Malária e desnutrição: 3 estratégias utilizadas para conter os casos no Níger em parceria com a comunidade

Mudanças climáticas têm aumentado condições para a transmissão de doenças e agravamento da insegurança alimentar no país.

Foto: Laurence Hoenig/MSF
Foto: Laurence Hoenig/MSF

Há anos, Médicos Sem Fronteiras (MSF) observa os impactos das mudanças climáticas na vida das pessoas que atendemos e em nossas atividades médico-humanitárias. À medida que respondemos a muitas das crises mais urgentes do mundo, conflitos, desastres, epidemias, deslocamentos, estamos testemunhando as consequências e os impactos ampliados que as mudanças climáticas podem ter sobre pessoas extremamente vulneráveis.

No Níger, a mudança nos padrões de chuva está afetando a produção de alimentos e a disseminação de doenças infecciosas, como a malária. “As chuvas estão se tornando muito escassas e distribuídas de forma desigual”, disse o supervisor de promoção da saúde de MSF, Salissou Abdel Aziz. A combinação mortal de malária e desnutrição afeta fortemente as crianças menores de cinco anos.

MSF está adaptando sua resposta desenvolvendo abordagens preventivas mais próximas das comunidades, como tratamento de pontos de água e treinamento de trabalhadores comunitários para detectar e tratar precocemente a malária e a desnutrição. Confira a seguir.

1.Detecção precoce e tratamento comunitário:

Foto: Mario Fawaz/MSF

A estratégia de Gestão Integrada de Casos da Comunidade (da sigla em inglês, ICCM) treina e implementa agentes comunitários de saúde em áreas de difícil acesso para fornecer serviços de diagnóstico, tratamento e encaminhamento para três doenças infantis comuns, tratáveis e curáveis: malária, pneumonia e diarreia em crianças menores de cinco anos. O objetivo dessas atividades comunitárias é facilitar o acesso aos cuidados básicos de saúde e prevenir o desenvolvimento de complicações médicas da população infantil.

A estratégia de atenção descentralizada funciona enviando as crianças levemente doentes para casa, com medicamentos, e encaminhando as crianças mais gravemente doentes para os centros de saúde. Em abril de 2019, começamos a treinar 68 membros da comunidade em 35 vilarejos da comuna de Magaria. Em outubro de 2021, nossas equipes estavam implementando essa estratégia em 165 vilarejos em quatro comunas, com um total de 278 agentes comunitários de saúde.

2. Interrupção da cadeia de transmissão da malária:

Foto: Mario Fawaz/MSF

Além de trabalhar para alcançar as comunidades, focamos em atividades de prevenção. Em junho de 2021, nossas equipes lançaram uma atividade piloto em 15 vilarejos da comuna de Bandé para prevenir o desenvolvimento de larvas de mosquitos transmissores da malária. Esses vilarejos têm grandes quantidades de água muito próximas das casas das pessoas, que tornaram-se criadouros e habitats para diferentes tipos de mosquitos, incluindo os responsáveis pela transmissão da malária ao longo do ano. Leia mais sobre as atividades de tratamento de água de MSF em Magaria.

Nossas equipes lançaram uma segunda atividade em nove vilarejos de Maidamoussa, na comuna de Magaria, para combater a malária pulverizando o interior das casas. A atividade consiste em pulverizar as paredes das casas e mesquitas com inseticidas, para cortar a cadeia de transmissão da doença.

3. Conscientização e ações de educação em saúde para a comunidade:

Foto: Mario Fawaz/MSF

Outro elemento essencial que implementamos foi o aumento de ações de educação em saúde comunitária; a educação realizada pelos promotores de saúde de MSF e a conscientização feita por agentes comunitários, também conhecidos como “Mamans Lumière”, ou “mães da luz”.

O projeto “Mamans Lumière” consiste em treinar e apoiar mães de diferentes vilarejos para conscientizar e educar seus amigos e vizinhos sobre malária e desnutrição e ajudar a detectar casos o mais cedo possível, antes que eles se agravem e requeiram cuidados hospitalares. Semelhante à atividade do Gestão Integrada de Casos da Comunidade, o projeto “Mamans Lumière” começou em 2019 e cresceu gradualmente para incluir mais localidades. Em outubro de 2021, 181 Mamans Lumière trabalhavam em 165 vilarejos.

Uma abordagem abrangente

Foto: Mario Fawaz/MSF

O foco na abordagem comunitária não pode funcionar sozinho. Um sistema de referência e um bom hospital são necessários para garantir a continuidade dos cuidados e o acesso total aos serviços de saúde em casos graves. Isso é um projeto holístico em todos os níveis.

Hoje, como o único ator internacional na região ao redor de Magaria, MSF teve que mudar as atividades de resposta médica de emergência para projetos de capacitação e prevenção. A solução não é apenas médica, mas multifatorial.

Para quebrar verdadeiramente o ciclo da desnutrição infantil e da malária de forma sustentável, são necessários programas de desenvolvimento abrangentes e o envolvimento de uma série de atores especializados em segurança alimentar e promoção da saúde. Os efeitos positivos já podem ser observados a nível clínico, mas é necessário fazer mais em todas as fases para melhorar a saúde e o desenvolvimento das crianças.

 

Compartilhar
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on print