República Centro-Africana: Zemio, uma nova cidade sob fogo

Bairro próximo à base de MSF foi atacado; milhares de famílias estão deslocadas e sem garantia de água ou alimento

Bairro próximo à base de MSF foi atacado; milhares de famílias estão deslocadas e sem garantia de água ou alimento

Zemio, Bangui, 4 de julho de 2017 – Confrontos violentos voltaram a acontecer nesta manhã em Zemio, cidade no leste da República Centro-Africana (RCA), onde combates ocorreram entre os dias 28 e 30 de junho.

A violência provocou o deslocamento de 15 mil a 20 mil pessoas. Mais de 4 mil delas buscaram refúgio no centro de saúde, 5 mil na missão católica e de 6 mil a 11 mil fugiram para locais diferentes nos arredores da cidade.

Apenas oito pessoas feridas conseguiram chegar ao centro de saúde, mas a equipe da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) ouviu relatos de que há muitas outras pessoas encurraladas em outros bairros, impossibilitadas de chegar à instalação médica devido à presença de homens armados na cidade.

“A vizinhança perto de nossa base foi incendiada, assim como outras partes da cidade. Neste fim de semana, pudemos trabalhar para fornecer assistência médica e apoio logístico para os mais vulneráveis, mas o confronto voltou a acontecer nesta manhã”, diz Mia Hejdenberg, coordenadora-geral de MSF.

“Queremos lembrar todos os combatentes da necessidade de respeitar o espaço humanitário de modo que as pessoas que não estão envolvidas no conflito possam ter suas necessidades básicas atendidas”.

Na quarta-feira e na quinta-feira de semana passada, a intensidade do conflito encurralou a equipe de MSF dentro do centro de saúde de Zemio, mas no sábado, 1º de julho, a organização fretou um avião para levar equipamentos médicos, medicamentos e itens não-alimentares como lonas de plástico, latrinas portáteis e sabonetes à região. Hoje, as necessidades mais urgentes são de água, alimento, abrigos e cuidados médicos.

“Os residentes de Zemio não tiveram tempo de levar nada com eles quando o tiroteio começou na manhã de quarta-feira”, diz Claude Bitaronga, coordenador de atividades médicas de MSF em Zemio.

“No centro de saúde, as pessoas se agrupavam em todas as salas de consulta e internação, em hangares e atrás de qualquer parede que pudessem encontrar para fugir das balas. Depois de algumas horas, as crianças começaram a chorar porque estavam com fome”.

MSF distribuiu água para as pessoas alojadas no centro de saúde, na igreja, na subprefeitura e na missão católica. A equipe médica instalou clínicas móveis e conduziu 70 consultas entre domingo e segunda-feira, principalmente para casos de malária. Os profissionais também distribuíram suplementos alimentares a crianças que estavam começando a sofrer de hipoglicemia. As atividades de MSF foram temporariamente suspensas quando confrontos voltaram a acontecer na manhã de hoje.

“Zemio foi uma região relativamente calma nos últimos anos, por isso há pouquíssimos agentes humanitários na cidade com capacidade de responder a essa emergência”, diz Mia Hejdenberg.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização neutra, independente e imparcial que oferece cuidados médicos de emergência durante conflitos, deslocamentos populacionais, epidemias e desastres naturais. A organização gere doze projetos na República Centro Africana. MSF começou a trabalhar em Zemio em 2010 e atualmente mantém um programa comunitário de cuidados para HIV/Aids que está beneficiando cerca de 1.400 pessoas que vivem com o vírus.
 

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