República Democrática do Congo: a situação ainda é crítica

Décadas de conflitos e falta de investimentos governamentais dificultaram o acesso da população a cuidados básicos de saúde

A situação na fronteira leste da República Democrática do Congo ainda é bastante volátil, marcada por alianças alternadas entre diferentes grupos armados, operações militares constantes, instabilidade, insegurança, bandidagem e violência. Ataques contra a população civil e organizações de ajuda humanitária estão aumentando e esses grupos estão cada vez mais vulneráveis.

Estupros, assassinatos, sequestros e atos aleatórios de violência fazem parte do cotidiano de milhões de pessoas no país. A instabilidade faz com que as pessoas abandonem suas casas e, muitas vezes, é um obstáculo à capacidade de MSF de oferecer assistência médica essencial.

A falta de investimentos no sistema de saúde se reflete na ausência de infraestrutura adequada e de equipes médicas treinadas no país. As necessidades médicas são enormes e as pessoas precisam lutar para ter acesso aos serviços de saúde mais básicos.

“Para ter acesso à assistência médica, os pacientes normalmente precisam andar durante horas”, explicou Christine Buesser, coordenadora de projeto de MSF. “Imagine só estar grávida, às vezes carregando outra criança nas costas, e ter que caminhar por tanto tempo. As distâncias percorridas só para chegar a uma clínica médica são um desafio diário muito difícil de superar.”

Décadas de negligência do sistema de saúde na RDC resultaram no aumento das taxas de mortalidade infantil e materna em todo o país. A expectativa de vida no país é uma das menores do mundo.

Epidemias: um risco permanente  

Devido a restrições logísticas – existentes em função do grande tamanho do país –, à falta de investimentos nas instalações médicas e à falta de equipes de saúde treinadas, as medidas nacionais de prevenção de doenças são extremamente fracas.

O Programa de Imunização Expandida (que promove imunizações de rotina) é disfuncional, e, aliado à falta de estratégias sustentáveis de vacinação, cria uma emergência permanente no país. Epidemias de doenças que podem ser facilmente evitadas, como cólera, sarampo e malária, acabam custando muito caro para a população do país.

A malária é a principal causa de morte na RDC. Em 2011, equipes médicas de MSF continuam tratando um grande número de pacientes com a doença, que representa um terço de todas as consultas em clínicas da organização.

A RDC sofre com uma epidemia de sarampo desde 2010. Mais de 14 milhões de pessoas já foram vacinadas – três milhões por MSF. No entanto, esses esforços urgentes não foram capazes de frear a epidemia, e quatro das 11 províncias do país ainda não receberam campanhas de acompanhamento.

MSF está respondendo a surtos de cólera ao longo do Rio Congo e na capital, Kinshasa, desde abril de 2011. As equipes tratam pacientes e constroem centros de tratamento da doença. A ameaça de uma epidemia de cólera é ainda mais preocupante com a chegada da estação de chuvas em agosto, sobretudo para centros urbanos densamente povoados, que não contam com um sistema de saneamento adequado.

Compromisso no combate à Aids

Na RDC, apenas 12% dos pacientes HIV positivo estão recebendo tratamento antirretroviral (ARV), e 95% das mulheres grávidas com Aids não têm acesso ao tratamento necessário para prevenir a transmissão da doença para seus filhos.

Apesar disto, a RDC está enfrentando um sério desafio em relação aos recursos para a luta contra a Aids. Em 2011, o Banco Mundial interrompeu o financiamento de programas de combate à doença no país, e muitas outras agências ainda trabalham com recursos muito limitados quando comparados com as necessidades reais da RDC. Além disso, o Fundo Global, o maior mecanismo de financiamento de luta contra HIV/Aids, está passando por uma grave crise, em função da diminuição dos recursos  financeiros provenientes de países doadores.

Essa diminuição do financiamento dos doadores pode deixar 10 mil de pacientes sem tratamento, e impedir que mais pessoas ainda tenham acesso a ele. Isso ameaça enfraquecer todo o progresso no combate ao HIV/Aids feito desde a implementação do ARV no país. MSF continua com seus esforços políticos para manter o apoio dos financiadores, para conseguir responder à crise.

Doença do sono, uma grande preocupação

Metade de todos os casos de tripanossomíase humana africana – uma doença negligenciada e fatal mais conhecida como doença do sono – registrados em todo o mundo ocorrem na RDC, principalmente nos distritos de Haut-Uélé e Bas-Uélé, na região nordeste do país. A prevalência chega a 5% em algumas áreas, um número muito acima do limite de 0,3% necessário para que a doença seja considerada um problema de saúde pública.

A doença é transmitida por meio da picada da mosca tsé-tsé infectada, e é fatal se não for tratada. Os deslocamentos internos e a instabilidade contribuíram para a dispersão da doença, e a falta de estradas dificulta o acesso aos pacientes.
 
Desde 2007, MSF tratou uma média de mil pacientes com doença do sono por ano. Para os próximos três anos, equipes da organização estão planejando atender ainda mais pacientes e diminuir a incidência da doença na região.

Em 2011, mais de 2,5 mil profissionais de Médicos Sem Fronteiras trabalharam em 10 das 11 províncias da RDC para oferecer assistência médica essencial gratuita. MSF está presente no país desde 1981.

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