MSF teme que forças israelenses inviabilizem operação de mais um hospital de Gaza

Militares impõem restrições ao hospital Nasser, seguindo padrão que tem inutilizado instalações médicas

Profissional de MSF em frente ao Hospital Nasser, em Gaza, após um ataque israelense em 23 de março de 2025. ©MSF

No sul de Gaza, as ordens de deslocamento e as restrições de movimento impostas pelas autoridades israelenses relacionadas ao hospital Nasser estão fazendo com que essa instalação médica vital se torne inoperante, alerta Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Ordenar que os hospitais recusem novos pacientes e dificultar o acesso das pessoas aos locais de atendimento têm sido um padrão das forças israelenses durante a guerra, destinado a acabar com os hospitais.

O Nasser é uma instalação vital que restou para as pessoas que necessitam de cuidados médicos, e sua funcionalidade completa deve ser restaurada imediatamente e preservada.

 

Restrições de deslocamento

Em 3 de junho, nossas equipes foram informadas de que qualquer deslocamento para o hospital Nasser exigiria autorização, que deveria ser solicitada com pelo menos 24 horas de antecedência. Isso significava que os profissionais de saúde do turno do dia não poderiam chegar ao local. A equipe da noite anterior teve de continuar trabalhando por 48 horas seguidas.

O ambulatório permaneceu fechado durante todo o dia. As ambulâncias que conseguiram transportar pacientes para o hospital o fizeram com grande risco, pois havia o perigo de serem alvejadas por conta da falta de autorização. A localização do Nasser na linha de frente dos ataques dificulta o acesso da equipe e dos pacientes a esse hospital vital remanescente.

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Isso ocorre enquanto as pessoas em Gaza se encontram em um estado de exaustão, com suas vidas destruídas por 20 meses de uma guerra extremamente violenta e um cerco sufocante, em que até mesmo a distribuição de quantidades mínimas de ajuda resulta em massacres devastadores. Neste contexto, qualquer instalação médica ainda em funcionamento é de importância fundamental e deve ser protegida.

 

Padrão de ataques aos serviços de saúde

Os ataques à saúde não são realizados apenas por meio de ações militares. Eles ocorrem através de limitações impostas à importação de suprimentos médicos, que forçam profissionais de saúde a racionar medicamentos usados para o alívio da dor. Acontecem também por meio de ordens de deslocamento, o que faz com que hospitais inteiros tenham que fechar rapidamente. Ocorrem, ainda, por meio de assédio e ordens confusas emitidas pelas autoridades israelenses, dificultando cada vez mais o fornecimento de cuidados que salvam vidas.

Colocar o hospital Nasser fora de serviço equivaleria a uma sentença de morte para os pacientes mais graves, entre adultos e crianças feridos.”

– Jose Mas, coordenador emergência de MSF

“Já vimos esse padrão antes”, diz Jose Mas, coordenador emergência de MSF. “Aconteceu com instalações como Al Awda e o hospital Indonésio, no norte de Gaza, onde primeiro foi solicitado que não admitissem mais pacientes e, alguns dias depois, [os locais] foram atacados e praticamente fechados. Colocar o hospital Nasser fora de serviço equivaleria a uma sentença de morte para os pacientes mais graves, entre adultos e crianças feridos, pessoas em estado crítico e mulheres que precisam de cuidados obstétricos de emergência.”

 

Hospital Nasser
O Nasser é um grande hospital de referência com muitas alas especializadas que não são encontradas em nenhum outro lugar no sul de Gaza, incluindo salas de cirurgia, uma usina de oxigênio, ventiladores, um banco de sangue e incubadoras.

Reduzir o acesso a esse hospital e bloquear o encaminhamento de pacientes que precisam de cuidados especializados e emergenciais são ações que impedem as pessoas de receberem tratamento que pode salvar suas vidas.

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Nos últimos meses, as equipes médicas de MSF no hospital Nasser prestaram atendimento a mais de 500 pacientes na maternidade, incluindo mulheres que precisavam de cuidados cirúrgicos, bem como a mais de 400 bebês recém-nascidos e pacientes pediátricos. No local, há muitas pessoas com queimaduras e traumas graves.

 

Pacientes, equipes e hospitais não estão seguros

A assistência médica está sendo atacada em todo o território. Na manhã de 4 de junho, as forças israelenses atacaram três vezes o hospital Al Aqsa, apoiado por MSF, a principal instalação em Deir Al Balah, no centro de Gaza.

Embora nenhuma vítima tenha sido relatada, esse é um forte lembrete de como os pacientes, a equipe médica e as instalações de saúde estão constantemente em grande risco em Gaza.

Nossas equipes receberam pacientes que ficaram gravemente feridos enquanto tentavam conseguir comida, por causa dos tiroteios que ocorreram nos arredores dos centros de distribuição de alimentos da organização Gaza Humanitarian Foundation, apoiada por Israel e pelos Estados Unidos.

Isso se soma às pessoas que foram feridas no bombardeio contínuo da Faixa de Gaza. Os hospitais estão sobrecarregados de pacientes.

É essencial que as autoridades israelenses protejam o hospital Nasser e garantam acesso total e desimpedido aos pacientes e à equipe médica, para evitar mais mortes.

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