Gaza: ofensiva de Israel em Rafah força milhares a fugir e bloqueia ingresso de ajuda

Já precário, acesso a cuidados de saúde no território fica ainda mais difícil.

Um grupo de palestinos deslocados espera pela distribuição de água de MSF na área de Tal Al-Sultan, na cidade de Rafah, sul de Gaza. Janeiro de 2024. © MSF

As forças israelenses iniciaram uma ofensiva sobre Rafah e assumiram o controle da fronteira, cortando na prática o envio de ajuda vital para a Faixa de Gaza. No momento em que milhares de palestinos se veem obrigados a fugir do leste de Rafah, após as recentes ordens de evacuação dadas por Israel, a organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) faz um apelo para que se proteja a população civil e seja reaberta a passagem fronteiriça de Rafah.

O fechamento deste ponto-chave de ingresso em Gaza coloca em risco a resposta humanitária, deixando as reservas de combustível, alimentos, medicamentos e água perigosamente baixas e a população encurralada em meio a novos combates.

“A passagem de Rafah, um ponto de acesso humanitário vital, foi fechada completamente até novo aviso. Isto terá um impacto devastador, já que a ajuda que chega por meio desta via é uma linha de vida para toda a Faixa de Gaza”, afirma Aurelie Godard, líder da equipe médica de MSF em Gaza.

“Depois de sete meses de guerra, obrigando 1,7 milhão de pessoas a fugir de suas casas, a decisão de fechar essa passagem agrava ainda mais as terríveis condições de vida das pessoas encurraladas em Gaza.”

Assista: profissional de MSF relata as imensas necessidades de saúde em Rafah

Em 6 de maio, as forças israelenses ordenaram a 100 mil pessoas do leste de Rafah que evacuassem para Al Mawasi, uma região entre o oeste de Rafah e Khan Younis, onde os abrigos e recursos também são extremamente escassos. Rafah havia sido designada anteriormente pelas forças israelenses como uma zona segura para a população civil.

“Estas pessoas são novamente deslocadas à força, passando de tendas improvisadas para outro lugar sem abrigo adequado, alimentos, água ou atenção médica”, afirma Godard. “Elas correm o risco de mergulharem ainda mais em um enorme desastre humanitário que atingiu níveis de pesadelo.”

Palestinos deslocados em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, carregam seus pertences após ordem de evacuação do exército israelense em 6 de maio de 2024. © MSF

A ofensiva e a ordem de evacuação reduzem ainda mais o acesso a cuidados de saúde em meio a um sistema de saúde destruído, deixando as pessoas quase sem opções até mesmo para cuidados médicos básicos.

Veja também: relatório de MSF denuncia “assassinatos silenciosos” em Gaza

No começo desta semana, o pessoal médico e os pacientes tiveram que ser evacuados do Hospital Al-Najjar, enquanto o Hospital Europeu de Gaza não é mais acessível. Nossas equipes começaram a dar alta para pacientes do Hospital de Campanha Indonésio de Rafah, onde apoiávamos a prestação de cuidados pós-operatórios, e suspendemos nossas atividades na Clínica Al-Shaboura até novo aviso.

“Ter que suspender atividades de um posto de saúde onde nossas equipes realizaram 8.269 consultas só em abril ou fizeram 344 curativos na semana passada é catastrófico”, afirma Paulo Milanesio, coordenador de emergência de MSF em Rafah.

“Onde vão buscar atendimento e continuar o tratamento as mulheres grávidas, as crianças, as pessoas com doenças crônicas em um lugar dizimado como Gaza? Sem esquecer do impacto na saúde mental; antes do fechamento oferecíamos mais de 130 consultas individuais de saúde mental por semana, e esta cifra só aumentou nas últimas semanas”, afirma Milanesio.

MSF também transferirá ao Ministério da Saúde suas atividades no Hospital Emirati e moverá o pessoal para o Hospital Nasser, para continuar dando apoio a serviços de maternidade em uma região mais segura.

“Com esta já chegam a 11 o número de instalações de saúde das quais tivemos de sair em Gaza em apenas sete meses, o que demonstra a brutalidade e o desrespeito a regras vigentes nesta guerra”, diz Milanesio.

Desde o início da guerra, MSF tem observado um padrão de ataques sistemáticos contra instalações médicas e infraestrutura civil. O sistema de saúde de Gaza está sendo desmantelado justamente no momento em que as necessidades estão explodindo, com consequências devastadoras para a população palestina.

Reiteramos nosso apelo por um cessar-fogo imediato e sustentado para interromper as mortes e a destruição em Gaza e permitir que a ajuda vital possa ingressar no território.

 

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