“Cortando a cadeia de transmissão”

Alpha Diallo, especialista em água e saneamento, fala sobre seu trabalho num projeto de Ebola

"Cortando a cadeia de transmissão"

Três anos após o fim da grande epidemia de Ebola na África Ocidental, um novo surto foi declarado no último 1 de agosto na República Democrática do Congo. Esta epidemia ainda está fora de controle e se tornou a maior já conhecida no país. Para manter os Centros de Tratamento de Ebola seguros, as equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) contam com uma equipe experiente que compartilha seus conhecimentos no Kivu do Norte para combater essa doença mortal. Um deles é Alpha Diallo, da Guiné, que trabalha como especialista em água e saneamento:

“Comecei a trabalhar com MSF em 2011, bem antes da epidemia de 2014, em um hospital materno-infantil em Conacri, capital da Guiné. Quando o surto foi oficialmente declarado em meados de março de 2014, comecei a trabalhar em um projeto de Ebola em Conacri. Este foi o início da epidemia e tive a oportunidade de aprender os protocolos e as medidas de proteção a serem seguidos ao trabalhar em um centro de tratamento de Ebola.

Eu sou um “Watsan”
WatSan (água e saneamento) é algo muito importante em uma epidemia de Ebola. Apoiamos muito as equipes médicas e não é possível separar uma da outra. Somos encarregados da prevenção e controle de infecções e, portanto, devemos garantir que tudo que está dentro, mas especialmente o que está fora do centro de tratamento, não esteja contaminado.

Se isso não for feito de forma adequada e meticulosa, um centro de tratamento do Ebola pode facilmente se tornar uma nova fonte de disseminação da epidemia. Meu trabalho é cortar a cadeia de transmissão. Eu me certifico de que ninguém esteja infectado. Mas, infelizmente, muitas vezes também temos que descontaminar pessoas mortas que perderam a batalha contra o Ebola.

O equipamento de proteção pessoal parece quase uma segunda pele
Lembro-me de quando fui pela primeira vez à zona de alto risco de um centro de tratamento de Ebola. Eu estava apavorado. Eu já trabalhava no centro de tratamento há algum tempo, mas tentei adiar um pouco minha primeira vez na área de alto risco. Depois de um longo dia, um logístico percebeu que eu estava nervoso de ir com ele na área de alto risco para trocar uma lâmpada. Ele disse: “Se não mudarmos esta lâmpada, as pessoas não podem ser tratadas à noite e podem morrer”. Foi quando percebi que tinha que deixar de lado meu medo inicial. Entrei e perdi o medo instantaneamente. Hoje, o equipamento de proteção pessoal parece quase uma segunda pele.

Diariamente, conduzo treinamentos com meus colegas em Mangina e asseguro que todos os procedimentos sejam adaptados e estejam em conformidade com os padrões atuais. Meu trabalho estará terminado aqui se todos estiverem preocupados, atentos e se tudo estiver 100% seguro.

Com Ebola na equação, você não quer cometer nenhum erro
Aqui, não podemos nos dar ao luxo de enviar uma carta de desculpas depois de cometer um erro, não é assim que funciona com o Ebola. Sou severo e direto, e às vezes pode ser um choque para algumas pessoas. Com Ebola na equação, você não quer cometer nenhum erro. Se você não seguir os procedimentos, se não for cuidadoso, poderá ser responsável pelo próximo epicentro da epidemia.

Esta epidemia está longe de terminar. No momento, as pessoas relutam em apoiar a resposta ao Ebola. Eu acho isso normal. Essa relutância e desconfiança ainda estavam presentes em Guiné no final da epidemia, mas havia pontos de lavagem das mãos em todos os locais públicos e transportes privados. Os táxis estavam todos equipados com soluções de álcool para lavar as mãos. As pessoas se conscientizaram da necessidade dessas medidas preventivas e essa mudança de comportamento é uma clara indicação de uma compreensão do perigo da doença.

Quanto a mim, estou sempre pronto para ajudar onde minha ajuda é necessária. E é por isso que eu estou aqui. Onde quer que eu esteja, ajudarei a salvar vidas.”
 

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