Somalilândia: MSF repassa projeto contra tuberculose multirresistente a medicamentos ao Ministério da Saúde

Depois de quatro anos do projeto, taxas de mortalidade e cura da doença melhoraram.

Tetiana Gaviuk/MSF, 2023

Quando Mohamed, de 9 anos de idade, adoeceu, suando muito durante a noite e tossindo, sua mãe, Sabah, o levou para o hospital mais próximo. O menino foi mal diagnosticado, e os medicamentos que lhe foram prescritos não tiveram efeito. “Receitaram alguns medicamentos injetáveis, mas eles não funcionaram”, lembra Sabah. “Ele não estava melhorando.”

Sabah levou Mohamed para outro hospital, onde outros medicamentos foram receitados, novamente sem efeito. “Eu não podia pagar pelo transporte, então tive que caminhar por todos os lugares procurando por hospitais e medicamentos prescritos”, recorda. “Foi um momento difícil.”

Foram necessários três meses para que Mohamed finalmente fosse diagnosticado corretamente com tuberculose multirresistente a medicamentos (MDR-TB, na sigla em inglês).

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Diagnosticar pacientes com MDR-TB e iniciar o tratamento em tempo hábil, sobretudo em crianças, têm sido grandes desafios para o sistema de saúde da Somalilândia, que dispõe de poucos recursos.

“O diagnóstico de tuberculose em crianças é particularmente desafiador”, diz Abdinur Hashi, referente médico de MSF na Somalilândia. “É difícil coletar a secreção nasal das crianças, e as ferramentas de diagnóstico disponíveis têm sensibilidade limitada”, completa.

 

“A tuberculose multirresistente a medicamentos é comum na Somalilândia, e ter o diagnóstico correto é fundamental para garantir que os pacientes recebam o tratamento certo desde o início”.

Abdinur Hashi, referente médico de MSF na Somalilândia.

 

Sabah sentiu alívio quando Mohamed foi finalmente diagnosticado corretamente. Mas ela também sabia que o tratamento não seria fácil, o que a preocupava muito.

A tuberculose, incluindo as formas resistentes aos medicamentos, é uma doença bacteriana que pode ser prevenida e curada, mas o tratamento pode ser longo e árduo. As bactérias se espalham através de gotículas no ar, de modo que os pacientes com qualquer forma de tuberculose precisam se isolar dos outros até que o tratamento seja concluído. Esse processo, geralmente, tem duração de seis a 20 meses, mas pode levar ainda mais tempo. Além disso, os medicamentos de combate à tuberculose podem, por vezes, provocar efeitos colaterais graves.

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No início, Mohamed estava com medo de iniciar o tratamento no hospital de Hargeisa. “Tive que tomar muitos comprimidos”, diz ele. Mas, com o tempo e o apoio de um psicólogo, Mohamed se adaptou ao tratamento e até fez amizade com pacientes adultos no complexo hospitalar.

Para Sabah, lidar com a doença prolongada do filho, além de todas as suas outras responsabilidades, se revelou um desafio prático e psicológico.

“Foi um momento muito delicado para mim”, diz Sabah. “Tenho mais seis filhos em casa e um marido doente. Quando estava no hospital com Mohamed, pensava nos meus filhos em casa. Quando estava em casa, pensava em Mohamed.”

O apoio psicossocial para pacientes com tuberculose e seus cuidadores é fundamental para ajudar os doentes a seguir o tratamento até o final.

Hospital em Hargeisa para tratamento de pacientes com tuberculose multirresistente a medicamentos. Foto: Tetiana Gaviuk/MSF

 

Fim da resposta de MSF e transferência para o Ministério da Saúde

 Desde 2019, MSF apoia o Ministério da Saúde da Somalilândia para melhorar a identificação e o diagnóstico de casos, e fornecer atendimento holístico a 198 pacientes com MDR-TB no hospital geral de Hargeisa e em três centros regionais de tuberculose – em Borama, Barbera e Burao.

Nos últimos quatro anos, foram feitos progressos significativos na melhoria da qualidade do atendimento para pacientes com MDR-TB. As taxas de mortalidade diminuíram e as taxas de cura melhoraram. No entanto, é necessário intensificar os esforços para conscientização sobre a tuberculose, que continua sendo uma doença amplamente desconhecida ou incompreendida, sobretudo nas zonas rurais da Somalilândia.

“Tive sintomas por quatro anos”, diz Omar, um paciente com MDR-TB no hospital Hargeisa. “Não sabia o que eu tinha, mas sentia muita vergonha e não procurei atendimento médico. Um dia, estava escutando o rádio quando ouvi falar de tuberculose. Foi quando percebi que essa poderia ser a doença que eu tinha.”

Depois que Omar foi diagnosticado com tuberculose, ele passou seis meses em tratamento e foi para casa se sentindo melhor. Mas os sintomas voltaram. Dessa vez, Omar tinha desenvolvido resistência a vários medicamentos e teve que recomeçar o tratamento.

“Se eu soubesse antes o que sei agora sobre a tuberculose, teria procurado tratamento mais cedo”, diz ele.

Com progressos significativos alcançados na melhoria da qualidade dos cuidados prestados aos pacientes e com as necessidades de saúde agora em um nível mais controlável, MSF está entregando seu projeto de MDR-TB ao Ministério da Saúde, que continuará a identificar casos de tuberculose, a aprimorar a compreensão sobre a doença e a cuidar da recuperação dos pacientes.

 

 

 

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