“A situação chegou a um ponto crítico”, relata profissional de MSF no Nilo Branco, Sudão

Aisha Abdelrahman Elrasheed, promotora de saúde de MSF, trabalha em acampamentos no estado do Nilo Branco e relata situação das pessoas refugiadas e deslocadas pelos conflitos no Sudão.

Equipe de MSF dá apoio à campanha de vacinação contra o sarampo do Ministério da Saúde do Sudão no acampamento de Um Sangour. © MSF

Não consigo encontrar as palavras certas para descrever as condições em que as pessoas estão vivendo. Já presenciei mulheres dando à luz e cuidando de seus recém-nascidos em tendas superlotadas e superaquecidas, sem acesso a água limpa ou a saneamento adequado.

Já estive aqui antes, em 2020, e na época as pessoas nos acampamentos de refugiados do estado do Nilo Branco já estavam lutando para garantir suas necessidades básicas. Agora, cinco meses após o início do conflito, com quase meio milhão de pessoas deslocadas internamente e refugiados vivendo em dez acampamentos no Nilo Branco, a situação chegou a um ponto crítico. As pessoas perderam seus empregos e meios de subsistência, e o pior é que ninguém sabe quando essa situação terminará.

Aisha Abdelrahman Elrasheed, profissional de MSF, trabalha nos acampamentos de pessoas deslocadas e refugiadas no Nilo Branco. ©MSF

Como promotora de saúde, meu trabalho é oferecer educação em saúde, identificar o aspecto social das necessidades das pessoas – e, o mais importante, me envolver com a comunidade ouvindo histórias de indivíduos. Quero compartilhar com você uma dessas histórias.

No acampamento de Alagaya, o segundo maior acampamento de refugiados no estado do Nilo Branco, conheci uma mãe de três filhos que fugiu do conflito em Cartum, capital do Sudão. Seu filho mais novo estava com desnutrição, e ficou claro para os médicos que precisaríamos encaminhar a criança para um hospital fora do acampamento para tratamento adequado. No entanto, é comum que as mães relutem em deixar suas famílias e filhos para fazer a viagem, e ela não foi exceção.

Passei horas conversando com ela, explicando a necessidade de levar seu filho ao hospital, assegurando-lhe que MSF forneceria transporte e medicação. Ela hesitou porque não queria deixar seus outros dois filhos no acampamento. Assim que lhe asseguramos de que ela poderia viajar com todos os seus filhos, ela finalmente concordou e foi buscar seus pertences.

Ao retornar, para minha surpresa, não apenas uma, mas as três crianças estavam doentes. Perguntei por que ela não nos informou sobre o estado das outras duas crianças. Ela pensou que não cuidaríamos de todas elas. Conseguimos providenciar encaminhamentos para o hospital para todos os seus filhos.

• Leia: Pessoas que retornam do Sudão para o Sudão do Sul chegam em condições de saúde alarmantes

Eu também sou uma pessoa deslocada internamente e entendo as lutas da comunidade em um nível pessoal. Equilibrar meu papel de promotora de saúde com minhas próprias experiências pode ser um desafio. Eu ouço as histórias das pessoas aqui e me lembro de que todo mundo tem sua experiência pessoal.

Apesar do volume de trabalho que desempenhamos para prestar assistência humanitária em três acampamentos, não é fácil, e as necessidades são enormes. Mas sou grata por ter uma equipe forte ao meu lado e aprecio a dinâmica da equipe, na qual me sinto apoiada – todos os dias.

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