Navio de MSF que levava 700 imigrantes resgatados no Mar Mediterrâneo não foi autorizado a atracar na Sicília

Autoridades locais afirmam que o sistema de recepção não tinha capacidade para atender a todos

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O barco de busca e resgate Bourbon Argos da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) está, atualmente, navegando na costa norte da Sicília com cerca de 700 pessoas a bordo, em direção ao porto de Régio da Calábria, onde deveria ter atracado na manhã de sábado (11/07). Apesar das longas discussões com autoridades italianas e dos esforços realizados pela guarda costeira italiana, o Bourbon Argos não foi autorizado a desembarcar os 700 imigrantes na Sicília devido à falta de capacidade do sistema de recepção.

Na quarta-feira, 15 de julho, o Bourbon Argos resgatou 678 pessoas de seis barcos diferentes e recebeu um paciente, transferido por razões médicas por um barco da guarda costeira italiana. Entre os imigrantes resgatados, havia pessoas de Bangladesh, Costa do Marfim, Eritreia, Gâmbia, Guiné, Líbia, Mali, Nigéria, Senegal e Somália.

“A equipe de MSF trabalhou 24 horas por dia e ofereceu cuidados àqueles que precisavam de atenção médica. O barco está completamente lotado e os imigrantes estão ficando no convés em um espaço muito limitado”, diz Alexander Buchman, coordenador de MSF no Bourbon Argos. “Nas últimas 24 horas, essa situação causou tensão entre as pessoas e sérias preocupações de segurança à bordo do barco.”

Na quinta-feira à noite (16/07), depois de muito esforço, finalmente, MSF recebeu permissão para desembarcar 150 dos 700 imigrantes no porto de Trapani, na costa oeste da Sicília. No entanto, a organização decidiu não prosseguir com o desembarque parcial, na medida em que um ambiente tão lotado poderia resultar em sérios riscos de segurança. Muitas pessoas a bordo expressaram seu medo de serem “levadas de volta à Líbia”, e a situação no barco já estava extremamente tensa.

Apenas sete pacientes que precisavam de atenção médica urgente foram desembarcados, junto a seus parentes. Dois casos eram particularmente graves: uma mulher, transferida do barco da guarda costeira italiana, que sofria de hipertensão e hipovolemia com dores abdominais, e precisava urgentemente de hospitalização; e um bebê de um ano com pneumonia, febre e dispneia. MSF ofereceu tratamento antibiótico e hospitalização para diagnóstico e tratamento adicionais.

 “Há dois dias, estamos tentando entender onde seria permitido que atracássemos, coordenando e trabalhando 24 horas por dia com a guarda costeira italiana, enquanto isso, temos de manter um nível aceitável de segurança a bordo”, adiciona Alexander Bucham. “Esse incidente causou sérios riscos de segurança a bordo do barco e forçou 700 pessoas a passar duas noites inteiras no convés em condições muito difíceis.”  

Na manhã de sexta-feira (17/07), após longas negociações, o Bourbon Argos foi direcionado ao porto de Messina, no leste da Sicília. Algumas horas depois a decisão foi mudada e o destino final agora é Régio de Calábria. O Bourbon Argos está, no momento, navegando a costa norte da Sicília, mantendo-se nas rotas das costas italianas para não fomentar temor entre os imigrantes a bordo, e deve chegar a Régio de Calábria no sábado de manhã.

 “A falta de preparo do sistema de recepção italiano está tendo consequências concretas que estamos vendo em primeira mão”, adiciona Loris De Filippi, presidente de MSF na Itália. “Estamos em julho, e as chegadas não irão parar tão cedo, então, esse problema deve ser respondido agora. O Ministério do Interior deve, de fato, permitir o desembarque nos portos mais próximos da Sicília para deixar que barcos retornem o mais rápido possível à zona de busca e resgate para realizar futuros resgates.”

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