Sudão do Sul: jovens biotecnólogos desempenham papel importante na resposta à COVID-19

MSF apoia os profissionais do Laboratório Nacional de Saúde Pública, na capital Juba

Sudão do Sul: jovens biotecnólogos desempenham papel importante na resposta à COVID-19

Desde que o novo coronavírus começou a se espalhar globalmente no início de 2020, sobrecarregando os melhores sistemas de saúde do mundo um após o outro, países como o Sudão do Sul estavam se preparando para o que ainda estava por vir.

Esgotado por anos de conflitos armados, instabilidade política e declínio econômico, temia-se que o frágil sistema de saúde local – que depende em grande parte de organizações internacionais – não estaria preparado para prevenir ou responder a uma emergência como a causada pela COVID-19.

Temendo que o surto do vírus causasse um impacto significativo em uma situação humanitária já terrível, MSF começou a integrar as medidas contra a COVID-19 a projetos existentes em todo o país, ao mesmo tempo que iniciou uma nova resposta específica na capital Juba.

Desde março, MSF trabalha em vários locais de Juba, com foco no fortalecimento das medidas de prevenção e controle de infecções em unidades de saúde, realizando treinamentos para os profissionais e atividades de promoção da saúde voltadas para a comunidade.

Capacitando as equipes locais

No Laboratório Nacional de Saúde Pública em Juba, MSF está apoiando profissionais com treinamentos e suporte técnico sobre como trabalhar com segurança e protegidos. Rebecca, uma biotecnóloga de 26 anos, sorri ao lembrar que costumava esconder da família o local do seu trabalho: “Foi até que alguém me viu aqui no laboratório e contou a eles.”

Quando os primeiros casos de COVID-19 aconteceram, o governo do Sudão do Sul começou a procurar especialistas em biologia, microbiologia e patologia para testar casos suspeitos. Rebecca tinha experiência em microbiologia e atendia aos requisitos para o trabalho, mas não foi fácil convencer a família.

“Quando o novo coronavírus veio, todo mundo ficou com medo”, lembra ela. “Mas assegurei à minha família que faria o meu melhor para me proteger e que eles deveriam fazer o mesmo. Só quero dar algo em troca ao meu país.”

Treinar e educar os profissionais de saúde sobre a COVID-19 e como eles podem se proteger é de importância crítica no combate à pandemia, avalia a coordenadora de emergência de MSF, Tish Shaw: “Os profissionais de saúde estão realmente na linha de frente na luta contra a COVID-19. É fundamental que eles sejam capacitados com o conhecimento e as ferramentas, não apenas para identificar os pacientes e se proteger, mas também para repassar essas informações à comunidade. As pessoas ouvirão seus profissionais de saúde, as pessoas que encontram todos os dias, por isso é realmente importante que os profissionais de saúde entendam o que é o vírus, como se apresenta e como podem se proteger”.

Como Rebecca, Giir, um microbiologista de 29 anos de Wau, uma cidade no noroeste do Sudão do Sul, está agora na vanguarda da resposta à pandemia, apesar da desaprovação de sua família. Giir supervisiona uma equipe de oito biotecnólogos no laboratório, para onde as amostras são trazidas de todo o país. Quando os pais de Giir souberam de seu trabalho, pediram que ele desistisse, pois estavam preocupados que ele pudesse levar o vírus para casa. “Se outros podem fazer isso, por que não eu? Essa é a minha área de especialização e não posso fugir.”

Depois que o primeiro paciente com COVID-19 foi confirmado no Sudão do Sul em 5 de abril e o rastreamento e os testes de contatos começaram, trabalhar no laboratório foi um desafio. Giir lembra: “No início não havia sistema e o trabalho era muito difícil. Todo mundo estava com medo e foi estressante para cada um de nós. Desde que MSF começou a nos apoiar, as coisas melhoraram. Hoje, se recebermos uma amostra, o resultado estará pronto no dia seguinte. Anteriormente, isso poderia levar de dois a três dias ou até mesmo se perder.”

Em Juba, MSF continua trabalhando com o governo do Sudão do Sul para fortalecer as medidas de prevenção e controle de infecções e treinar profissionais de saúde, como Rebecca e Giir, sobre como examinar pacientes e se proteger. Além de dar suporte técnico ao laboratório e apoiar oito biotecnólogos, também estamos atuando no Hospital Universitário de Juba – o maior da capital. Além disso, instalamos 12 postos de lavagem das mãos em unidades de saúde, áreas públicas e densamente povoadas, como o mercado Konyo Konyo e assentamentos informais de deslocados internos, bem como fornecemos educação sobre saúde e promoção da higiene na comunidade.

Até o momento, são mais de 2.600 casos de COVID-19 confirmados no Sudão do Sul. Embora os números não tenham atingido as proporções alarmantes daqueles observados em outros países ao redor do mundo, e apesar das melhorias no Laboratório Nacional de Saúde Pública em Juba, a capacidade limitada de testes em todo o país e, portanto, a possível transmissão pela comunidade, continua a ser uma preocupação.

 

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