Grécia: em Atenas, sobreviventes de tortura recebem cuidado especializado

No dia internacional de apoio às vítimas da tortura, chamamos a atenção para as consequências psicológicas dos que sofrem esse trauma

Grécia: em Atenas, sobreviventes de tortura recebem cuidado especializado

Em 2014, Médicos Sem Fronteiras (MSF) abriu uma clínica para Vítimas de Tortura (VOT) em Atenas, na Grécia, em colaboração com os parceiros locais BABEL Day Center e o Conselho Grego para Refugiados. Reconhecendo a alta incidência de tortura entre a população migrante e refugiada e sua necessidade crítica de reabilitação, o projeto cuidou de mais de 430 pessoas nos últimos 3 anos.

“A tortura apaga a natureza humana – ela se apodera do ser humano por completo”, explica a psicóloga Eleftheria Zerva. “Não é apenas um pesado fardo na saúde mental do sobrevivente; é toda sua autoestima e habilidade de funcionar em sociedade”.

Essa clínica especializada, na diversificada vizinhança de Kypseli, adota uma abordagem holística para a reabilitação de sobreviventes de tortura, oferecendo cuidados de saúde, psicoterapia, cuidados de saúde mental, serviço de assistência social e acesso ao processo de pedido de asilo.

Com o fechamento da rota pelos Balcãs e a implementação do acordo entre União Europeia e Turquia em março de 2016, 60 mil refugiados se viram presos nas ilhas gregas e no território continental grego. Vivendo frequentemente isolados e em condições difíceis, muitos aguardaram por mais de um ano para saber sobre seu status de asilo, o que apenas agravou seu estado de saúde mental. Mais que isso, como resultado do acordo bilateral, aqueles que estão nas ilhas correm agora o grave risco de serem deportados para a Turquia. Essa ameaça é sentida intensamente pelos sobreviventes de tortura.

Identificação e assistência inadequadas para os sobreviventes de tortura         

“Quando saí da prisão, sentia medo de tudo”, diz um sobrevivente de tortura sírio com sequelas em decorrência de eletrochoques. “Tinha medo de apertar a mão de alguém achando que a pessoa iria me bater… Até agora não consigo dormir, tenho pesadelos. A tortura me afetou tanto por fora quanto por dentro”.

Muitos sobreviventes de tortura, alguns sendo identificados como vulneráveis e outros não, continuam presos nas ilhas, longe dos cuidados médicos apropriados que precisam receber em Atenas. Outros sobreviventes de tortura, que se mudaram para a Grécia continental sem permissão, encontram-se também em um limbo, sem poder dar prosseguimento ao seu pedido de asilo. O sistema de asilo nebuloso e as principais barreiras para o acesso a serviços básicos em Atenas e em todo o país apenas aumentam o seu sofrimento.

A urgência agora é fazer uma checagem médica completa quando as pessoas chegam às ilhas, de forma a identificar aquelas que precisam de assistência médica e social. Essas pessoas vulneráveis, incluindo as vítimas de tortura, precisam ser imediatamente transferidas para o continente e passar por uma
reabilitação, incluindo acesso a serviços médicos, sociais e legais. Aumentar a conscientização de membros da comunidade, tomadores de decisão e profissionais de saúde sobre a recorrência da tortura entre os migrantes e refugiados é, portanto, imperativo na Grécia e na Europa.

“A cicatriz será sempre uma cicatriz, ela nunca será apagada”, diz a doutora Anastasia Papachristou. “Mas ela pode se tornar sua marca registrada, o que distingue você do restante das pessoas”.     

MSF atua em Atenas, na região de Ática e na Grécia central, Lesbos, Samos, Epiro e na área de Salônica, focando principalmente em vítimas de tortura, nos cuidados de saúde mental, nos cuidados de saúde sexual e em tratamentos para pacientes com doenças crônicas.
 

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