Gaza: hospitais no Sul recebem centenas de feridos enquanto forças israelenses intensificam bombardeios

“O hospital tem recebido muitos pacientes gravemente feridos quase a cada hora”, diz profissional de MSF em Khan Younis.

Hospital Al-Aqsa, onde pacientes e pessoas deslocadas precisam se abrigar. Gaza, 29 de novembro de 2023. © Mohammed ABED

Desde que a frágil trégua em Gaza, na Palestina, foi interrompida no dia 1º de dezembro, os ataques aéreos e terrestres das forças israelenses deixaram centenas de pessoas mortas e feridas. Dois hospitais apoiados por Médicos Sem Fronteiras (MSF) – o hospital Al-Aqsa, na Área Central, e Nasser, ao sul – onde equipes palestinas e internacionais de MSF estão trabalhando e morando, mal conseguem lidar com o fluxo de pacientes.

Ouvimos bombardeios ao nosso redor dia e noite”, relata Katrien Claeys, líder da equipe de MSF na Área Central de Gaza, onde profissionais de MSF apoiam as equipes de saúde locais no tratamento de pessoas com ferimentos causados por explosões e queimaduras. “Nas últimas 48 horas, mais de 100 mortos e mais de 400 feridos chegaram à sala de emergência do hospital Al-Aqsa. Alguns pacientes foram levados para cirurgia imediatamente.”

 

Quando há um número de pacientes feridos que sobrecarrega gravemente a capacidade do hospital, não é possível priorizar os serviços destinados a tratar condições que não são imediatamente fatais.

“Vemos pacientes com sinais de infecção e necrose, pois não recebem uma troca de curativo há dias e, às vezes, semanas”, conta Claeys.

As equipes de MSF montaram uma unidade temporária de curativos dentro do hospital de Al-Aqsa para fornecer tratamento a pacientes com feridas crônicas, ferimentos causados por acidentes domésticos ou ataques anteriores.

O hospital Nasser, em Khan Younis, onde as equipes de MSF fornecem atendimento cirúrgico a pacientes com trauma e queimaduras, está agora à beira do colapso devido ao fluxo contínuo de novos pacientes.

O hospital tem recebido vários pacientes gravemente feridos quase a cada hora”, relata Chris Hook, coordenador-médico de MSF em Khan Younis. “Com a situação no hospital – não há mais espaço disponível – é uma situação realmente terrível. Todos estão genuinamente preocupados com o que virá a seguir.”

 

Forças israelenses ordenam que civis no sul se movam novamente

À medida que as ofensivas aéreas e terrestres de Israel se movem para o sul, as pessoas em alguns bairros da Área Central e de Khan Younis receberam ordens para evacuar mais ao sul, em direção a Rafah, ao longo da fronteira com o Egito. Precisamos suspender nosso apoio médico às clínicas Martyrs e Beni Suhaila, pois elas estão localizadas em áreas sob ordem de evacuação.

“Todos os dias, as autoridades israelenses ordenam que um novo bairro seja evacuado, pedindo que as pessoas se mudem para outra cidade, cada vez mais ao sul”, relata um membro da equipe de MSF deslocado internamente em Khan Younis. “Mesmo durante a trégua, as pessoas não podiam voltar para suas casas no norte. Apenas três ou quatro bairros permanecem acessíveis, e todos eles estão superlotados.”

A maioria dos 1,8 milhão de pessoas deslocadas internamente em Gaza procurou abrigo no sul, onde atualmente vivem em condições terríveis. Muitos civis já foram deslocados várias vezes desde 7 de outubro. Eles não têm para onde ir, pois nenhum lugar é seguro.

Obter acesso a serviços essenciais, incluindo cuidados de saúde, tornou-se extremamente desafiador para as pessoas no sul de Gaza. Restrições rígidas de movimento impostas pelas forças israelenses e bombardeios pesados e contínuos impedem que as pessoas busquem ajuda médica a tempo, ao mesmo tempo em que dificultam a capacidade de resposta de nossas equipes.

No hospital Nasser, o número de pessoas deslocadas aumentou acentuadamente mais uma vez desde o último sábado, 6 de dezembro, com novos abrigos sendo montados por todo o estacionamento. Muitas pessoas estão dormindo no chão, ao lado da instalação médica.

“Em uma campanha militar que durou semanas, com apenas uma breve pausa, a velocidade e a escala dos bombardeios continuam a atingir as profundezas da brutalidade”, diz Hook. “Quase 2 milhões de pessoas foram deixadas sem opções. A única solução é um cessar-fogo imediato e contínuo e o fornecimento irrestrito de ajuda humanitária a toda a Faixa de Gaza.”

 

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