Ucrânia: três relatos de pessoas deslocadas pela guerra

Desde junho do ano passado, equipes de MSF administram clínicas móveis na cidade de Uzhhorod e em outras áreas de Zakarpattia Oblast.

Em junho de 2022, equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) baseadas na cidade de Uzhhorod começaram a visitar diferentes locais de Zakarpattia Oblast (divisão administrativa) para atuar com clínicas móveis onde as comunidades deslocadas pela guerra estão reunidas. Somente em Zakarpattia, há atualmente 128 mil deslocados internos registrados dos 6,5 milhões que fugiram de suas casas em toda a Ucrânia*.

Eles estão espalhados por diferentes cidades e vilarejos. Alguns tentam encontrar acomodações particulares para alugar, mas os preços são altos, então acabam vivendo duas ou três famílias no mesmo apartamento alugado. Outros esgotaram seus recursos.

 

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Entre julho e novembro de 2022, MSF realizou quase três mil consultas médicas por meio de clínicas móveis, visitando 12 locais em Zakarpattia, como Uzhhorod, Khust e Mukachevo. As principais condições médicas encontradas foram doenças crônicas e infecções respiratórias. No mesmo período, 2.860 pessoas com necessidade de apoio psicológico e psicossocial foram atendidas em consultas individuais e sessões em grupo.

À medida que o clima piora, uma preocupação geral das autoridades locais e das organizações humanitárias é que as condições para as pessoas deslocadas se tornem ainda mais difíceis. As equipes de MSF fornecem apoio logístico, como reparos de sistemas de água em alguns dos abrigos públicos e colaboração com as redes de voluntários que distribuem itens de socorro.

Aqui, compartilhamos três relatos de pessoas deslocadas pela escalada da guerra na Ucrânia, que, como muitas outras, vivem temporariamente em espaços públicos administrados pelas autoridades locais.

Olha: “Sonho que a guerra acabe o mais rápido possível”

Foto: Sara de la Rubia/MSF

“Acho essa situação realmente difícil de lidar. Eu me preocupo muito com a Ucrânia e com a paz. Tenho problemas de saúde, mas continuo adiando a ida ao médico até que se torne realmente ruim. Quando você tem tantas preocupações, isso afeta sua saúde, eventualmente.

É muito difícil se adaptar a essas novas condições de vida. Você está acostumada a viver sozinha em seu próprio apartamento, e agora é como viver em um dormitório. Para as crianças, é ainda mais complicado. Mas tentamos apoiar e ajudar uns aos outros. Eu sonho que a guerra acabe o mais rápido possível”.

Olena: “Em nossas cabeças, estamos constantemente voltando para casa”

Foto: Sara de la Rubia/MSF

“Quando o primeiro bombardeio atingiu nosso complexo de apartamentos e tudo começou a tremer, pensamos que era o fim e que o edifício iria ruir. Esperamos até a manhã. Ainda estávamos vivos, nós três: minha mãe, meu filho e eu. Meu filho tem um carro, então o carregamos com nossos pertences e fomos embora.

A viagem foi muito difícil. Em cada ponto de controle, tivemos que esperar na fila por duas ou três horas. Finalmente, chegamos em Uzhhorod. Fomos realocados para Perechyn. É um grande prédio escolar. Não está nas melhores condições, mas estamos gratos por esta acomodação. Somos gratos por tudo, mas é muito difícil lidar com nossos pensamentos, pois em nossas cabeças, estamos constantemente voltando para casa”.

Iryna: “Continuo me preocupando com o que vai acontecer no futuro”

Foto: Sara de la Rubia/MSF

“Nossa cidade estava sendo bombardeada. Chegou um momento em que decidimos que era hora de partir. A viagem foi longa e exaustiva. Os trens estavam superlotados – era difícil até mesmo embarcar. Demoramos um dia e meio para chegar em Chop, onde ficamos por uma noite. No dia seguinte, fomos para Uzhhorod e depois viemos para cá [em Perechyn].

Vivemos aqui juntos durante os últimos seis meses. Ainda é difícil, às vezes. Temos problemas com a eletricidade – não é suficientemente potente neste prédio. Todos queremos voltar para casa o mais rápido possível, mas não há serviços lá. Não há gás, aquecimento, água ou eletricidade. Continuo me preocupando com minha família e com o que vai acontecer no futuro”.

Equipes de MSF em Zakarpattia Oblast também fazem doações de medicamentos essenciais para estruturas de saúde e fornecem treinamentos sobre descontaminação, influxo em massa de pacientes feridos, atendimento a sobreviventes de violência sexual e de gênero e saúde mental para profissionais e socorristas de primeira linha. De março a novembro de 2022, fornecemos 30 treinamentos com a participação de 672 pessoas em Zakarpattia Oblast. Entre março e maio, outra equipe de MSF também administrou clínicas móveis nas cidades de Mukachevo e Berehove, em Zakarpattia Oblast. Mais de 1.700 consultas médicas foram realizadas nesse período.

*De acordo com as autoridades regionais e o último relatório de deslocamento interno da Ucrânia da OIM, de outubro de 2022.

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