Dia Mundial da Tuberculose: é urgente a necessidade de melhorar acesso a testes e tratamentos mais seguros

MSF pede redução do preço de testes e adesão a tratamento mais eficaz contra a tuberculose resistente a medicamentos

Enfermeira de MSF atende paciente em hospital especializado em tuberculose resistente a medicamentos, no Afeganistão. Foto: Lynzy Billing/MSF

Médicos Sem Fronteiras (MSF) se uniu à Organização Mundial da Saúde (OMS) para pedir a governos e doadores que atuem para acelerar o acesso a tratamentos novos, mais curtos, seguros e eficazes* para a tuberculose resistente a medicamentos (TB-DR), assim como os testes de diagnóstico necessários para implementar novos regimes de tratamento. O “Chamado à Ação”, que inclui também outros atores, marca o Dia Mundial da Tuberculose, que acontece nesta sexta-feira, 24 de março. Pedimos também, à empresa de diagnósticos Cepheid, com sede nos Estados Unidos (EUA), que reduza o preço dos testes GeneXpert para garantir que as pessoas com TB-DR possam ser diagnosticadas a tempo de acessar tratamento mais curtos e seguros.

“Em países com alta carga de tuberculose, incluindo o Brasil, a disponibilidade de um regime totalmente oral de seis meses para o tratamento de pessoas com tuberculose resistente a medicamentos pode ser um divisor de águas ao garantir que mais pacientes possam iniciar e concluir o tratamento mais cedo, com melhores resultados e menos efeitos colaterais”.
– Francisco Viegas, consultor de políticas de inovação médica na Campanha de Acesso de MSF.

“Pedimos ao governo brasileiro que tome as medidas necessárias imediatas para incorporar a pretomanida no sistema público de saúde e o regime BPaLM nas diretrizes nacionais de tratamento, para assim salvar mais vidas”, acrescentou Viegas.

Em dezembro de 2022, a OMS emitiu novas diretrizes que recomendam que os países implementem o regime de tratamento BPaLM*, mais seguro e mais curto, para tratar pessoas com TB-DR, em parte com base nos resultados do TB-PRACTECAL de MSF, um ensaio clínico controlado, randomizado e multinacional. O estudo de MSF concluiu que o tratamento oral de seis meses baseado em BPaLM é mais seguro e eficaz no tratamento da TB-DR do que os regimes de tratamento atualmente utilizados – mais longos, com efeitos colaterais quase intoleráveis e com taxa de cura de apenas 60% das pessoas com tuberculose resistente a medicamentos.

“Para mim, tudo nos últimos dois anos girou em torno da tuberculose”.
– Maria **, paciente com tuberculose resistente a medicamentos.

Maria passou por dois longos anos de tratamento que não foram eficazes para curá-la da TB-DR. Mais tarde, ela foi tratada com o regime em Belarus. “Viver assim era impossível. [Com a medicação antiga] as pessoas não podem fazer nada porque se sentem péssimas durante o tratamento. Se eu tivesse começado o tratamento com um regime curto imediatamente, minha vida teria sido diferente.”

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Obstáculos para o tratamento mais curto e eficiente

O acesso a testes de diagnóstico para resistência é um dos principais obstáculos para permitir a implantação de regimes de tratamento de TB-DR mais seguros e curtos. Atualmente, o teste GeneXpert MTB/RIF, feito pela empresa norte-americana Cepheid, é o teste de diagnóstico molecular rápido mais amplamente disponível em países de alta carga para detectar resistência à droga de primeira linha rifampicina. Apesar dos altos volumes de vendas em países com alta carga de tuberculose e da análise de MSF mostrando que custa à Cepheid menos de cinco dólares (cerca de 26 reais) para produzir um teste, a corporação manteve o preço do teste em 9,98 dólares (cerca de 53 reais) por mais de uma década.

Laboratório de MSF em hospital para pacientes de tuberculose resistente a medicamentos, no Afeganistão. Foto: Lynzy Billing/MSF

Os países devem começar a implementar o regime BPaLM de seis meses para tratar a tuberculose resistente a medicamentos e garantir a disponibilidade nacional dos testes GeneXpert MTB/RIF. Ou, quando possível, devem disponibilizar alternativas recomendadas pela OMS, como os testes Truenat MTB/RIF, para detectar tuberculose e resistência à rifampicina, para que as pessoas com TB-DR possam iniciar o tratamento sem demora.

“Mais uma vez, pedimos à Cepheid que reduza o preço dos testes de tuberculose para não mais do que cinco dólares cada, para que mais pessoas com tuberculose resistente a medicamentos possam ser diagnosticadas a tempo e possam receber tratamentos aprimorados que salvem vidas”.

– Stijn Deborggraeve, consultor de diagnóstico da Campanha de Acesso de MSF.

“É fundamental que tenhamos melhor acesso a testes para diagnosticar a tuberculose e a resistência aos medicamentos usados para tratá-la. Assim, podemos identificar mais pessoas que precisam de tratamento e implantar regimes orais mais curtos e seguros”, acrescentou Deborggraeve.

Os preços dos medicamentos também precisam diminuir ainda mais: incorporar esses regimes aos programas nacionais de tratamento da tuberculose, oferecendo a mais pessoas, irá aumentar a demanda e ajudar a reduzir o preço, além de ter mais fabricantes fornecendo versões genéricas acessíveis dos medicamentos bedaquilina e pretomanida, que são parte do regime de tratamento BPaLM.

O preço mais baixo disponível para esse novo regime de tratamento de TB-DR ainda é de 570 dólares (cerca de 3 mil reais), e MSF pediu que o preço de um ciclo completo de TB-DR, incluindo o regime BPaLM, não seja superior a 500 dólares (cerca de 2,6 mil reais).

Cinco países onde MSF atua começaram a implementar os regimes mais curtos: Belarus, Uzbequistão, Tajiquistão, Serra Leoa e Paquistão. Outras reduções de preços abrirão caminho para a implantação deste tratamento em muitos outros países.

Atendimento a paciente com tuberculose resistente a medicamentos em hospital especializado apoiado por MSF no Afeganistão. Foto: Lynzy Billing/MSF

Em um país como o Afeganistão, onde as pessoas estão lutando para pagar alimentos básicos, despesas de viagem e taxas médicas para o hospital, ser capaz de tratar pessoas com tuberculose resistente a medicamentos dentro de seis meses – em vez de até dois anos, como os regimes de tratamento mais antigos – seria benéfico”, disse Geke Huisman, coordenadora médico de MSF no Afeganistão.

“O acesso a testes diagnósticos acessíveis continua sendo um grande desafio no Afeganistão e em outros países da região por conta dos altos preços. Governos, doadores e corporações farmacêuticas devem agir agora para garantir um suprimento acessível desses testes e tratamentos críticos para a tuberculose, para que mais vidas possam ser salvas”, conclui ela.

*O regime de BPaLM de seis meses é composto por bedaquilina (B), pretomanida (Pa), linezolida (L) e moxifloxacina (M). Esse regime não é apropriado para pessoas com tuberculose resistente à bedaquilina, linezolida, pretomanida ou delamanida. Paralelamente à implementação do regime BPaLM, todos os países devem ampliar urgentemente o acesso aos testes de suscetibilidade a medicamentos para os medicamentos usados no tratamento da TB-DR.
** O nome completo não foi publicado para preservar o anonimato.

 

 

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