RDC: criança infectada com raiva morde família

Ao menos dez pessoas morreram infectadas após a ocorrência de um surto no leste da República Democrática do Congo (RDC)

O surto de raiva já afetou 154 pessoas, incluindo um pai e um filho, que foram mordidos por um membro de sua própria família. O pai, de 27 anos, e seu filho, de sete, foram infectados após terem sido mordidos pelo caçula, que estava morrendo devido à doença. Ambos foram tratados com uma vacina antirrábica e imunoglobina.

Ataques de cães raivosos
A Dra. Jantina Mandelkow, que lidera a equipe da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Lemera, na região de Kivu do Sul, na RDC, disse: “Respirei fundo quando soube que uma criança, morrendo devido à raiva, havia mordido e infectado seu pai e irmão. Foi horrível. É uma situação impossível. Membros da família obviamente vão querer estar com os doentes, mas, quando uma pessoa tem raiva, pode representar uma ameaça às pessoas à sua volta.”

“Em minha carreira como médica, conheci apenas um caso de raiva além desse, e foi uma das piores coisas que já vi. A raiva leva à morte se não for tratada e as pessoas em Lemera estavam incrivelmente aterrorizadas; muitas haviam caminhado por dias até o hospital para tratamento. Sem a disponibilidade de vacinas em outros lugares, eles não tinham alternativa”, explica.
As equipes de MSF vacinaram, até o momento, 106 pessoas. Sem tratamento, a raiva é fatal, levando à morte de forma lenta e dolorosa.
 
História de paciente
“Meu nome é Segemba Soya. Tenho 23 anos e quatro filhos. Moro em Kigero, não muito longe do hospital em Lemera. Caminhei uma hora para chegar ao posto de vacinação. Meu filho estava brincando com seus amigos quando um cachorro o mordeu. Um mês depois, sua saúde se deteriorou e, frequentemente, ele ficava com sede. Pensamos que ele estava possuído por espíritos do mal e o levamos à igreja para fazermos orações.
 
Enquanto rezávamos, ele pulou em mim e me mordeu quando coloquei minha mão em sua cabeça. Não senti nenhuma mudança em meu corpo. Fomos aconselhados a levar meu filho ao hospital. Quando chegamos ao Centro de Saúde de Bushuru, nos disseram que o motivo do sofrimento dele não eram os espíritos e, sim, a raiva, doença que pegou após ter sido mordido pelo cachorro. Alguns dias depois, ele morreu. No meu caso, fui ao hospital de Lemera para conseguir medicamentos. Agora, minhas preces foram atendidas, porque acabo de ser vacinada contra a raiva.”
 
Tratando a raiva
O tratamento envolve a vacinação de pessoas que tenham sido mordidas ou arranhadas por cachorros com suspeita de raiva e a administração de tratamento pós-exposição, quando necessário. Diante da indisponibilidade de vacinas na RDC, a equipe de MSF teve de solicitá-las na Europa antes de iniciar a resposta de emergência.
 
Com reportes de novas mordidas em áreas remotas, MSF planeja doar vacinas e o tratamento pós-exposição para o Ministério da Saúde, para que eles possam cuidar dos casos remanescentes.
 
Após décadas de conflitos e instabilidade na RDC, medidas para prevenir a transmissão do vírus de animais para humanos não foram implementadas.
 
Para conter o surto adequadamente, MSF está também pedindo que autoridades providenciem a vacinação gratuita de animais domésticos.
 
A população local não pode arcar com o custo de US$6 da vacina e, por isso, animais que apresentam comportamento suspeito estão sendo mortos. Se os corpos não são adequadamente dispensados, eles podem ser comidos por outros animais, infectando-os com a raiva.

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