Milhares de pessoas precisam de ajuda urgente nos arredores de Goma, em Kivu do Norte

Após nova onda de violência, população se viu forçada a fugir para acampamentos informais, onde permanece sem abrigo adequado, água e alimentos.

Foto: Moses Sawasawa/MSF

Dezenas de milhares de pessoas saíram, em busca de segurança, para acampamentos informais em Kanyaruchinya e arredores, a 10km ao norte de Goma, na República Democrática do Congo (RDC). Essa população foge dos novos conflitos entre o Movimento 23 de Março (M23) e o exército congolês na região de Rutshuru. É necessária uma resposta urgente dos atores humanitários para atender às enormes necessidades dessas pessoas.

Situada na estrada entre Goma e Rutshuru, Kanyaruchinya já abrigava milhares de deslocados por ondas de violência anteriores nos últimos meses e pessoas afetadas pela erupção vulcânica, em maio de 2021. Suas condições de vida já eram extremamente precárias; a chegada de mais pessoas deslocadas aumentou significativamente as necessidades daqueles que vivem na região.

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“Em apenas alguns dias, vimos milhares de pessoas construírem rapidamente abrigos de galhos e folhas de eucalipto coletados na vegetação ao redor, tudo enquanto está chovendo”, explicou a Dra. Maria Mashako, coordenadora-médica de Médicos Sem Fronteiras (MSF) na RDC. “As famílias só trouxeram consigo suas necessidades quando fugiram. Falta-lhes tudo: cuidados de saúde, abrigo, comida, água e banheiros. Essas necessidades vitais precisam ser atendidas com urgência, a fim de limitar os impactos negativos na saúde dessas pessoas.”

Da ansiedade à angústia

De acordo com as autoridades locais, desde 3 de novembro, pelo menos 74 mil pessoas precisam de ajuda nos arredores de Goma após esses últimos deslocamentos em massa. Continua a ser muito difícil saber exatamente quantas pessoas chegaram nos últimos dias, já que as chegadas foram tão numerosas quanto repentinas.

Foto: Moses Sawasawa/MSF

“Alguns locais aonde vamos regularmente estavam vazios apenas duas semanas atrás e agora estão totalmente cheios. A julgar pelo que podemos ver, a população de Kanyaruchinya parece ter triplicado em um fim de semana”, descreveu a Dra. Mashako. As famílias recém-chegadas se estabeleceram onde puderam, inclusive em escolas, levando a uma coabitação improvisada entre estudantes e deslocados.

“Caminhamos por mais de 15 horas para chegar até Kanyaruchinya. Agora estamos aqui com nossos vizinhos atrás da escola em Mugara, sem nada”.
– Jean-Claude, que fugiu dos combates na região de Rugari.

O novo vizinho de Jean-Claude, Justin, que também chegou recentemente com sua família de Kibumba, resumiu com tristeza a situação: “Fugimos da ansiedade e encontramos aqui angústia”.

Enormes necessidades

No centro de saúde de Kanyaruchinya, que é apoiado por MSF, o número de consultas aumentou drasticamente de, em média, 80 por dia em outubro para 250 agora. Para responder a essas crescentes necessidades médicas, MSF reforçará seu apoio à equipe médica do centro para permitir que eles aumentem suas capacidades e continuem a receber pacientes 24 horas por dia.

MSF tem apoiado o centro desde julho, para permitir a prestação de cuidados de saúde gratuitos e de qualidade para pessoas deslocadas, incluindo aquelas que se deslocaram por conta da erupção vulcânica e todos os moradores da área. Infecções respiratórias, diarreia e infecções de pele são as doenças mais comuns tratadas pela equipe. Desde julho, mais de 10 mil consultas foram realizadas no centro de saúde, das quais mais de dois terços foram para pessoas deslocadas.

Foto: Moses Sawasawa/MSF

Diante da grave falta de atores humanitários presentes nos últimos meses, MSF também tem fornecido água para a população deslocada em vários locais nas áreas de saúde de Munigi e Kanyaruchinya.

“Os acampamentos lotados e as más condições higiênicas dentro deles significam que doenças transmitidas pela água, como a cólera, provavelmente se espalharão, bem como outras doenças epidêmicas. Desde o fim de semana de 29 a 30 de outubro, dobramos nossas distribuições de água potável. Estamos agora fornecendo 200 mil litros de água por dia em mais de dez locais. Apesar disso, nossa ação é limitada quando comparada ao tamanho das necessidades”, disse a Dra. Mashako.

Abrigar as pessoas o mais rápido possível

A intensificação das chuvas nas últimas semanas acentuou as precárias condições de vida das pessoas deslocadas, expondo-as a doenças como infecções respiratórias e malária. Permitir que elas tenham acesso a abrigo adequado é, portanto, uma prioridade. A falta de alimentos também é preocupante. Sem acesso aos seus campos e sem uma fonte de renda, a maioria das famílias depende da ajuda humanitária para se alimentar.

Além disso, as pessoas deslocadas, especialmente as mulheres, enfrentam o risco de violência.

“Desde o início de nosso trabalho em Kanyaruchinya, tratamos cerca de 120 sobreviventes de violência sexual, dos quais mais de 80% eram pessoas deslocadas”.
– Dra. Mashako, coordenadora-médica de MSF na RDC.

“A maioria vem ao centro dentro de 72 horas e nos diz que foram atacados na estrada enquanto procuravam comida e madeira para fazer fogueiras e se aquecer”, explica a Dra. Mashako. “Neste momento, é crucial que as promessas que outros atores humanitários fizeram se transformem em intervenções concretas, incluindo atores no campo da proteção, e que venham a ajudar essas pessoas em necessidade.”

Além da área de Nyiragongo, as equipes de MSF também estão presentes em Rutshuru, Binza, Kibirzi e Bambo, no território de Rutshuru, onde continuam a oferecer assistência médica vital à população local, além de avaliar a melhor forma de responder às necessidades das pessoas recém-deslocadas.

Os confrontos intermitentes entre o exército congolês e o M23, desde o final de março de 2022, já haviam forçado pelo menos 186 mil pessoas a fugir de suas casas. Agora, dezenas de milhares de pessoas foram adicionadas a esse número.

 

 

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