Feridas silenciosas: explorando os desafios morais e éticos da COVID-19

Dois anos após a declaração oficial do início da pandemia, seis profissionais de MSF compartilham suas histórias sobre o impacto psicológico e emocional

Foto: Mariana Abdalla/MSF

Os profissionais humanitários vivenciam dilemas morais em seu trabalho, isto não é novidade, nem é particular da COVID-19. Mas a pandemia trouxe à tona o que significa prestar assistência de saúde em condições precárias e precisar lidar apenas com escolhas negativas.

A rápida disseminação da COVID-19 criou uma série de restrições sem precedentes: uma escassez global de suprimentos médicos, restrições de viagem e a repentina ausência de profissionais que contraíram a doença.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) estava preocupada com a nossa capacidade de responder à pandemia – inclusive em países mais ricos, muitos deles, novos contextos para a organização – enquanto lutava para manter as atividades existentes em mais de 80 países.

 

Para ilustrar os impactos diretos e indiretos da pandemia em nossos profissionais, MSF abriu um espaço para compartilhar suas histórias.

 

  • Koana Rojas | Venezuela

“Acho que nunca estive preparada para dar tantas más notícias. É uma situação desgastante. Pouco a pouco, você vai ficando sobrecarregada. Primeiro, é uma perda, depois, outra, e então, mais uma. Você chega em casa com tudo isso nos ombros e se sente cada vez mais pesada”.

Koana Rojas é pediatra na Venezuela. Quando a pandemia começou em 2020, ela decidiu juntar-se à MSF e apoiar uma ala para a COVID-19 em Caracas.

 

  • Mariana Gutierrez | Iraque

“Em contextos humanitários, é comum que você seja confrontado com a questão: ‘salvo um paciente ou um grupo de pacientes?’. Não dá para deixar de se sentir culpada por aquele que não foi possível cuidar e achar que deveria ter feito mais. (…) Também é importante se permitir sentir a tristeza da perda de um paciente, sentir essa indignação”.

Mariana Gutierrez estava trabalhando com MSF em uma ala pediátrica no Iraque. Logo ficou claro que manter os serviços essenciais enquanto tentava impedir a COVID-19 de chegar ao hospital seria um desafio sem precedentes.

 

  • Chiara Lepora | Itália

“Um aspecto que foi muito frustrante para nós e para todos os médicos com quem trabalhamos foi a incapacidade do sistema público de saúde e a dinâmica política em curso de aprender com o que aconteceu na primeira onda. Teria sido possível e necessário adaptar o sistema para torná-lo mais resiliente para as ondas futuras”.

Após anos de experiência trabalhando com MSF, a Dra. Chiara Lepora foi encarregada de montar uma equipe para responder à COVID-19 em seu país de origem, a Itália. Ela testemunhou como algumas das difíceis decisões que a equipe teve que tomar sobre a realocação de recursos poderiam ter sido evitadas.

 

  • Kateryna Stepanina | Ucrânia

“Houve momentos em que os médicos, percebendo que não podiam fazer nada nesta situação, estavam tão preocupados que sentiam apatia e depressão. Havia momentos em que alguns deles queriam deixar a profissão. Tivemos que trabalhar com essas pessoas por muito tempo para restaurar seu equilíbrio emocional e ajudá-los a voltar ao trabalho”.

 

  1. Manqoba Sikhondze | Essuatíni

“Eu faço uma reflexão pessoal e penso: ‘Existe algo que eu pudesse ter feito diferente para salvar aquela pessoa? ’. Mas é possível perceber que se você olhar para todos os diferentes fatores que estavam envolvidos, você percebe que não era algo que estivesse ao nosso alcance, era algo que era um desafio sistemático em que nós realmente tínhamos um poder muito limitado”.

 

  • Marisela Douaihy | Venezuela

“Me ver como um fator de risco para minha família me permitiu estabelecer regras. Venho de uma família onde sempre confortamos uns aos outros em momentos difíceis. A parte mais difícil é a falta de contato físico. Fiquei sem abraçar minha filha por um ano”.

 

 

Compartilhar
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on print