Iraque: a difícil jornada de curar feridos em Mossul

Cuidados pós-operatórios são essenciais ao progresso da saúde dos pacientes

Iraque: a difícil jornada de curar feridos em Mossul

Ahmed mexe seu pé esquerdo cautelosamente para cima e para baixo, deitado em um leito de hospital no leste de Mossul. Seu rosto está esquelético e falar o deixa cansado conforme ele conversa com alguns dos profissionais médicos que o assistem. Um médico concorda com a cabeça, encorajando o progresso lento, mas constante do paciente.

Há três semanas, mesmo esses pequenos movimentos eram quase impossíveis para o paciente. Desde que chegou ao hospital de Al Taheel, de Médicos Sem Fronteiras (MSF), Ahmed foi submetido a uma série de cirurgias e cuidados pós-operatórios para tratar ferimentos sofridos há mais de quatro meses durante uma explosão na parte externa de sua casa. Quatro de seus vizinhos foram mortos no ataque, mas alguns sobreviventes levaram Ahmed a um hospital próximo.

Ali, Ahmed passou por uma cirurgia de emergência para estabilizar sua condição. Porém, pouco tempo depois, o hospital foi atingido por um ataque aéreo. Apesar de sua condição comprometida de saúde, Ahmed conseguiu fugir do hospital atingido para a casa de um parente. Porém, ele não conseguiu chegar a nenhuma outra instalação médica durante semanas devido aos confrontos que aconteciam em seu entorno.

Ao longo da batalha por Mossul, equipes de resposta de emergência, incluindo a de MSF, viabilizaram milhares de ações para salvar a vida dos recém-feridos sempre que isso era possível. Cirurgias de primeira ordem continuam sendo cruciais para aqueles apanhados pelo conflito em andamento em algumas partes do oeste da cidade. Porém, outra necessidade médica está surgindo na sequência desse conflito, afetando muitos das centenas de milhares de pessoas que tentam seguir com suas vidas nas áreas mais seguras do leste de Mossul e em campos de deslocados.

Nesses lugares, muitos homens, mulheres e crianças ainda sofrem de feridas traumáticas ocorridas há meses e parcialmente curadas. Civis caminham com estilhaços ainda alojados em seus corpos, limitando seus movimentos. Homens, mulheres e crianças sofrem com queimaduras e feridas de tiros antigas. Pacientes que receberam fixadores externos para estabilizar ossos estilhaçados agora têm pinos metálicos saindo de seus membros quebrados, com risco de infecção.

Para eles, a jornada de cura da incapacitação das feridas de guerra até qualquer coisa que se assemelhe a uma vida normal ainda é longa e muito incerta. Muitos hospitais em Mossul foram danificados ou destruídos, o que significa que pacientes têm que lutar para ter acesso a cuidados de saúde e que provisões de pós-operatório e serviços de reabilitação estão desesperadamente em falta. MSF está operando dois projetos, afim de prover esses serviços vitais, mas pode apenas ajudar uma proporção muito pequena daqueles que requerem assistência.

Abood é um jovem menino que recebe cuidados de reabilitação no projeto mantido por MSF em Hamdaniya, a 35 quilômetros de distância de Mossul. Após ser atingido nas costas por uma bala enquanto fugia de confrontos em Mossul, ele entende a grande diferença que cuidados pós-operatórios podem ter na vida de alguém. Inicialmente, os médicos alertaram que talvez ele não conseguisse mais andar. “Eu estava completamente paralisado. Não havia mais esperanças para o meu caso”, diz ele. Porém, depois de ser encaminhado para os cuidados de reabilitação com MSF, tal como Ahmed, Abood está tendo um progresso gradual a cada dia. “Houve muito progresso”, conta o menino.

Para o incontável número de pessoas que não conseguem alcançar os cuidados pós-operatórios de que precisam, o futuro é mais incerto.  

MSF está fornecendo assistência médica necessária com urgência para residentes de Mossul em oito locais onde tem projetos na cidade e seus arredores, incluindo intervenções cirúrgicas para feridos de guerra, cuidados maternos, desnutrição, cuidados de saúde mental e outros serviços médicos. Em Al Hamdaniya, MSF forneceu cuidados pós-operatórios, reabilitação e apoio psicossocial a 275 pacientes em colaboração com a Handicap International. Em Al Taheel, MSF fez 175 cirurgias, na maioria intervenções cirúrgicas de acompanhamento e casos antigos de trauma.

MSF oferece assistência médica neutra e imparcial independentemente de raça, religião, gênero ou afiliação política. Para garantir sua independência, MSF não aceita financiamento de qualquer governo ou agência internacional para os seus programas no Iraque, contando apenas com doações privadas do público geral ao redor do mundo para executar seu trabalho.
 

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