“Encontrar pessoas do meu país me deu satisfação por saber que pude ajudar minha comunidade”

Em Histórias de MSF, Adrián León, venezuelano que atuou como profissional de serviços gerais compartilha sua experiência em projeto para migrantes no Peru.

Adrián León, profissional de serviços gerais de MSF na clínica em Tumbes, Peru. © Lisa Mena/MSF

Adrián Léon teve que deixar a Venezuela, seu país de origem, em busca de melhores condições de vida. No Peru, ele viu em Médicos Sem Fronteiras (MSF) não apenas um meio de garantir seu sustento, mas também a oportunidade de ajudar para que outros migrantes recebessem assistência.
Atuando como profissional de serviços gerais no projeto de MSF que fornece cuidados de saúde essenciais a migrantes em Águas Verdes, na cidade de Tumbes, ele encontrou pessoas próximas e até familiares que vieram à nossa clínica em busca de atendimento médico após percorrer longas e perigosas travessias.

Aqui, ele compartilha sua experiência e momentos marcantes de sua atuação:

“Em 2019, deixei o estado de Zulia, na Venezuela, com o objetivo de chegar a Lima, capital do Peru. No entanto, devido às circunstâncias da vida, não pude seguir viagem e fiquei na cidade de Tumbes. Como o clima é parecido com o da minha cidade natal, decidi tentar viver aqui e, felizmente, me adaptei bem.

No meu país, eu era advogado. Para me formar e pagar pelo meu curso, trabalhei como profissional de limpeza em um centro de saúde. Quando cheguei ao Peru, depois de ter trabalhado como garçom e ajudante de cozinha, vi uma vaga de emprego para profissional de serviços gerais em MSF e me candidatei.

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Felizmente, fui aprovado para a função. Minhas responsabilidades incluíam garantir práticas de higiene adequadas no posto de saúde em Águas Verdes, fornecer suprimentos médicos básicos para a equipe, e distribuir kits de alimentos e lanches para os migrantes.

Adrián León durante atividade na clínica de Tumbes, no Peru. © Lisa Mena/MSF

 

Enquanto eu observava os venezuelanos chegarem à nossa clínica, surgiram lembranças de quando cheguei aqui. A verdade é que nem todos têm as mesmas oportunidades na vida. Eu tive a sorte de poder pagar pelo transporte, mas há pessoas que não têm dinheiro e precisam caminhar. Testemunhar essas pessoas fazendo a viagem a pé foi uma experiência humilhante.

Enquanto trabalhava na clínica, encontrei até mesmo alguns membros da família e conhecidos do meu bairro que precisavam de atendimento médico. Suas expressões não tinham preço quando me reconheciam. Lembro-me de uma pessoa que me perguntou:

‘Pode me fazer um favor e tirar sua máscara?’ Essa era a máscara que eu usava para trabalhar diariamente.

‘Você não é o filho de Chavela?’, perguntou ele.

‘Você não se lembra de mim? Sou Jesus, o filho da Sra. Maria.’

‘É claro!’ respondi. ‘O que aconteceu? Para onde você está indo?’

Ele explicou que eles estavam indo para o Chile para tentar um futuro melhor.

Foram momentos como esses que me deram uma sensação de satisfação por saber que pude trabalhar com pessoas da minha comunidade. Na clínica, demos a eles carinho e atenção. Muitos deles sorriram e, ao menos naquele momento, deixaram de lado tudo o que os angustiava.

Ao mesmo tempo, sinto falta do meu país. Minha família e meu filho de 6 anos moram na Venezuela. Ainda não pude visitá-los, mas nos comunicamos regularmente por meio de chamadas de vídeo. Estou angustiado com a situação, meu pai sofre de asma e sempre me pede para voltar. Mas não posso ir para a Venezuela agora, a situação econômica e social do país não é boa para eu voltar. Pelo menos daqui eu posso ajudar um pouco.”

Atuação de MSF em Tumbes

De 2021 até outubro de 2023, profissionais de MSF forneceram cuidados de saúde essenciais para migrantes na clínica da organização em Águas Verdes, na cidade de Tumbes, no Peru. Localizada na fronteira com Equador, a instalação de MSF também funcionou como um ponto de apoio, onde as pessoas em trânsito podiam se hidratar e descansar um pouco depois de percorrer longas e exaustivas travessias.

 

 

 

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