“Fugimos para o Sudão por causa da guerra, mas a situação agora também é difícil”

Sudão, agora em intenso conflito, acolhe mais de 1 milhão de refugiados que fugiram da violência em países vizinhos.

Intensos conflitos começaram no Sudão no dia 15 de abril, afetando a capital, Cartum, e outros estados. Em meio à violência, Médicos Sem Fronteiras (MSF) decidiu permanecer no país e apoiar as pessoas que necessitam de assistência.

O Sudão acolhe mais de 1 milhão de refugiados de países vizinhos, como o Sudão do Sul e a Etiópia, que fugiram da violência em busca de abrigo seguro. Infelizmente, eles agora se encontram presos em outro conflito, o que dificulta ainda mais a capacidade de lidar com a situação.

Os conflitos em curso no Sudão resultaram em uma crise de deslocamento, aumentando as dificuldades das comunidades em circunstâncias vulneráveis que precisam de assistência humanitária. De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), o número de pessoas deslocadas internamente dobrou em uma semana, chegando a 700 mil no total, e se soma a cerca de 3,7 milhões de pessoas que já estavam deslocadas no Sudão antes da atual crise.

Como estamos respondendo

Nossas equipes estão fornecendo cuidados médicos urgentes a feridos em Darfur do Norte, doando suprimentos médicos a instalações de saúde e prestando cuidados de saúde em Cartum. Continuamos a fornecer serviços de saúde primários e secundários em Darfur Ocidental, Darfur Central e no estado do Nilo Azul. Também realizamos atividades de emergência no estado de Al-Jazeera.

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Além disso, MSF manteve seus esforços para atender comunidades em situação de vulnerabilidade, incluindo refugiados de países vizinhos que se viram presos em outra onda de violência. No estado de Al-Gederaf, nossas equipes continuam prestando assistência médica a refugiados etíopes e comunidades locais nos campos de refugiados de Tinedba e Um Rakuba.

Nos últimos anos, no campo de Um Rakuba, oferecemos cuidados médicos essenciais, incluindo serviços de saúde sexual e reprodutiva e de saúde mental, além de fornecer encaminhamentos para instalações de saúde que atendem casos mais complexos. Também realizamos atividades de promoção da saúde, advocay e preparação para emergências.

“Fugimos para o Sudão por causa da guerra, mas a situação agora também é difícil. Eu não posso comprar medicamentos”.
– Moulay Alm Asmlash, refugiado no acampamento de Um Rakuba.

Moulay Alm Asmlash é um pai de 53 anos que chegou ao campo de Um Rakuba em 2020 como refugiado. Ele sofria de diabetes há muito tempo e foi ao hospital de MSF para buscar tratamento e medicação. Felizmente, Moulay encontrou o que precisava e, desde então, ele e sua família recebem atendimento regular no hospital de MSF.

“No outono passado, minha filha ficou doente com malária e recebeu tratamento de MSF. Agora, a maioria das organizações parou de fornecer serviços por causa da violência e dos confrontos. Estamos com medo”, ele diz.

“Fugimos para o Sudão por causa da guerra, mas a situação agora também é difícil. Eu sempre penso no meu tratamento e temo que MSF possa ser forçada a deixar o campo por causa dessas circunstâncias violentas. Eu não posso comprar medicamentos”, acrescenta Moulay Alm Asmlash.

Moulay Alm Asmlash com a família. Foto: MSF

Impactos dos conflitos em curso

Devido aos recentes conflitos, nossas atividades no acampamento de Um Rakuba foram impactadas por problemas de fornecimento e, consequentemente, os critérios de admissão nos serviços médicos foram restringidos. O foco mudou para atividades de emergência vitais, principalmente para pediatria, desnutrição e maternidade.

“Estamos comprometidos em continuar fornecendo cuidados médicos aos refugiados e às populações locais no campo de refugiados de Um Rakuba. Acabamos de receber notícias de recém-chegados na região e, portanto, estaremos prontos para adaptar nossa resposta com base nas principais necessidades de emergência”, diz Francesca Arcidiacono, coordenadora-geral de MSF no Sudão.

“Na semana passada, eu estava no acampamento e no hospital. Ao falar com os refugiados, ficou claro que eles têm medo do futuro. Eles se sentem presos, não podem viajar. Eles mencionaram uma redução das atividades humanitárias, escassez de suprimentos e muita incerteza sobre o que está por vir”, conclui ela.
“Quando os confrontos começaram em Cartum, todo o abastecimento de medicamentos e produtos alimentícios foram interrompidos na maioria dos estados do Sudão”, conta Mohamed Omar Mohamed, coordenador do projeto de MSF no acampamento de refugiados em Um Rakuba.

“Houve também um grande deslocamento de famílias que vivem em Cartum para outros estados, incluindo Al Gedaref, o que aumentou a pressão sobre as instituições médicas e de saúde, além do aumento dos preços e da inflação no mercado”, completa ele.

Crianças e mulheres estão particularmente vulneráveis

Crianças e mulheres ficaram particularmente vulneráveis depois que foram forçadas a fugir da violência em seus países de origem para o Sudão. Stom Abdulrahman, refugiada, diz que precisa dos serviços prestados por MSF no acampamento de Um Rakuba.

“Eu sofri muito para ir a alguns hospitais para receber atendimento, especialmente porque não podemos arcar com os custos do tratamento. Fui ao hospital de MSF no campo de Um Rakuba e recebi tratamento e cuidados de saúde (exames, consultas e medicamentos). Todos os nossos vizinhos levam seus filhos para o hospital de MSF”, conta Stom Abdulrahman.

“A equipe de promoção da saúde de MSF me visita regularmente e me fornece informações sobre limpeza, saneamento ambiental e prevenção de doenças. Agradeço a todos por ajudarem a mim e ao meu marido a receber tratamento”, completa ela.

Stom Abdulrahman e o marido. Foto: MSF

 

As instalações médicas apoiadas por MSF continuam a oferecer serviços de saúde em El Fasher e no campo de Zamzam (Darfur do Norte), em Kreinik (Darfur Ocidental), em Rokero e Umo (Darfur Central), em Cartum, em Al-Jazeera, em Um Rakuba e Tinedba (El-Gedaref) e em Ad-Damazin (estado do Nilo Azul). Também fizemos doações para instalações de saúde em Cartum. Estamos administrando clínicas móveis e distribuímos kits de higiene, alimentos básicos e itens essenciais em Wad Madani. Continuamos trabalhando para ampliar nossa resposta no Sudão.

 

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