À espera de um inimigo invisível

A médica Mariana Valente fala sobre sua experiência na resposta à COVID-19 no Brasil

À espera de um inimigo invisível

Durante a pandemia de COVID-19 no Brasil, atuei como médica em três estados por sete meses no total; os primeiros cinco em Roraima e os outros dois divididos entre Goiás e Mato Grosso do Sul. Em Roraima, trabalhei principalmente no atendimento direto de pacientes brasileiros e migrantes venezuelanos em um posto de saúde na capital do estado, Boa Vista, e atendendo em clínicas móveis a população que se encontra em situação de rua ou vive em moradias irregulares.

Em Goiás éramos uma equipe de quatro profissionais. Nosso propósito era promover cuidados de controle e prevenção de infecções junto às equipes que trabalham nos postos de saúde e nos hospitais no interior do estado. Contribuímos para ajudá-las a relembrar alguns cuidados de prevenção e controle de infecções que às vezes são esquecidos. Em alguns lugares, as sessões promovidas por Médicos Sem Fronteiras (MSF) foram o primeiro momento em que os profissionais locais puderam conversar sobre a pandemia e a COVID-19.

Já no Mato Grosso do Sul, nossa equipe variava entre quatro e seis pessoas e tínhamos dois focos de cuidados: o de controle e prevenção de infecções e o de saúde para pacientes de COVID-19 que precisam de cuidados no hospital, fosse na emergência ou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

O fato de ser uma doença nova foi com certeza nosso maior desafio, pois as regras para uso dos equipamentos apropriados para o atendimento dos pacientes mudavam a cada dia. Outro desafio foi entender os tempos próprios da pandemia. Em um momento não sabíamos se ela chegaria, quando viria e como viria. Foi a espera por um inimigo invisível. Tudo parecia normal até o hospital ficar lotado.

Também precisei me desdobrar em diferentes funções. Dada a rapidez com que tínhamos que nos adaptar, nessa resposta de emergência fui médica, mentora, líder de equipe e até gerente de finanças. Mesmo com tudo isso, o trabalho foi ótimo. A resposta à COVID-19 me deu a oportunidade de trabalhar no Brasil em uma emergência humanitária com MSF. Tive de lidar com níveis elevados de estresse e me tornar mais resiliente. Como líder de equipe, as minhas responsabilidades aumentaram e entrei em contato com um outro lado do trabalho da organização, que é o de suporte à equipe médica.

 

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