Cinco fatos sobre a crise nutricional na Somália

Deslocamento, seca, desnutrição e surtos de doenças estão agravando uma emergência humanitária em Baidoa.

Foto: Dahir Abdullahi/MSF

A Somália está sendo gravemente afetada pela pior seca em 40 anos em meio a um conflito que dura décadas, insegurança contínua e resposta humanitária inadequada; a população mal tem tempo de se recuperar de uma crise antes que outra aconteça. Esses surtos estão estimulando um ciclo vicioso, aumentando o risco de desnutrição. Equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) estão ampliando seus programas para atender ao aumento significativo de crianças com desnutrição na cidade de Baidoa, no estado Somália do Sudoeste.

Os casos que nossas equipes estão observando também foram agravados por doenças infecciosas fatais, como o sarampo. As taxas da doença estão aumentando drasticamente à medida que as pessoas encontram refúgio em locais superlotados. Em centenas de abrigos e assentamentos informais improvisados em toda a cidade, há falta de água e serviços de saneamento, o que contribuiu para a disseminação de doenças transmitidas pela água, como a cólera.

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Muitos perderam seus meios de subsistência, como gado e plantações, o que dificultou a capacidade de evitar a fome. Há poucas opções para as pessoas sustentarem a si ou às suas famílias em seus locais de origem. Muitas pessoas descrevem um estado de desespero – não saber onde conseguirão o que precisam para sobreviver, contando com a assistência que pode não ser constante.

Entenda o contexto de emergência que assola a Somália em cinco fatos:

Foto: Dahir Abdullahi/MSF

1. Baidoa acolhe a segunda maior população deslocada da Somália

Entre janeiro e agosto de 2022, mais de 200 mil pessoas chegaram na cidade. Elas se somam às cerca de 600 mil pessoas que já viviam por lá. Depois da capital Mogadíscio, Baidoa agora abriga o segundo maior número de pessoas deslocadas.
MSF está trabalhando em Baidoa, onde nossas equipes de nutrição de emergência, sarampo e resposta à cólera atendem a cerca de 20% da população da cidade. Muitas vezes, as doenças podem se espalhar mais rapidamente entre as pessoas deslocadas devido às condições de vida próximas nos campos.

2. MSF atende 500 crianças com desnutrição aguda por semana

Entre janeiro e agosto deste ano, MSF examinou mais de 206 mil crianças para a desnutrição em todo o país, diagnosticando cerca de 23 mil crianças com desnutrição. Algumas estão chegando aos programas de nutrição de MSF em um estado já crítico.

Em Baidoa, onde administramos 20 clínicas móveis de nutrição e temos 32 locais de monitoramento nutricional, as equipes médicas trataram mais de 12 mil crianças desnutridas nos primeiros oito meses deste ano. Em agosto, em apenas uma semana, examinamos 955 crianças e admitimos cerca de 761 em nosso programa de nutrição, a maioria delas de famílias recém-deslocadas. Continuamos a receber cerca de 500 crianças gravemente desnutridas por semana.

3. A seca e a desnutrição intensificam uma situação de saúde já terrível

A seca multissazonal deteriorou a situação nutricional das pessoas, mas a prolongada crise humanitária é continuamente impulsionada por vários fatores. Isso inclui o sistema de saúde de Baidoa, que enfrenta dificuldades para atender as centenas de milhares de pessoas deslocadas. Conflitos de longa data, resposta humanitária inadequada, impactos climáticos, bem como aumento dos preços de alimentos e combustíveis também contribuem para situações difíceis para as pessoas.

Foto: Suleiman Hassan/MSF

4. Há um ciclo vicioso de desnutrição e doenças mortais

A desnutrição é agravada por doenças infecciosas, pois uma pessoa desnutrida está mais suscetível à infecção, e a infecção contribui para a desnutrição.

O sarampo é endêmico na Somália, mas apenas nos primeiros seis meses de 2022, o país relatou o dobro do número de casos de sarampo do que em todo o ano de 2021. Entre janeiro e agosto de 2022, MSF admitiu mais de 5.460 crianças com sarampo em todas as nossas instalações na Somália. Em Baidoa, há uma nova onda de sarampo; aproximadamente 30% das crianças que tratamos são maiores de cinco anos, e a maioria é de famílias recém-chegadas.

Em abril, um surto de cólera começou em Baidoa. Entre maio e agosto, MSF registrou 14.112 pacientes com cólera em nossos 15 pontos de reidratação oral, e 989 foram admitidos em nosso centro de tratamento.

A fim de evitar a propagação da doença onde as pessoas deslocadas se estabeleceram, realizamos transporte de água, cloração e perfuração de poços para ampliar o acesso à água potável. Também construímos 344 latrinas, realizamos atividades de promoção da saúde e distribuímos itens essenciais, incluindo sabonetes e galões para 3.700 domicílios.

5. Uma resposta rápida, sustentada e ampla pode salvar mais vidas

Ao atuar na Somália, conflitos e insegurança continuam a ser um problema. Há uma dificuldade de acessar muitos lugares onde as pessoas podem estar sendo severamente afetadas pela seca e onde surtos de doenças e desnutrição são extremamente prováveis.

É crucial atender às necessidades médicas como parte da resposta humanitária a esta crise e incluir programas integrados de nutrição, vacinas contra o sarampo para crianças com mais de 15 anos, vacinação oral contra a cólera e medidas comunitárias de água e saneamento.

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