Superando a tuberculose multirresistente a medicamentos em Mianmar

MSF dá suporte a pacientes de TB-MDR enquanto eles estão em deslocamento

Superando a tuberculose multirresistente a medicamentos em Mianmar
Pela primeira vez desde 2015, a clínica de MSF no estado de Shan curou dois pacientes com tuberculose multirresistente (TB-MDR). O casal contraiu a TB-MDR após terem se deslocado devido a um conflito armado. Depois, tiveram que deixar seus filhos e casa por quase dois anos durante o tratamento. A história deles ilustra as dificuldades que os pacientes das comunidades afetadas por conflitos em Mianmar enfrentam, bem como a escassez de tratamento especializado para pacientes nas áreas rurais. 
 
O estado de Shan há muito é perseguido por conflitos entre as forças armadas de Mianmar (Tatmadaw) e grupos étnicos armados não estatais, além de lutas entre grupos étnicos armados. Os novos combates desde meados de agosto de 2019 mataram civis e resultaram em deslocamentos de curto prazo de aproximadamente 8 mil pessoas. Em setembro, a equipe de MSF no norte de Shan conseguiu distribuir itens não alimentares a centenas de famílias em um novo campo de deslocados, mas muitas áreas permanecem inacessíveis às organizações humanitárias. Para pacientes que necessitam de cuidados médicos especializados, o deslocamento interrompe o tratamento, o que pode ter consequências devastadoras para a saúde. Em 2017, Aik Jong e Aye Htwe foram deslocados de sua casa no município de Namhsan e detidos em um mosteiro lotado por cinco dias. O casal estava recebendo medicação antirretroviral (ARV) de MSF desde 2013, mas não teve permissão para tomar seus medicamentos durante o período de detenção. 
 
Separação difícil, mas necessária
 
Depois de serem libertados, Aik Jong e Aye Htwe buscaram refúgio em outro lugar, e Aye Htwe notou que estava perdendo peso. Eles viajaram para a clínica de MSF em Lashio, onde ambos testaram positivo para tuberculose multirresistente a medicamentos (TB-MDR). Devido à falta de tratamento para TB-MDR disponível localmente, o casal não conseguiu voltar para casa. 
 
O tratamento para TB-MDR é essencial e salva-vidas. No entanto, é cansativo, fazendo com que muitos pacientes desistam; curar pacientes é relativamente raro. O tratamento dura quase dois anos e tem efeitos colaterais consideráveis, incluindo náusea, vômito, tontura, dano auditivo e perda da função renal. Todos os dias, os pacientes devem tomar um coquetel de medicamentos orais e, nos primeiros seis meses, são submetidos a injeções dolorosas seis dias por semana. 
 
Para minimizar o risco de propagação da infecção, os pacientes de MSF com TB-MDR são incentivados a viver separados dos outros, com visitas limitadas da família e amigos durante o tratamento. Enquanto Aik Jong e Aye Htwe ficaram na casa de TB-MDR de MSF em Lashio, onde a organização também pagava suas despesas de subsistência, seus três filhos ficaram com parentes. “No início, o tratamento foi realmente difícil, mas a equipe médica nos apoiou”, diz Aye Htwe. “Não precisávamos de muita motivação, sabíamos que o tratamento seria difícil, mas estávamos determinados – precisávamos fazer isso pelos nossos filhos”.
 
Embora Aik Jong e Aye Htwe tenham sido curados, eles ainda estão lutando para reunir sua família e retornar ao seu vilarejo, onde trabalhavam como agricultores. “Estou feliz por ter curado a TB-MDR. Sinto que um enorme fardo foi tirado de mim”, disse Aik Jong. Agora ele tem outras preocupações: “Não sei quando veremos nossos filhos novamente. É muito caro para nós fazer a jornada para vê-los agora”. 
 
A necessidade de tratamento mais perto de casa
 
A agitação social e emocional vivida por Aik Jong e Aye Htwe poderia ter sido reduzida se houvesse tratamento disponível mais perto de casa. Embora o Ministério da Saúde e Esportes de Mianmar tenha, em princípio, se comprometido a descentralizar o tratamento da TB-MDR para o nível distrital, oferecendo tratamento junto à atenção de saúde primária, isso ainda não foi implementado. 
 
“A falta de recursos e equipamentos de diagnóstico continua a manter os cuidados nas proximidades fora do alcance de muitos”, diz Mitchell Sangma, coordenador médico de MSF. “Isso significa que aqueles que vivem em áreas mais remotas não têm opções de tratamento por perto e podem ser forçados a deixar suas casas, seus empregos e suas famílias em busca de tratamento”. 
 
Dada a falta de atendimento descentralizado da TB-MDR, MSF tem prestado tratamento em Kachin e Shan, além de Yangon, e curou 228 pacientes com TB-MDR em Mianmar. 
 
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