RDC: Equipe de MSF combate epidemia de febre tifóide

Desde o dia 20 de agosto, mais de 650 casos da doença foram registrados em Kikwit. A Unidade de Emergência de MSF na República Democrática do Congo dá apoio ao principal hospital da cidade para garantir tratamento gratuito aos pacientes

As equipes da Unidade de Emergência da República Democrática do Congo de Médicos Sem Fronteiras atualmente lutam contra a epidemia da febre tifóide em Kikwit, na Província de Bandundu, a cerca de 500km ao leste da capital Kinshasa. Desde o dia 20 de agosto, mais de 650 casos de febre tifóide foram registrados, incluindo 90 casos de peritonite e perfuração intestinal, além de cerca de 20 mortes.

MSF está dando suporte ao Hospital Geral do Norte de Kikwit para ajudar a oferecer tratamento gratuito e de qualidade para os pacientes mais simples, assim como para os que sofrem devido a complicações ou perfuração. "As clínicas móveis são responsáveis pelo atendimento dos pacientes mais simples e do fornecimento de antibióticos, enquanto os mais complicados são internados. Os casos de perfuração requerem intervenção cirúrgica", explica o médico Jean Lambert Chala-Chala de MSF. "É muito importante realizar uma boa triagem dos pacientes que chegam ao hospital". MSF também fornece medicamentos para o hospital, treina a equipe do hospital e dos centros de saúde da cidade, além de garantir a implementação de um diagnóstico de caso e protocolo de tratamento.

A febre tifóide é uma doença relacionada à água contaminada, saneamento básico inadequado e enchentes. Também conhecida como 'doença das mãos sujas', ela é causada por uma bactéria que as pessoas contraem por transmissão por via feco-oral. "A transmissão pode ser direta – por exemplo, se alguém não lava as mãos antes de comer – ou indireta – quando a bactéria passa por vetores como moscas na comida e no mercado", conta Chala-Chala.

Problemas de acesso à água

Entre janeiro e abril de 2006, MSF já havia realizado uma intervenção contra a febre tifóide em Kikwit. Números relativos ao mesmo período no ano passado também indicam um aumento da incidência da doença no início da estação chuvosa. Essa informação mostra que a febre tifóide está relacionada a problemas estruturais de suprimento de água potável em Kikwit e às más condições de higiene nas quais a maior parte da população vive. Em Kikwit, quase metade da população não tem vaso sanitário, escarradeiras ou qualquer fonte de água apropriada.

Ao longo das ruas íngremes de Bongisa, no município de Lukolela, as águas trazidas pela estação chuvosa correm entre casas e árvores. Uma lama avermelhada carrega o lixo e fezes, que desaguam no Rio Lukemi, mais abaixo da colina. Mas devido ao problema de suprimento de água em Kikwit, um cidade com cerca de 400 mil habitantes, muitas famílias se abastecem de água em fontes não protegidas e até mesmo nos rios."In Kikwit, o abastecimento de água é muito difícil", explica, Ibrahim Barrie, responsável pela Unidade de Emergência de MSF em Kinshasa. "A população tem que comprar água de várias torneiras espalhadas ao longo das principais estradas da cidade, onde a companhia de distribuição da água a vende por 1 franco congolês o litro. Para uma família de seis pessoas, isso pode custar até 3.600 FC (cerca de US$8), preço que muitas das famílias não podem pagar".

Vigilância

Uma importante parte do trabalho de MSF vai ser alertar a população sobre a necessidade de práticas de higiene básicas. "Uma equipe de profissionais da comunidade está treinando agentes comunitários em várias áreas de saúde de Kikwit", explica Barrie. "Essas pessoas vão então informar a população sobre comportamentos simples que podem ajudar a evitar a contaminação, como lavar as mãos antes das refeições, cozinhar os alimentos de forma adequada, cobrir os alimentos nos mercados, etc".

No entanto, em Kikwit, há pela frente a árdua tarefa de melhorar a infra-estrutura de saneamento e abastecimento de água, além de prevenir que epidemias de febre tifóide tirem mais vidas no futuro.

MSF trabalha na República Democrática do Congo desde 1981. Hoje, a organização conta a ajuda de mais de dois mil congoleses que trabalham junto com 150 profissionais internacionais dando assistência médica à população, nos cerca de 20 programas estabelecidos no país.

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