MSF abre centro de recepção para casos suspeitos de Ebola na RDC

Trabalho é intensificado após aumento recente no número de casos em Beni, novo epicentro da epidemia

MSF abre centro de recepção para casos suspeitos de Ebola na RDC

Um novo centro de recepção para pacientes suspeitos de Ebola começou a funcionar na cidade de Beni, na República Democrática do Congo (RDC). As instalações vão ajudar a ampliar a resposta à epidemia da doença, que foi declarada em agosto na província de Kivu do Norte e vem se agravando.

“O objetivo deste centro de recepção é aumentar a capacidade geral de atendimento a pacientes em Beni. Desde que a cidade se tornou o novo foco do surto em outubro, novos casos confirmados têm aparecido com freqüência em vários bairros da localidade”, afirmou Marie Burton, coordenadora do projeto. “O novo centro de recepção foi construído muito próximo ao centro de tratamento de Ebola, cuja capacidade estava saturada. A proximidade dos dois vai facilitar o acesso aos vários componentes da resposta na cidade”.

A instalação foi construída em um antigo campo de futebol de 8 mil metros quadrados e exigiu uma semana de trabalho intenso. Ajudados pelos mesmos jovens que costumavam jogar futebol no local, as equipes de MSF passaram por temporais e superaram grandes obstáculos logísticos para concluir os trabalhos o mais rapidamente possível.

Os pacientes suspeitos de Ebola serão admitidos no centro de recepção até a confirmação de suas análises laboratoriais. A equipe médica de MSF fornecerá atendimento imediato de acordo com o estado clínico de cada pessoa. Uma vez confirmado o diagnóstico, os pacientes positivos para o Ebola serão transferidos para o centro de tratamento, que fica ao lado, enquanto aqueles cujo teste der negativo serão transferidos para outras unidades de saúde, onde serão prestados cuidados adicionais. Até recentemente, ambos os casos – confirmados e suspeitos –,  eram  admitidos no centro de tratamento, embora as duas alas estivessem isoladas.

No novo centro, a preferência foi disponibilizar quartos individuais em detrimento de tendas maiores, para melhorar o isolamento dos pacientes. As divisórias foram equipadas com grandes janelas de acrílico para que a equipe médica mantenha contato visual com os pacientes, mas também para que eles possam ver sua família e seus entes queridos quando os visitam. A capacidade inicial do centro de 16 leitos pode ser aumentada para 32 e até 48 em caso de necessidade, com base na forma como o surto vai evoluir.

As equipes estão cada vez mais empenhadas no rastreamento de casos suspeitos, à medida que a epidemia atinge um novo patamar. Cerca de 30 novos casos suspeitos são identificados todos os dias e admitidos no centro de recepção em Beni.

Pior surto já registrado na RDC – Em pouco mais de três meses desde que foi declarada, essa epidemia de Ebola – a décima na história da RDC – se tornou a pior já registrada no país. Até o momento, foram identificados 341 casos, dos quais 303 foram confirmados. O epicentro mudou-se da pequena cidade de Mangina, onde foram encontrados os primeiros casos, para uma cidade maior, Beni, onde o número de novos pacientes suspeitos e confirmados de Ebola aumentou constantemente durante semanas, até a completa saturação da capacidade de atendimento de pacientes.

Desde 1 de agosto, o vírus já matou 215 pessoas e várias organizações estão fazendo o melhor possível para evitar que ele se espalhe ainda mais. Mais de 100 pacientes conseguiram se recuperar até o momento. Numa área onde há muita insegurança e o acesso a partes da população pode ser difícil, a atuação médica enfrenta sérios desafios e o surto ainda não foi contido.

“Desde que o foco da epidemia mudou de Mangina para Beni, o surto se tornou mais difícil de controlar. Observamos agora um número crescente de novos casos mais ao sul, na cidade de Butembo, que é ainda maior. Tememos que a situação se torne ainda mais difícil de gerenciar, a menos que a resposta nessa área seja significativamente fortalecida”, diz Gwenola Seroux, gerente da célula de emergência de MSF em Paris.

Nas últimas semanas, houve um aumento significativo de novos casos em Butembo, um centro regional de comércio, muito perto da fronteira com Uganda. Os acontecimentos recentes exigem mais recursos e atenção, com o risco de essa grande cidade se tornar um novo ponto crítico para o surto.

Engajamento comunitário – Além do desafio de uma população em constante movimento, muitos dos entraves à resposta têm origem no medo que uma doença tão mortal provoca na população. O temor pode atrapalhar o relacionamento entre comunidades e profissionais de saúde. Como resultado, muitas vezes há relutância em notificar novos casos, relatar aos centros de tratamento ou aceitar a atuação das equipes responsáveis para garantir o enterro seguro e digno das vítimas do Ebola.

“Observamos a necessidade de uma comunicação melhor e mais eficaz por parte de todos os participantes da resposta, a fim de conquistar a confiança das pessoas. As taxas de mortalidade são muito altas; as pessoas podem ser levadas a acreditar que os centros de tratamento são lugares onde você vai morrer, quando na verdade dezenas de pacientes conseguiram se recuperar”, disse a médica Axelle Ronsse, coordenadora de emergência de MSF para a intervenção contra o ebola. Ela explicou que, na verdade, “ser internado em um centro de tratamento em um estágio inicial da doença aumenta as chances de recuperação”.

MSF está presente em Beni desde o início do surto, em agosto de 2018, e atua em várias frentes, com o objetivo de conter a disseminação do vírus e atender às necessidades da população da província de Kivu do Norte. Juntamente com outras organizações que participam da resposta, as equipes de MSF fazem visitas regulares a 24 centros de saúde para fornecer treinamento e material. Também realizam reuniões regulares com as comunidades locais, a fim de compartilhar informações sobre a doença e as formas de evitar o contágio. Como parte das atividades de prevenção e controle de infecções de MSF, equipes da organização oferecem descontaminação em centros de saúde após a identificação e transferência de casos confirmados de Ebola para as instalações apropriadas.

Equipes de MSF também vacinaram mais de 600 pessoas no mês de outubro na cidade de Beni, tanto profissionais de saúde da linha de frente ou possíveis contatos de pacientes com ebola. A vacinação também foi fornecida na cidade de Butembo em novembro.
 

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