Um dia de estagiária na República Centro-Africana

Arquiteta brasileira se surpreende trabalhando com profissionais locais

24/09/2015 – Hoje, eu estou em meio a um pequeno hiato no trabalho. Ontem, enviei as plantas do projeto de reforma e expansão para o Hospital Regional Universitário de Bangassou, na República Centro Africana em autocad para o escritório MSF de Bruxelas, para que eles possam validar os desenhos com os responsáveis envolvidos. Amanhã devo receber os comentários para revisões. Como não adianta avançar com o projeto antes dos comentários, resolvi viver um dia de estagiária com um outro colega, responsável pela finalização dos centros de saúde nos arredores de Bangassou. Ele já trabalha com MSF há oito anos, e entre tantos projetos fez a construção do hospital Tabarre de MSF no Haiti. Ou seja, tenho muito o que aprender com ele.

Fomos ao centro de saúde de Yongofongo, um dos três postos de saúde que o projeto MSF de Bangassou apoia. Ele fica a 25 km de Bangassou, o que significa uma hora de carro em estrada de terra. Hoje, a clínica funciona em um prédio pequeno, com uns 70m² e mais duas tendas de atendimento. Estamos construindo mais um prédio de 70m² e, depois que esse prédio estiver finalizado, vamos reformar o existente, para, então, excluirmos as tendas.

A obra está bastante avançada. O carpinteiro estava finalizando a instalação das esquadrias e o pintor ia começar a trabalhar. Foi interessante acompanhar meu colega para ver como ele lida com os construtores e o nível de exigência que temos que ter, além de enriquecer meu vocabulário técnico em francês. Aqui não temos muitas construções como estamos acostumados, então a mão de obra disponível não tem muita experiência e a qualidade do serviço pode ser abaixo do esperado. Para muitos espaços isso não é problemático, mas, em alguns ambientes, como salas de operação ou de tratamento intensivo, a qualidade de execução dos revestimentos interfere diretamente na manutenção e higiene do local e, por consequência, na saúde do paciente. Ainda acho complicado saber o limite do aceitável e essa visita foi boa para esclarecer alguns pontos. Confesso que cheguei aqui com uma imagem um tanto preconceituosa com o nível de conhecimento dos mestres de obra, que são os responsáveis por gerenciar o canteiro de obras no dia a dia. Achava que eles não entenderiam os desenhos, que seria supercomplicado explicar o que deve ser feito. Mas qual não foi minha surpresa ao ver o mestre de obras de Yongofongo fazendo plantas baixas e vistas das bancadas do laboratório que deveriam ser feitas de concreto e revestidas de azulejos. Queria ter perguntado como ele aprendeu a desenhar, mas com meu francês falho acabei ficando com vergonha. Sei que algumas organizações já trabalharam na região dando cursos profissionalizantes. Será que foi assim que ele aprendeu? Se tiver outra oportunidade, vou perguntar.

Esse foi meu dia. Além de todo conhecimento técnico que pude absorver hoje, aprendi a não subestimar a capacidade das pessoas de vencer aos desafios que a vida nos apresenta.

Beijos,

Vivi

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