Um enfermeiro presta atendimento a um paciente com COVID-19 no Hospital Nacional Raqqa. Síria, junho de 2021. © Florent Vergnes

Médicos Sem Fronteiras (MSF) continua respondendo às múltiplas necessidades de saúde no norte da Síria, onde 12 anos de guerra e uma crise econômica cada vez mais profunda infligiram imenso sofrimento à população. 

Em 2022, administramos programas no Noroeste e no Nordeste da Síria, onde o acesso às pessoas e as condições de segurança permitiram a manutenção das atividades. Nossas equipes ofereceram uma ampla gama de serviços médicos, incluindo atenção a traumas e tratamento de ferimentos, saúde materno-infantil, tratamento de doenças crônicas e violência sexual, apoio à saúde mental e atividades relacionadas com proteção, por meio de instalações fixas e móveis. 

Em julho, o último ponto de passagem humanitária remanescente na fronteira com a Síria, Bab Al-Hawa, foi ameaçado de fechamento depois do veto à renovação da continuidade da operação pelo Conselho de Segurança da ONU. A autorização foi eventualmente renovada, ainda que por apenas seis meses, evidenciando a fragilidade do acesso humanitário à Síria, que ainda depende de decisões políticas, e não exclusivamente das necessidades humanitárias das milhões de pessoas deslocadas na região.  

Em setembro, a contaminação por esgoto do Rio Eufrates e uma grave escassez de água foram fatores que contribuíram para o primeiro surto de cólera no país em 15 anos, que foi declarado na província de Aleppo e rapidamente se espalhou para outras partes do Norte da Síria. 

Noroeste da Síria 

No final de 2022, havia cerca de 4,4 milhões habitantes no Noroeste da Síria, dos quais aproximadamente 2,8 milhões são pessoas deslocadas internamente. Suas condições de vida, já precárias, continuam a se deteriorar devido ao conflito em andamento, à piora da situação econômica do país e ao aumento dos preços. As pessoas estão perdendo a esperança no futuro, o que, por sua vez, impacta sua saúde mental. Consequentemente, as necessidades humanitárias continuam extremamente elevadas, especialmente no que diz respeito a cuidados médicos, água e saneamento, alimentos e abrigo, mas a ajuda destinada à região diminuiu.  

Essa situação tem sido agravada pelas barreiras adicionais impostas pelas linhas de frente ativas do conflito, restrições de acesso e problemas na cadeia de suprimento, que afetam a capacidade de resposta de MSF. Por esses motivos, desenvolvemos uma rede de parceiros com os quais trabalhamos para levar assistência onde ela é mais necessária. 

Para atender às necessidades médicas nas províncias de Idlib e Aleppo, onde o sistema de saúde continua frágil, MSF cogerencia e oferece suporte técnico a sete hospitais. Além disso, administramos a única instalação especializada em queimaduras da região. Também operamos clínicas móveis e prestamos suporte a centros de saúde básica para oferecer cuidados às pessoas que vivem nos acampamentos. 

Nossos serviços incluem cirurgia, tratamento de ferimentos e de queimaduras, cuidados obstétricos e pediátricos, tratamento de infecções e doenças crônicas, bem como doenças de pele relacionadas às condições precárias de vida, como sarna e leishmaniose, apoio à saúde mental, promoção de saúde e vacinação de rotina. 

Nos acampamentos para pessoas deslocadas, nossas equipes trabalharam para melhorar o abastecimento de água e as instalações sanitárias, construindo latrinas e distribuindo vasos sanitários adaptados para pessoas com deficiência. Também fornecemos kits de higiene e itens de primeira necessidade, como cobertores e materiais de aquecimento, para ajudar as pessoas a suportar o frio do inverno. Além disso, implementamos atividades de vigilância realizadas pela própria comunidade, para facilitar a detecção precoce de necessidades médicas e humanitárias nos acampamentos. 

Após a declaração do surto de cólera, em setembro, nossas equipes criaram e administraram centros de tratamento de cólera e pontos de reidratação e organizaram referências de pacientes. Também melhoramos as instalações de água e saneamento, principalmente nos campos para pessoas deslocadas, e realizamos sessões individuais e em grupo de promoção de saúde. 

Nordeste da Síria 

No Nordeste do país, MSF está respondendo às imensas necessidades humanitárias causadas pelo conflito e pela crise econômica, prestando assistência tanto às pessoas deslocadas internamente quanto às comunidades locais, que têm acesso muito limitado a serviços básicos. 

Ao longo do ano, apoiamos um grande centro de saúde básica na província de Raqqa, oferecendo atendimento de emergência, consultas ambulatoriais e tratamento para doenças não transmissíveis (DNTs).  Respondemos a um aumento do número de crianças desnutridas com a estruturação de um centro de nutrição terapêutica intensiva em Raqqa, junto ao nosso centro ambulatorial. Também apoiamos as autoridades locais de saúde na administração de vacinas de rotina para mulheres e crianças em 12 localidades em Kobanê/Ain Al-Arab. Em 2022, repassamos o programa de vacinação às autoridades locais, mas continuamos fazendo doações durante o ano. 

Em Tal Abyad e Ras Al-Ain, colaboramos com organizações locais para restabelecer os serviços de imunização de rotina e fizemos uma campanha de vacinação contra o sarampo, a poliomielite e oferecendo a vacina pentavalente. Além disso, oferecemos tratamento para leishmaniose e treinamento técnico e doamos suprimentos médicos para instalações de saúde. 

Apoiamos duas clínicas de tratamento de DNTs nos bairros do Sul e do Norte da cidade de Hassakeh. No campo de Al-Hol, em Hassakeh, mais de 53 mil detidos – a maioria crianças – continuam a definhar em condições inseguras e insalubres. Houve vários incidentes violentos no acampamento em 2022, resultando na morte de muitos residentes, além de repetidas interrupções na provisão de assistência humanitária. 

Em Al-Hol, MSF oferece cuidados de saúde básica, tratamento para DNTs e apoio à saúde mental. Apesar de nossos esforços para melhorar a qualidade da água e o saneamento no acampamento, ainda faltam instalações adequadas. A qualidade e o abastecimento de água continuam sendo um problema no Nordeste da Síria. Desde o verão, em meados de 2022, a estação de Alouk sofreu interrupções prolongadas no abastecimento de água, ficando praticamente inoperante e afetando cerca de um milhão de pessoas na província de Hassakeh. Nossas equipes estão monitorando a situação e intervirão onde for possível. 

Durante o ano, respondemos a vários surtos de doenças, incluindo COVID-19, meningite e infecções respiratórias agudas graves. Quando um surto de cólera foi declarado nas províncias de Raqqa e Deir ez-Zor, lançamos uma resposta em parceria com as autoridades de saúde locais, abrindo um centro de tratamento em Raqqa e pontos de reidratação oral em Hassakeh, tratando pacientes com suspeita de cólera e desidratação e encaminhando pacientes com desidratação grave para outras unidades. Além disso, enviamos pessoal extra para a região, incluindo agentes comunitários de saúde, e trabalhamos com outras organizações locais para melhorar a água e o saneamento, clorando caminhões de água, garantindo a qualidade do abastecimento de água e apoiando as estações de tratamento de água com processos de cloração. 

Dados referentes a 2022

185.310.000

litros de água potável distribuídos

33.500

Famílias receberam itens de primeira necessidade

10.700

Consultas individuais de saúde mental

1.017.900

Consultas ambulatoriais

29.400

Pessoas internadas em hospitais

7.700

Intervenções cirúrgicas

102.900

Vacinas administradas em campanhas de rotina

13.900

Partos assistidos, incluindo 3.230 cesarianas

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