Sudão do Sul: situação humanitária se torna alarmante com escalada de conflito

Aumento da violência forçou a interrupção de serviços médicos, destruiu estruturas de saúde e forçou a retirada de profissionais médicos

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A intensificação dos confrontos no Sudão do Sul está expondo os civis à violência generalizada e restringindo gravemente o oferecimento de ajuda que é urgentemente necessária, afirmou a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Um aumento da violência nos estados de Unity, Jonglei e Alto Nilo resultou na interrupção de serviços médicos e na destruição de estruturas de saúde. Profissionais médicos tiveram de ser evacuados.

“A escalada [da violência] deixou as pessoas em zonas de conflito expostas à violência e sem cuidados médicos e assistência humanitária, que são muito necessários”, disse Paul Critchley, coordenador-geral de MSF no Sudão do Sul. “Todas as partes do conflito devem respeitar civis e estruturas de saúde, a fim de evitar ainda mais sofrimentos desnecessários.”

No estado de Alto Nilo, MSF está oferecendo assistência médica essencial para salvar vidas de pessoas que foram feridas em confrontos violentos em Melut, apesar de não poder mais enviar suprimentos médicos e profissionais. A insegurança em andamento está impedindo aviões de pousarem e forçou centenas de pessoas a buscarem abrigo no complexo de “Proteção de Civis”, da Organização das Nações Unidas (ONU), nos últimos dias. A capacidade de MSF de oferecer cuidados àqueles em necessidade está em risco, a menos que a passagem de profissionais e suprimentos seja garantida.

Em Malakal, MSF também está tratando os feridos dos recentes combates, embora os confrontos tenham impedido a prestação de assistência médica na semana passada para cerca de 30 mil pessoas que estão vivendo no complexo de “Proteção de Civis”, local que tem visto um enorme fluxo de recém-chegados. A situação altamente volátil continua impedindo a entrada de equipes na cidade de Malakal, onde boa parte dos combates ocorreram.

No estado de Jonglei, a cidade de Phom El-Zeraf (Nova Fangak) estava na linha de frente de batalha ao longo dos últimos meses. Durante uma visita à região na terça-feira (19/05), uma equipe de MSF descobriu que a cidade havia sido efetivamente destruída, com árvores e casas desabadas após incêndios e prédios escolares destruídos. O hospital, uma das principais instalações de saúde na parte norte do estado, foi demolido. Sua destruição tem grande impacto sobre as pessoas em uma área com poucas alternativas de cuidados médicos.

No estado de Unity, MSF foi forçada a evacuar seu hospital na cidade de Leer, em 9 de maio deste ano, na medida em que a linha de frente de batalha se aproximou, deixando aproximadamente 200 mil pessoas na região sem nenhum cuidado médico. MSF fez contato, no começo desta semana, com um trabalhador sul-suldanês, que relatou que ele estava escondido com muitos outros civis em uma ilha no pântano, para evitar estar em meio a tiroteios.

“Um foguete carregado de granadas caiu  na água ao lado dele, mas, felizmente, não detonou. Ele passou nove horas na água. Quando conseguiu voltar para a ilha, entregou os corpos de duas crianças que havia retirado da água para seus pais. Ele disse que uma mulher do grupo foi sequestrada e alguém está cuidando do bebê dela”, disse Paul Critchley.

Em Bentiu, os confrontos e a insegurança ao longo das últimas semanas forçaram MSF a suspender diversas clínicas móveis nos arredores da região. Em Nhialdiu, MSF estava oferecendo consultas médicas todos os dias para centenas de pessoas. A organização continua administrando um hospital dentro do complexo de “Proteção de Civis” em Bentiu, que recebeu mais de 11 mil recém-chegados – a maioria deles são mulheres e crianças. Muitas pessoas compartilharam com MSF histórias terríveis da violência da qual  estão escapando: vilarejos inteiros incendiados; famílias separadas; ataques e matanças; tendo de deixar feridos para trás; e violência sexual contra mulheres e crianças. MSF tratou uma mulher grávida que chegou com uma perna gravemente ferida de uma bomba que havia explodido. Ela não pôde receber nenhuma assistência médica por nove dias.

Aqueles que conseguiram chegar a um dos complexos de “Proteção de Civis” também não estão sendo poupados da violência. Bombardeios e tiroteiros frequentes, próximos das áreas onde os civis estão abrigados, resultaram em balas e bombas ultrapassando o local e ferindo moradores em diversas ocasiões. Em março, MSF tratou uma criança de nove anos que foi atingida por um tiro disparado do lado de fora do complexo de “Proteção de Civis” enquanto ela dormia ali dentro. Tensões sectárias também estão elevadas dentro dos acampamentos, com o hospital de MSF em Bentiu tratando o triplo do número de ferimentos relacionados à violência: foram quase 150 casos em abril e cerca de 50 casos todos os meses no ano passado. A estação chuvosa que se aproxima e as condições de superlotação agravadas pelo recente influxo de novas chegadas em vários acampamentos são causas adicionais de preocupação.

MSF é uma das maiores provedoras de ajuda médica e humanitária no Sudão do Sul, tendo mais de 3.500 profissionais pelo país,  além de projetos na Etiópia e em Uganda que recebem refugiados do Sudão do Sul. Até agora, MSF opera projetos em seis dos 10 estados do país, incluindo em Unity, Alto Nilo e Jonglei, onde o conflito tem tido um custo elevado para a vida da população. MSF também administra atividades na Área Administrativa de Abyei. As equipes estão respondendo a diversas necessidades de saúde, incluindo cirurgias, cuidados obstétricos, malária, calazar, vacinações contra doenças evitáveis e desnutrição. MSF pede a todas as partes do conflito que respeitem instalações médicas para permitir que organizações de ajuda tenham acesso a comunidades afetadas e que permitam que pacientes recebam tratamentos médicos, independentemente de suas origens ou etnias. Até agora, neste ano, MSF ofereceu 167.207 consultas ambulatoriais, das quais 62.269 foram para crianças com menos de cinco anos; 10.367 pacientes foram hospitalizados, dos quais 5.123 eram crianças com menos de cinco anos; realizou 5.096 cirurgias e 3.587 partos; 1.102 pacientes estão sob tratamento para calazar; 6.243 crianças foram tratadas por desnutrição, das quais 1.102 foram hospitalizadas.

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