Líbano: “Condições precárias fazem da vida uma luta diária em Burj El-Barajneh”

MSF gerencia programa de saúde mental no campo de Burj el-Barajneh para palestinos e libaneses vulneráveis

Desde o final de 2008, MSF está gerenciando um programa de saúde psicológica, dentro e nos arredores do campo de Burj el-Barajneh, no Líbano, para palestinos e libaneses vulneráveis. Nos dois últimos anos, mais de mil pessoas foram tratadas pelo programa, baseado em uma abordagem comunitária que une cuidados psiquiátricos e psicológicos e apoio social para um desenvolvimento mental saudável.

Quando o Estado de Israel foi criado em 1948, centenas de milhares de palestinos foram forçadas ao exílio. Mais de 60 anos depois de serem forçados a abandonar suas casas, milhões de refugiados palestinos ainda vivem em acampamentos. Mais de 200 mil refugiados palestinos estão registrados no Líbano, e cerca de metade vive em uma dúzia de acampamentos espalhados pelo país. Aproximadamente 60% dos refugiados palestinos estão desempregados, e um número próximo a este vive abaixo da linha da pobreza, segundo dados da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês). Saiba mais sobre a situação geral do Líbano.

Espremido entre o aeroporto e a região dos subúrbios no sul de Beirute, o acampamento de Burj el-Barajneh é a área mais densamente povoada da capital, e abriga cerca de 18 mil pessoas em um espaço de apenas um quilômetro quadrado.

Uma abordagem comunitária

O programa de saúde mental comunitário de MSF, que teve início em dezembro de 2008, foi o único a oferecer consultas gratuitas no acampamento de refugiados de Burj el-Barajneh e na região vizinha. Com a quebra de tabus relativos à saúde mental, e o apoio oferecido, as pessoas estão começando a falar de seus problemas abertamente.

Uma equipe formada por profissionais do Líbano, da Palestina e de outros países está fornecendo apoio psicológico, psiquiátrico e social às pessoas mais vulneráveis, independentemente de gênero, nacionalidade, afiliação política ou opção religiosa. Em 2009 e 2010, mais de mil pacientes se consultaram com psicólogos e psiquiatras de MSF, sendo a maioria (60%) formada por mulheres palestinas e libanesas com idades entre 25 e 40 anos.

Muitos moradores dos acampamentos foram profundamente afetados por guerras e conflitos sucessivos. Eles não têm perspectivas de futuro; é difícil conseguir emprego; e a maioria sofre com uma situação sócio-econômica precária. Em um ambiente como este, a depressão é muito comum. Afeta quase um terço dos pacientes atendidos. Outros 22% sofrem de ansiedade; 14% de psicose; 10% de transtornos bipolares e distúrbios de personalidade.

“MSF sempre tenta partir de uma abordagem baseada nas relações comunitárias e multidisciplinares,” disse Pierre Bastin, assessor de saúde mental de MSF em Genebra. “Isto quer dizer que nós não nos limitamos a receitar remédios, mas também tentamos oferecer cuidados bio-psicológicos e de compreensão. Como os fatores por trás das doenças são de natureza biológica, psicológica e social, o tratamento também deve ser direcionado para essas três áreas. Em termos práticos, isso quer dizer que o fator biológico será tratado com medicamentos receitados pelo psiquiatra, e o aspecto psicológico será tratado pelo psicólogo que trabalha com o paciente e, possivelmente, seus familiares. Quanto ao fator social, também há condições sociais que precisam ser atendidas para auxiliar o progresso do paciente”.

Os efeitos prolongados da guerra

Apesar da guerra que começou em julho de 2006 no Líbano já ter acabado, seus efeitos ainda permanecem. Durante o conflito, MSF descobriu que uma em cada seis pessoas no país necessita de cuidados psicológicos, em um país cuja oferta de cuidados de saúde mental é extremamente limitada.

De acordo com uma pesquisa nacional publicada no site “The Lancet”, em 2006, distúrbios mentais são tão comuns no Líbano quanto na Europa Ocidental, mas o número de pessoas que não recebem tratamento é bem maior no Líbano do que no Ocidente. O sistema de saúde libanês é dominado pelo setor privado, e os tratamentos são muito caros. A assistência psicológica é disponibilizada apenas para as crianças, enquanto os adultos – especialmente os refugiados – raramente têm acesso ao tratamento que necessitam. Os projetos de MSF atendem somente à população adulta.

Desde o início do projeto em Burj el-Brajnesh, psicólogos e psiquiatras de MSF já deram 8.023 consultas e prestaram assistência psicológica a 1.160 pacientes.

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