades de saúde mental, no condado de Tambura, no estado de Equatoria Ocidental, e oferecemos apoio a cinco instalações de saúde geral no condado de Leer, no estado de Unity, onde também distribuímos itens de primeira necessidade às pessoas afetadas pela violência.  

Respostas a surtos 

Em uma ação inédita no mundo, nossas equipes realizaram uma campanha de vacinação em massa no maior campo de pessoas deslocadas internamente do Sudão do Sul em resposta a um surto ativo de hepatite E. Esse vírus é particularmente mortal entre mulheres grávidas, matando até 25% das gestantes infectadas. Em março, abril e outubro, MSF e o Ministério da Saúde realizaram conjuntamente três rodadas de vacinação no acampamento do condado de Bentiu. MSF espera que esse precedente incentive a adoção da vacina em outros países que estejam enfrentando surtos semelhantes. 

Nossas equipes também realizaram campanhas de vacinação para responder aos surtos de sarampo em cinco estados e na Área Administrativa da Grande Pibor. Em Maban, distribuímos mosquiteiros às famílias para protegê-las da malária, depois que outras organizações interromperam as atividades em resposta à doença devido a cortes de financiamento.  

Repasses de atividades em Mundri e Yei 

Em maio, depois de mais de cinco anos prestando assistência vital à população de Greater Mundri, no estado da Equatoria Ocidental, repassamos nossas atividades ao Ministério da Saúde. Lançamos uma intervenção de emergência em Mundri em 2016, em resposta a necessidades humanitárias e médicas críticas; no entanto, na medida em que o projeto se estabilizou, decidimos concentrar nossos esforços na assistência a comunidades em áreas mais negligenciadas. Ao longo desses cinco anos, tratamos centenas de milhares de pacientes, respondemos a emergências locais e treinamos profissionais médicos. 

Também fizemos o repasse da ala de internação do hospital de Yei ao Ministério da Saúde em 2022. Começamos a prestar suporte à região em setembro de 2018, doando medicamentos e equipamentos, treinando a equipe e auxiliando na manutenção das instalações. Agora, ampliamos nossas atividades comunitárias no condado de Yei, oferecendo assistência médica por meio de três instalações do Ministério da Saúde e administrando clínicas móveis e serviços de saúde baseados na comunidade. 

Academia MSF 

Após décadas de conflito, a grave escassez de infraestrutura de saúde e profissionais médicos qualificados continua a representar grandes desafios para o desenvolvimento de um bom sistema de saúde no país, que é o mais jovem do mundo. A Academia MSF para Cuidados de Saúde (MSF Academy for Healthcare, na sigla em inglês) visa a fortalecer as competências dos profissionais de saúde e melhorar a qualidade do atendimento. Em junho, o primeiro grupo de 35 estudantes de enfermagem em Old Fangak, estado de Jonglei, formou-se após completar 18 meses de treinamento em cuidados de enfermagem. 

Dados referentes a 2022

891.000

Consultas ambulatoriais

62.500

Pessoas internadas no hospital

4.610

Pessoas tratadas por violência física intencional

309.900

Casos de malária tratados 

12.600

Partos assistidos

3.810

Crianças internadas em programas de nutrição intensiva

125.000

Vacinas contra o sarampo aplicadas em resposta a um surto

6.460

Intervenções cirúrgicas

2.540

Pessoas tratadas por causa de violência sexual

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