Síria: ao menos 550 feridos em terrível bombardeio de mercado em área sitiada em Damasco

MSF faz apelo para que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU parem os massacres na Síria

Ao menos 70 pessoas morreram e 550 ficaram feridas no dia 31 de outubro em um ataque aéreo contra um mercado no bairro de Douma, próximo a Damasco, na Síria, de acordo com a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). Como o hospital improvisado mais próximo do local havia sido bombardeado no dia anterior, profissionais médicos fizeram o máximo puderam para lidar com o influxo massivo de pessoas feridas. MSF teme que a intensificação dos bombardeios no norte e na parte central da Síria perpetrados ao longo do mês de outubro possa se tornar ainda mais grave caso se espalhe para áreas sitiadas ao redor de Damasco, onde quase um milhão de pessoas estão encurraladas sem meios de escapar, com poucas instalações médicas, e sem opções para evacuações dos pacientes gravemente feridos.

A devastação causada pelo ataque aéreo inicial ao mercado foi exacerbada por bombardeios posteriores contra equipes de resgate que estavam atendendo os feridos. Duzentos e cinquenta pessoas precisaram de cirurgia, e outras 300 foram tratadas para ferimentos não cirúrgicos. Médicos descreveram os múltiplos ferimentos de trauma como os piores que já viram.

“Esse foi um bombardeio extremamente violento”, diz o diretor de um hospital próximo apoiado por MSF, que prestou assistência durante a resposta à primeira onda de vítimas. “Os ferimentos eram piores do que qualquer coisa que já vimos, e havia um grande número de mortos. Nós tivemos de realizar muitas amputações. E muitos dos feridos tiveram perda de sangue massiva, o que significa que precisávamos de grandes quantidades de fluidos intravenosos e bolsas de sague. Nós fizemos o nosso melhor, mas o número de feridos em estado grave era muito além do que poderíamos lidar com os nossos meios limitados.”

Como muitos hospitais foram destruídos no conflito na Síria, diversas instalações passaram a realizar serviços na parte subterrânea e espalharam atividades por diferentes locais em uma tentativa de continuarem funcionando. O portão de entrada do hospital improvisado de Douma havia sido atingido por um bombardeio na quinta-feira (29/10), causando 15 mortos e 100 feridos. Na medida em que os serviços tinham sido, recentemente, divididos em vários prédios, o hospital foi capaz de responder a uma parte do influxo massivo de vítimas. No entanto, nenhum hospital teria sido capaz de atender todas as vítimas, dada a quantidade alarmante de pessoas gravemente feridas. Outros seis hospitais improvisados também lançaram planos de gestão de vítimas em massa para ajudar a tratar os feridos do mercado bombardeado.

Os bombardeios contra infraestruturas civis, como hospitais e mercados, se intensificaram durante 2015 em áreas sitiadas ao redor de Damasco. Até o momento, este ano, quase 40% das pessoas mortas e dos pacientes feridos de guerra tratados nas instalações médicas apoiadas por MSF na região de Ghouta Oriental foram mulheres e crianças com menos de 15 anos. Essa porcentagem extremamente alta de mortes e de ferimentos de civis pode ser explicada por ataques repetidos contra áreas densamente povoadas, e também porque em zonas sitiadas as pessoas são alvos humanos em cativeiro, sem lugar para correrem para escapar dos bombardeios.

“Esse bombardeio massivo contra um mercado lotado e a destruição recorrente das poucas instalações médicas ainda disponíveis são uma violação de tudo o que as regras de guerra representam”, diz Brice de le Vingne, diretor das operações de MSF na Síria. “Em dois dos bairros sitiados de Ghouta Oriental há hospitais improvisados que foram particularmente bombardeados com frequencia– nós estamos, pela quarta vez este ano, financiando e oferecendo apoio logístico para restabelecer ambas as instalações. Com os disparos de franco-atiradores impedindo as pessoas de escapar das áreas sitiadas, só podemos imaginar, com temor, o que aconteceria se a abordagem de morte lenta, que consiste em colocar pessoas sob um cerco, se transformasse em um rápido massacre aéreo.”

O hospital de Douma usou até mil litros de soros intravenoso e 300 bolsas de sangue, e MSF enviou suprimentos de emergência para repor alguns materiais essenciais, além de oferecer apoio logístico, como combustível para as equipes de ambulâncias usadas no atendimento às vítimas do ataque aéreo. MSF também pode ainda ajudar com doações de suprimentos médicos de emergência e apoio técnico.

MSF faz um apelo aos Estados-membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para que cumpram o mandato de proteção que lhes foi dado1 e que parem o mais rápido possível os crescentes massacres aéreos na Síria.

MSF mantém seis instalações médicas no norte da Síria e apoia diretamente mais de 150 clínicas, postos de saúde e hospitais no país, com foco particular nas áreas sitiadas. A maioria são instalações improvisadas, sem a presença de profissionais de MSF, onde a organização fornece suporte material e treinamento à distância para ajudar os médicos sírios a lidarem com as necessidades médicas extremas. Essa rede de apoio foi construída ao longo dos últimos quatro anos.

1Resolução 2165 aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU em julho de 2014

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