Terremoto na Turquia: “É importante ser adaptável nessa resposta, dada a magnitude do desastre”

O coordenador de logística Ricardo Martínez, líder de uma das primeiras equipes de emergência de MSF a chegar na Turquia após os terremotos de 6 de fevereiro, descreve a situação na cidade de Adiyaman.

Em colaboração com a Associação Médica Turca, equipe de Médicos Sem Fronteiras realiza doação de itens essenciais em Adiyaman, no sul da Turquia. Foto: Igor Barbero/MSF

“Fui para o sul da Turquia logo após os terremotos, como parte da primeira equipe de emergência enviada por Médicos Sem Fronteiras (MSF). Ao contrário da Síria, onde estamos atuando desde o início da guerra, na Turquia não estabelecemos atividades na área afetada.

A primeira coisa que fazemos nessas situações é identificar os lugares mais negligenciados, onde a assistência é menor, e avaliar as necessidades das pessoas. Também contatamos as autoridades e organizações locais para ver como podemos oferecer o nosso apoio.

Decidimos ir para a cidade de Adiyaman. A estrada mais direta do aeroporto mais próximo havia sido danificada pelos terremotos, então percorremos o caminho mais longo.

Chegando à cidade, que tinha quase 300 mil habitantes antes da catástrofe, minha primeira impressão foi de caos. As equipes de busca e resgate trabalhavam sem parar para encontrar sobreviventes. As pessoas estavam se revezando na espera ao lado de edifícios desmoronados, na esperança de encontrar seus entes queridos vivos, ou pelo menos encontrar seus corpos para que pudessem ter um enterro digno e não serem levados para uma sepultura comum.

Em Adiyaman, centenas de edifícios foram completamente destruídos. Uma proporção significativa da cidade está gravemente danificada, enquanto muitos dos edifícios restantes têm rachaduras e outros problemas. Tratores estão removendo toneladas de escombros. As autoridades estão inspecionando os edifícios que ainda estão de pé. As pessoas têm muito medo de voltar para suas casas porque ainda há tremores secundários de vez em quando, portanto ninguém nesta cidade está em suas casas neste momento.

Um prédio danificado pelo terremoto na cidade de Adiyaman, no sul da Turquia. Igor Barbero/MSF, 2023.

Muitos acampamentos informais para pessoas deslocadas surgiram em espaços abertos, como estádios, praças e no meio das ruas. Alguns dos acampamentos são grandes, mas em sua maioria são relativamente pequenos. Há tendas espalhadas por quase todos os cantos da cidade, longe dos edifícios, mas não muito longe das casas dos sobreviventes. Muitas pessoas estão dormindo em seus carros para se protegerem do frio. Estamos no meio do inverno e as temperaturas aqui podem chegar a 10 graus abaixo de zero durante a noite.

Atualmente, Adiyaman é uma cidade fantasma. Há pouco movimento: apenas alguns postos de gasolina estão abertos; bancos, empresas e quase todas as lojas estão fechadas.

Parte da população da cidade, especialmente a parcela com mais recursos econômicos, partiu em seus carros; o governo também facilitou as viagens de ônibus, avião e trem das cidades afetadas para lugares como Istambul, Ancara e Antalya. Muitas outras pessoas optaram por ir para as áreas rurais ao redor das cidades. A destruição por lá tem sido menor, mas com as pessoas desabrigadas chegando de outros lugares, eles também precisam de assistência humanitária. Nos vilarejos e pequenas cidades, é comum ver 20 ou 30 pessoas vivendo em casas de poucos cômodos.

As pessoas estão tristes e desesperadas; elas estão ansiosas e incertas sobre o futuro. Muitos estão revivendo suas experiências em suas mentes e acreditam que isso poderia acontecer novamente.

Apesar de uma resposta significativa das autoridades e da sociedade civil turca, a assistência oferecida é pequena em comparação à magnitude da situação. No momento, as pessoas realmente precisam de abrigo, vasos sanitários, chuveiros, água, sistemas de aquecimento, roupas de inverno, geradores, cobertores, kits de higiene e produtos de limpeza.

Não estamos registrados na Turquia, portanto estamos trabalhando por meio de várias ONGs e grupos locais da sociedade civil para fornecer a assistência mais urgente necessária. Isso inclui a doação de itens essenciais de ajuda, fornecimento de transporte para levar pessoas a clínicas móveis na periferia de Adiyaman e a geração de energia em dois acampamentos para pessoas deslocadas.

Em breve nossas equipes irão começar a fornecer apoio em saúde mental, o que é crucial dado o sofrimento que as pessoas têm experimentado, e planejamos criar farmácias móveis e pontos de ajuda. Esperamos fazer muito mais e contribuir com nossa experiência em situações de emergência. É importante ser adaptável nessa resposta, dada a magnitude do desastre e a rápida mudança da situação“.

 

 

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