Costa do Marfim: MSF enfrenta as dificuldades de Abidjan

Com a situação mais calma no país, população finalmente sai em busca de tratamento médico, aumentando o movimento nos hospitais

A situação em Abidjan, capital econômica do país, está mais calma, mas as necessidades médicas continuam e em alguns casos até aumentaram. Os últimos confrontos aconteceram nos dias 3 e 4 de maio, no bairro de Yopougon, reduto das forças fieis ao presidente deposto Laurent  Gbagbo. As grandes estradas já estão reabertas, e as incontáveis barracas de madeira reaparecem nas margens das ruas, até pouco tempo atrás desertas. Abidjan retoma sua agitação costumeira. Após estarem presos dentro de suas próprias casas durante as longas semanas da crise, os doentes, muitos em estado grave depois de tanto tempo esperando, se dirigem em massa ao hospital.

Médicos Sem fronteiras está atendendo emergências no hospital de Abobo Sud. Durante os confrontos, as equipes ofereciam apenas cuidados primários aos feridos. Mas todos os dias, três ou quatro pessoas continuavam a chegar em Abobo Sud e outros hospitais de Yopougon e Treichville, onde MSF também trabalha.

As equipes de MSF estão presentes em vários hospitais de Abidjan, e dão apoio a centros de saúde da cidade. E, por todos os lados, multidões atravessam a cidade. Desde as cinco horas da manhã, mulheres esperam com suas crianças em frente ao hospital de Abobo Sul para consultar um médico. As equipes de MSF recebem em média 300 pacientes por dia, com prioridade para os casos muito urgentes e crianças com menos de 15 anos.

“A estação das chuvas já começou  e 80% dos pacientes que consultam o hospital sofrem de malária, quase sempre malária grave”, explica Caroline Séguin, coordenadora de projeto em Abobo. As crianças são especialmente afetadas, muitas delas sofrem de anemia, causada pela malária. Com a crise, elas não receberam tratamento e tiveram de conviver com a doença. O tratamento, nesses casos, é uma transfusão de sangue. Um indicador da gravidade do problema é a quantidade de transfusões realizadas : 146 na semana passada. O problema é ainda mais grave se considerarmos que as reservas de sangue são mínimas após uma crise.

Todos os setores desse hospital, localizado em um bairro popular, estão lotados. Na maternidade, as parteiras realizam cerca de 50 partos por dia, além de três ou quatro cesarianas. Em toda a metrópole marfinense, as necessidades médicas são imensas. A economia e o sistema de saúde foram gravemente abalados pela crise pós-eleitoral e pelos confrontos armados em Abidjan. Para garantir o acesso à saúde, MSF reabriu hospitais que estavam fechados ou funcionavam mal. Nos bairros de Anyama, Abobo Norte, Treichville e Yopougon, as equipes de MSF estão dando apoio, há um mês, a urgências médicas ou cirúrgicas, onde também oferecem consultas gerais e trabalham com serviços de maternidade.

Para que essas estruturas funcionem adequadamente, foi necessário, por exemplo, equipar uma ala operatória com um gerador para continuar a ter eletricidade em caso de cortes no fornecimento de energia; garantir o abastecimento de água; e acrescentar novos leitos. No sul de Abidjan, MSF está envolvido em um projeto ainda maior, a construção de três salas de cirurgia no hospital de Port-Bouët. A equipe de MSF que fornece cuidados pós-operatórios a pacientes transferidos de outros centros também vai assumir a responsabilidade pelos casos de traumas, pediatria, ginecologia e obstetrícia.

Muitas equipes de MSF ainda estão trabalhando em vários hospitais de Abidjan, uma vez que a grande maioria dos funcionários do Ministério da Saúde não pôde chegar aos seus locais de trabalho ou fugiu das zonas de combate. Antes da crise, de 30 a 50 pessoas eram atendidas por dia. Hoje, são de 250 a 300 pacientes diariamente.

A escassez de medicamentos permanece um problema sério. “Apesar da gratuidade dos cuidados médicos anunciada pelo governo, de 16 de abril a 31 de maio, os pacientes estão procurando as unidades de MSF. Nós estamos completamente sobrecarregados”, observou Xavier Simon, coordenador geral de MSF em Abidjan. Desde que MSF reabriu o hospital de Anyama, no dia 18 de abril, as pessoas aparecem espontaneamente. Sem que MSF tivesse feito nenhum anúncio, a informação se espalhou pela cidade: ” MSF está presente, tudo é gratuito, e há medicamentos “. Assim, os pacientes continuam indo, em um fluxo constante, às estruturas médicas de MSF.

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