Desafios e superações na gestão da cadeia de suprimentos de projeto de MSF na Rep. Democrática do Congo

A brasileira Patricia Tenan fala sobre sua experiência de seis meses como gestora de supply no país africano

Desafios e superações na gestão da cadeia de suprimentos de projeto de MSF na Rep. Democrática do Congo

Há um mês, voltei da minha primeira experiência com Médicos Sem Fronteiras (MSF). Fui para a República Democrática do Congo (RDC) como gestora de supply de um projeto em Masisi, no leste do país, nas montanhas de Kivu do Norte. Se para a maioria das pessoas a RDC é um lugar remoto, Masisi é remoto mesmo para os congoleses.

O plano original era passar seis meses em Masisi, mas houve uma redução da equipe neste projeto por causa da segurança. Masisi é um local onde se encontram muitos grupos armados, e a perspectiva era de que as tensões se agravassem nos próximos meses, devido às eleições no país. A coordenação do projeto achou por bem reduzir a equipe caso houvesse necessidade de uma evacuação de emergência. Fiquei três meses e meio em Masisi e os últimos meses na capital, Kinshasa, para fazer um trabalho junto à coordenação logística dos projetos na RDC.

Masisi fica a 80 quilômetros de Goma, capital de Kivu do Norte, mas a estrada é tão difícil que levei seis horas para chegar – no auge da estação de chuva, pode-se chegar a 12 horas. O projeto dá suporte ao hospital de referência do vilarejo, bem como apoia clínicas móveis no entorno, com objetivo de oferecer cuidados básicos de saúde a uma população extremamente desfavorecida.

Como gestora de supply, eu era responsável por atender as necessidades de suprimentos de todo o projeto. Muitas demandas, algumas urgências, e vários desafios. O maior deles era o transporte. Até mesmo o combustível para os veículos e os geradores vêm dessa cidade mais próxima, Goma, e são transportados em caminhões até Masisi. Algumas vezes o caminhão levava três dias para chegar, então tínhamos de estar sempre alertas em relação ao estoque de segurança/reserva, pois, sem combustível, o projeto para – não tem eletricidade em Masisi. Numa ocasião, o caminhão ficou bloqueado na estrada e foi preciso alugar 70 motos para fazer o transporte a tempo de não cairmos em ruptura.

A casa onde morávamos é simples, sem ducha – o banho é de balde, e os sanitários com latrinas, sem privadas. Sem luz, com horários restritos de gerador, vida extremamente rural. Me senti em casa desde o início; nada me fez falta, pois olhava ao meu redor, onde eu estava, a situação da população, e, nesse sentido, a casa onde morávamos e nossa condição de vida era um luxo. Quando saía de casa e encontrava toda essa vida, isso me preenchia e dava força.

Trabalhávamos em média 12 horas por dia e mesmo nos fins de semana sempre tinha um contratempo, nunca tínhamos hora para receber as cargas. A hora que o caminhão chegava era a hora de descarregá-lo, para que ele pudesse fazer outras viagens. As necessidades eram constantes, bem como as dificuldades.

O que dizer de toda essa experiência? Muitos percalços no caminho, cansaço, desafios, superações. E muita, muita realização e preenchimento. Um dos países mais ricos que eu já tive a oportunidade de conhecer. Rico em cores, cultura, educação, gentileza, alegria. Agradeço cada segundo vivido, pois, sem sombra de dúvidas, eu sou a pessoa que mais ganhou com toda essa jornada.

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