“Três laranjas para dizer obrigada”: Paulette Baraka, coordenadora de atividades de saúde mental de MSF, no Mali

Apoio psicossocial à população afetada pela violência é essencial para conter a falta de serviços de saúde mental gratuitos no país.

"Três laranjas para dizer obrigada": Paulette Baraka, coordenadora de atividades de saúde mental de MSF, no Mali

 “Há muito conflito e muitos deslocados na área. As incidências de violência sexual e de gênero são muito comuns, assim como depressão e ansiedade, o que mostra o quanto as pessoas estão estressadas com seu ambiente imprevisível. Quando há violência e pobreza, e as pessoas não podem arcar com suas necessidades básicas, é quando a depressão vem à tona”.

Quando Paulette Baraka chegou em Niono, na região de Ségou, no Mali, viu que o acesso a serviços psicossociais e de saúde mental gratuitos era um dos principais desafios da região. Sua missão como coordenadora de atividades de saúde mental de Médicos Sem Fronteiras (MSF) era avaliar a necessidade de serviços psicossociais e criar uma estratégia para implementar esse cuidado tão necessário. Em seis meses, a equipe foi recrutada e treinada, e MSF começou a oferecer serviços psicossociais no centro de saúde de referência e em cinco outras instalações médicas na comunidade.

Desde 2019, a insegurança na região central do Mali atingiu um nível sem precedentes, com um aumento dos conflitos entre diferentes grupos armados, juntamente ao crescimento da violência entre as comunidades. As necessidades das pessoas afetadas e deslocadas são enormes. Alimentos, água, abrigo e cuidados de saúde são escassos.

Abordagem de terapia cognitivo-comportamental

MSF atualmente oferece suporte em várias regiões do país por meio de clínicas móveis e projetos que oferecem cuidados básicos de saúde, maternos, pediátricos e nutricionais, além de treinamento de agentes comunitários de saúde e um projeto de oncologia em Bamako. Também oferecemos atendimento médico e psicossocial de emergência para pessoas com lesões relacionadas aos conflitos. Pacientes que sofrem de ferimentos à bala são sobreviventes de violência sexual e/ou vítimas do conflito em curso.

“Nossa abordagem foi usar aconselhamento, técnicas de relaxamento e terapia cognitivo-comportamental para ajudar nossos pacientes. Não administrávamos remédios a menos que pensássemos que havia necessidade, e então encaminhávamos os pacientes para outro hospital”, diz Paulette. “Vimos alguns bons resultados e recebemos ótimos comentários de nossos pacientes. Uma delas era uma mãe que havia perdido seu bebê, nós a apoiamos enquanto ela estava no hospital. Três meses depois, ela voltou com três laranjas para agradecer ao membro da equipe que a aconselhou”.

Sonho de trabalhar em MSF retoma passado de Paulette

Para Paulette, trabalhar em MSF foi um sonho que emergiu de uma tragédia pessoal. “Antes de trabalhar para MSF, eu tinha um consultório particular em meu país, Ruanda”, explica ela. “Um dia me encontrei com um colega que me disse que trabalhava para MSF e isso me trouxe de volta a memória de ser uma refugiada em 1994, quando o genocídio estava ocorrendo.

Era adolescente, íamos para MSF e recebíamos um bom tratamento médico. Naquela época, pensei que talvez um dia pudesse trabalhar para MSF e também oferecer serviços aos necessitados. Quando vi meu colega, lembrei do quanto apreciei que pessoas de todo o mundo viessem ao meu país para ajudar refugiados como eu. Então, me inscrevi e segui meu sonho”.

Paulette é apaixonada por compartilhar as histórias das pessoas vulneráveis que ela e sua equipe ajudaram em Niono. “Todos precisam saber o quanto suas contribuições podem e ajudam”, diz ela. “Havia uma mãe jovem que teve problemas de saúde mental no pós-parto e tivemos que encaminhá-la para outro hospital bem longe.

Quando contamos ao marido, ele começou a chorar e disse que não tinha dinheiro para o tratamento dela. Eu falei a ele: ‘MSF está com você. Vamos levar sua esposa ao hospital em nossa ambulância e cuidaremos de toda a sua medicação e alimentação. Nossos serviços são gratuitos’. Eu gostaria que todos pudessem ver o rosto daquele marido e como o rapaz se transformou sabendo que ele e sua esposa foram apoiados”.

 

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