Nigéria: país enfrenta falta de tratamento e diagnósticos para meningite C

Surto de meningite C é o maior visto em mais de nove anos; falta de recursos é um grande desafio para combater a epidemia

Nigéria: país enfrenta falta de tratamento e diagnósticos para meningite C

Entrevista com Bart Bardock, coordenador de projeto da Unidade de Resposta a Emergências da Nigéria (NERU, na sigla em inglês). O NERU está em funcionamento desde fevereiro nos estados nigerianos de Sokoto, Zamfara, Kebbi e no Níger e é responsável por coletar amostras, realizar atividades de vigilância e apoiar a campanha nacional de vacinação para reduzir os impactos do último surto de meningite C.

Como a NERU está respondendo ao atual surto de meningite nos estados de Sokoto e Zamfara?

Estamos em atividade em campo desde fevereiro, apoiando o Ministério de Saúde da Nigéria no diagnóstico de casos por meio da coleta de amostras que confirmam o tipo de meningite através de um exame rápido de laboratório. Treinamos equipes médicas, doamos antibióticos a centros de tratamento e ajudamos a detectar novos casos a fim de reduzir os índices de morbidade e mortalidade. Apoiamos dois centros de tratamento nos estados de Sokoto e Zamfara e, entre os dias 1 e 8 de maio, apoiamos o Ministério da Saúde com sua campanha de vacinação em Sokoto.

Quantas pessoas vocês vacinaram por dia no estado de Sokoto?

Tínhamos 25 equipes vacinando as pessoas durante sete dias. No fim da campanha de vacinação, vacinamos cerca de 140.600 pessoas nas três regiões mais afetadas de Sokoto, 95% do alvo pretendido – 148 mil pessoas – pela campanha do Ministério da Saúde.

A Nigéria teve repetidos surtos de meningite. Por que isso acontece?

A Nigéria faz parte do chamado “cinturão de meningite” da África Subsaariana. O cinturão se estende do Senegal, a oeste,  até a Etiópia, a leste, e atravessa 26 países que têm as maiores taxas da doença no continente. Em média, as vacinas têm um alcance de até três anos e, por isso, a imunidade que oferece à doença é apenas temporária. Com cerca de 300 milhões de pessoas vivendo no cinturão, é difícil manter a proteção em dia.

Esse surto é diferente dos que aconteceram em anos anteriores?

Estamos respondendo à meningite C desde 2013, mas este é o maior surto da doença registrado em nove anos. A Nigéria teve grandes surtos de meningite antes, mas eram de meningite A. Como resultado de expressivas campanhas de vacinação nos anos anteriores, os níveis de meningite A foram drasticamente reduzidos, o que permitiu que o tipo C da doença se tornasse predominante. Como muitas pessoas ainda não estavam protegidas contra a meningite C, ela se disseminou entre a população.

Quais os principais desafios que MSF enfrenta para responder a esse surto?

Os principais desafios são o número limitado de vacinas disponíveis para proteger a população, a falta de diagnósticos e de tratamento precoces e o conhecimento limitado sobre a doença entre a população. Em um país de 183 milhões de pessoas, é um desafio identificar rapidamente doenças com caráter potencialmente epidêmico. As pessoas nem sempre estão cientes dos sinais e sintomas da doença e, por isso, não procuram tratamento a tempo. Também é importante confirmar a suspeita de uma certa doença por meio de um exame laboratorial, a fim de evitar diagnósticos incorretos. Isso ajuda a identificar o tipo exato de meningite, e, portanto, permite que determinemos o tipo de vacina ou tratamento que pode ser usado para reduzir o impacto. A capacidade de resposta em países do “cinturão da meningite” que têm históricos de surtos da epidemia precisa ser melhorada.

Há alguma preocupação que deva ser destacada em relação à resposta oficial a esse surto?

A resposta tardia que foi dada, devido a um sistema enfraquecido de vigilância, causou atraso na declaração do surto.Isso, além da falta de testes e da grave escassez de tratamento, são os principais desafios que a Nigéria enfrenta em sua resposta ao atual surto. Eu realmente reconheço os esforços empregados por todos que estão respondendo à epidemia, mas, devido a inúmeros fatores, a resposta geral começou tarde demais.

Quais devem ser os próximos passos nessa resposta?

A vacinação da população em risco é a melhor e mais proativa maneira de garantir proteção por meio da imunização em massa e também de conter o surto o máximo possível. Depois da grande campanha com vacinas conjugadas contra a meningite A, não houve mais registro de surto desse tipo da doença desde 2013. Isso prova que é possível acabar com grandes surtos por meio de uma quantidade de vacinas de qualidade e uma boa estratégia.

Outra maneira de reduzir o impacto da epidemia e salvar vidas é oferecer tratamento oportuno e adequado com antibióticos,  justamente o que fizemos em nossos centros de tratamento. Além disso, avaliamos continuamente os locais onde há maiores necessidades a fim de responder em tempo adequado. A descentralização dos centros de tratamento também é necessária para responder adequadamente a essas emergências.

A Unidade de Resposta a Emergências (NERU, na sigla em inglês) de MSF está em funcionamento na Nigéria desde 2006, respondendo a emergências médicas como surtos de meningite e sarampo.
 

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