MSF alerta sobre o impacto sanitário e humanitário das mudanças climáticas

Por anos, MSF tem observado o impacto das mudanças climática em nossas atividades médico-humanitárias de emergência.

Foto por: Pablo Garrigos / MSF

Médicos Sem Fronteiras (MSF) está prestando muita atenção ao impacto que a mudança climática terá sobre pacientes e nossas atividades médico-humanitárias de emergência. Já estamos respondendo a muitas das crises mais graves do mundo – conflitos, desastres, epidemias, deslocamentos – e estamos testemunhando as consequências e os impactos ampliados que as mudanças climáticas e a degradação ambiental podem ter sobre pessoas extremamente vulneráveis.

Em um novo informe humanitário para o relatório The Lancet Countdown 2021 sobre Saúde e Mudanças Climáticas, profissionais humanitários de MSF ao redor do mundo e de todas as áreas compartilham suas experiências sobre como as mudanças climáticas podem estar intensificado as crises humanitárias e de saúde, como o aumento da transmissão de doenças infecciosas como malária, dengue e cólera; o impacto da escassez de água e da insegurança alimentar levando à desnutrição; os impactos da exposição ao calor levando à desidratação aguda; os impactos na saúde mental devido a eventos climáticos extremos, dentre outros impactos.

“As equipes de MSF são profissionais médico-humanitários, não cientistas climáticos – mas após anos testemunhando diretamente como a mudança climática agravou crises sanitárias e humanitárias em diversos contextos onde atuamos, precisamos falar sobre o que vemos”, disse Carol Devine, conselheira para assuntos humanitários e líder de inteligência climática de MSF.

Assista ao nosso vídeo sobre Emergência climática e Saúde Planetária.

A seguir estão alguns trechos do informe humanitário de MSF no relatório Lancet Countdown 2021:

Mudanças climáticas, instabilidade e desnutrição na Somália

Ao longo de duas décadas de conflito, a instabilidade política e as condições climáticas extremas levaram a uma das crises humanitárias mais prolongadas do mundo na Somália. Enchentes intensas e frequentes, secas e enxames de gafanhotos comprometeram a segurança alimentar e diminuíram os meios de subsistência da população. Isso aumentou a competição por recursos escassos, agravando as tensões existentes e afetando as pessoas mais marginalizadas.

O impacto mais significativo das mudanças climáticas se manifesta como desnutrição entre as crianças. Se as mudanças climáticas continuarem conforme projetado, MSF alerta que a diminuição da produção de alimentos e a redução da qualidade nutricional de algumas culturas de cereais podem aumentar o risco de desnutrição, sendo as crianças geralmente as mais afetadas.

Em resposta, MSF administra um programa de combate à fome no sul da Somália, que visa prevenir e tratar a desnutrição aguda durante a estação de escassez por meio de vigilância ativa, triagem e atendimento ambulatorial. Nas regiões de Gedo e Baixo Juba, iniciamos três respostas de emergência para tratar crianças com desnutrição aguda grave e abordar a escassez crítica de água.

“Mais pessoas estão se movendo em busca de comida e água, embora o risco da COVID-19 permaneça e um surto de sarampo continue inabalável em Dhobley e Kismayu. Comunidades pastoris também são afetadas, pois perderam o rebanho que, segundo consta, morreu de sede devido à falta de água”, Mohamed Ahmed, coordenador do projeto de MSF em Jubalândia, no extremo sudoeste da Somália, falou sobre a situação em abril de 2021.

Sistema de saúde danificado devido ao desastre climático em Honduras

No final de 2020, quando os furacões Eta e Iota atingiram a América Central em rápida sucessão, mais de 120 centros de saúde em Honduras foram danificados ou destruídos – alguns simplesmente desaparecendo em meio à lama. Dois milhões de pessoas ficaram com acesso limitado ou nenhum acesso a cuidados.

No entanto, mesmo antes das tempestades, o sistema de saúde no país já estava sob uma pressão considerável. Os hospitais enfrentaram dificuldades para acomodar os pacientes de COVID-19, enquanto um surto de dengue impulsionado por mosquitos resistentes a inseticidas surgia como resultado de esforços mal implementados de controle de vetores.

Para resolver isso, MSF implementou medidas para aumentar a resiliência do sistema de saúde às ameaças relacionadas ao clima em Honduras. Isso incluiu atividades de controle de vetores e um sistema de vigilância da dengue para prevenir surtos, que colocam pressão adicional no sistema de saúde.

“Nós dormimos nos campos. Suportamos fome e noites sem dormir. No abrigo em Coatzacoalcos [na Cidade do México], nos disseram que ele estava fechado. Tenho medo de ficar na rua porque tudo pode acontecer conosco. Tenho medo de que meu filho seja tirado de mim. Eu não durmo porque enquanto meu filho dorme, eu fico de guarda”, conta Kimberly, uma mulher hondurenha que perdeu sua casa e seus pertences nos furacões enquanto migrava pelo México com parentes.

Fornecendo assistência médica com energia solar no Baluchistão, Paquistão

Em quatro distritos de Baluchistão, Paquistão, MSF apoia unidades de saúde que atendem a mais de 12 mil mulheres grávidas e aproximadamente 10 mil crianças desnutridas a cada ano. No entanto, os frequentes cortes de energia e o aumento das temperaturas no verão tornam difícil manter a temperatura baixa para pacientes, profissionais de saúde e para a preservação de medicamentos. Este é um desafio devido aos frequentes cortes de energia e temperaturas que podem chegar a 50 graus Celsius no verão.

Para resolver isso, MSF instalou sistemas de painel solar nas instalações que apoia em Dera Murad Jamali, Chaman e Kuchlak. Suplementados por rede ou gerador de eletricidade, esses sistemas fornecem energia ininterrupta para iluminação, ar-condicionado e ventiladores, e bombeamento de água e resfriamento, evitando ao mesmo tempo mais de 50 mil kg de emissões de carbono por ano.

“Como médicos, nosso trabalho não é apenas tratar as pessoas, mas também prevenir a ocorrência de doenças futuras. Não devemos criar problemas para amanhã enquanto tentamos resolver os problemas de saúde de hoje”, afirma a dra. Monica Rull, diretora médica de MSF.

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