Civis e instalações médicas ficam em meio ao fogo cruzado em Kivu do Norte

MSF pede urgentemente a todas as partes do conflito, na República Democrática do Congo, que garantam a segurança dos pacientes, da equipe médica e das instalações de saúde.

Paciente caminha dentro do hospital geral de referência de Mweso, em Kivu do Norte, apoiado por equipes de MSF desde 2005 em parceria com o Ministério da Saúde da República Democrática do Congo. Agosto de 2023. © Laora Vigourt/MSF

Instalações médicas apoiadas por equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) na República Democrática do Congo (RDC) receberam grandes fluxos de pacientes feridos de guerra, enquanto milhares de pessoas fogem das últimas ondas de confrontos armados na província de Kivu do Norte, no leste do país. Com civis e instalações de saúde no meio do fogo cruzado, MSF pede urgentemente a todas as partes do conflito que garantam a segurança dos pacientes, da equipe médica e das instalações de saúde, a proteção dos civis e o acesso irrestrito das organizações humanitárias.

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Nas semanas que se seguiram a 22 de janeiro, após uma escalada nos confrontos entre vários grupos armados na região, cerca de 10 mil pessoas fugiram das suas casas em Mweso e arredores, no território de Masisi, em Kivu do Norte, e procuraram refúgio no hospital geral de Mweso.

Em janeiro, principalmente nas últimas duas semanas, equipes de MSF no hospital administrado pelo Ministério da Saúde do país trataram cerca de 67 pessoas feridas de guerra, principalmente por ferimentos à bala e causados por explosões. Entre os pacientes, 21 eram crianças com menos de 15 anos de idade. Além disso, as equipes de MSF forneceram apoio psicológico às pessoas deslocadas e distribuíram abrigos temporários, filtros de água e sabão.

Com a intensificação dos conflitos em Mweso nos últimos dias, o número de pessoas abrigadas no hospital diminuiu, já que muitas fugiram da região em direção a Kitshanga, Katsiru, Nyanzale, Pinga, Kalembe e Kashunga. No entanto, pelo menos 2.500 pessoas, incluindo crianças cujos pais foram mortos, continuam a se abrigar no hospital de Mweso.

“A situação é extremamente preocupante”, diz Çaglar Tahiroglu, coordenador do projeto de MSF. “O hospital está sobrecarregado, com milhares de pessoas lá dentro tentando encontrar alguma proteção contra os conflitos. Juntamente com o Ministério da Saúde, estamos fazendo o nosso melhor para ajudar a todos, mas não temos recursos suficientes, como por exemplo alimentos.”

Conflitos se espalham para o sul

Do outro lado do país, na província de Kivu do Sul, onde quase 155 mil pessoas foram deslocadas desde dezembro de 2022, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), os recentes confrontos causaram uma nova onda de deslocamentos, com milhares de pessoas chegando em pânico nos últimos dias à cidade fronteiriça de Bweremana e em Minova, mais ao sul.

No hospital geral de Minova, apoiado por MSF, a equipe médica tratou cerca de 30 pessoas feridas entre 2 e 6 de fevereiro, incluindo quatro crianças e 12 pacientes que precisaram de cirurgia.

Atualmente, a estrada entre a capital do Kivu do Norte, Goma, e a cidade de Shasha, 27 km a oeste, está intransitável devido aos confrontos. Por isso, as pessoas estão sendo encaminhadas de centros de saúde na parte sul de Kivu do Norte para o hospital geral de Minova e para outras instalações de saúde em Kivu do Sul, sobrecarregando essas estruturas. Entre os pacientes, há um número crescente de sobreviventes de violência sexual.

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“Atualmente, as unidades de saúde em Minova estão sobrecarregadas e enfrentam escassez de medicamentos essenciais para tratar condições comuns, como malária, doenças diarreicas, desnutrição e infecções respiratórias”, diz Rabia Ben Alí, coordenadora de emergência de MSF em Kivu do Sul. “Nas últimas semanas, vimos o número de casos semanais de violência sexual tratados no hospital em Minova dobrar.”

No fogo cruzado

À medida que os confrontos se intensificam e se aproximam das cidades de Mweso e Minova, a segurança dos civis, da equipe médica e dos pacientes está em perigo crescente.

No centro da cidade de Mweso, várias casas foram atingidas por explosivos, matando civis. Somente na semana de 22 de janeiro, estima-se que 20 civis foram mortos, incluindo uma criança, e outros 41 ficaram feridos. Na última semana de janeiro, disparos do fogo cruzado atingiram a base de MSF e o hospital de Mweso, ferindo uma pessoa. Em 2 de fevereiro, a área entre o hospital de Mweso e a base de MSF foi atingida por um explosivo.

Preocupada com a segurança de suas equipes, MSF decidiu realocar temporariamente alguns profissionais de Mweso e Minova.

“Continuamos a prestar apoio, principalmente remoto, ao hospital de Mweso, bem como a nove centros de saúde na região”, explica Tahiroglu. “A equipe de MSF retornará assim que a situação de segurança permitir. No entanto, não podemos fornecer cuidados médicos nessas condições, em que as instalações de saúde não são protegidas e a equipe médica é pega no fogo cruzado.”

Desde março de 2022, o aumento dos confrontos armados na província de Kivu do Norte, ligado ao ressurgimento do movimento M23, forçou mais de um milhão de pessoas a deixar suas casas e causou um desastre humanitário em uma província já devastada por mais de 30 anos de conflito armado e deslocamento em massa.

Na zona de saúde de Mweso, no território de Masisi, província de Kivu do Norte, equipes de MSF têm fornecido assistência médica e ajuda humanitária às pessoas impactadas pela violência, incluindo cerca de 30 mil pessoas temporariamente deslocadas em fevereiro de 2023. Na zona de saúde de Masisi, as equipes de MSF continuam apoiando o hospital geral de Masisi e cinco centros de saúde, apesar da dificuldade de levar suprimentos com as estradas fechadas devido aos confrontos. Na província de Kivu do Sul, as equipes de MSF em Minova responderam às consequências do conflito em Kivu do Norte durante o primeiro semestre de 2023. Após uma deterioração da situação, MSF iniciou uma resposta de emergência em dezembro de 2023 em nove locais onde pessoas deslocadas se instalaram.

 

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