Chade: grave escassez de água está causando riscos de saúde para pessoas deslocadas

Equipes de MSF buscam novas fontes de água em região onde vivem milhares de pessoas que fugiram dos conflitos no Sudão.

No acampamento de Metche, a água é muito escassa. Chade, 17 de novembro de 2023. ©Linda Nyholm/MSF

As pessoas deslocadas do Sudão que se abrigam em acampamentos no leste do Chade estão vivendo em condições terríveis, sem água potável e saneamento adequado. Equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) estão fornecendo assistência com serviços de água e saneamento em três acampamentos na região fronteiriça entre os dois países.

Cerca de 40 mil pessoas no acampamento de refugiados de Metche estão recebendo o equivalente a apenas seis litros de água por pessoa por dia para beber, cozinhar e tomar banho – o que está muito abaixo da quantidade recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em emergências, de 20 litros.

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A falta de água, latrinas e gerenciamento adequado de resíduos representa um sério risco para a saúde da população. Nossas equipes estão tratando um número crescente de pessoas com problemas de pele, infecções gastrointestinais e diarreia aguda, o que é particularmente perigoso para crianças com desnutrição.

O Chade luta contra a escassez de água há muito tempo, mas a pressão sobre os recursos em lugares como Metche atingiu agora um nível crítico. Depois que a guerra eclodiu no Sudão, em abril de 2023, muitos refugiados sudaneses e chadianos repatriados cruzaram a fronteira para o Chade.

Inicialmente abrigados em centros de trânsito na cidade de Adré, alguns foram posteriormente transferidos para acampamentos em toda a província. No início de setembro, cerca de 40 mil pessoas foram realocadas para Metche, uma remota região árida a 40 km de Adré. Três meses depois, com o fim da estação chuvosa, elas enfrentam grave escassez de água.

No acampamento de Metche, as pessoas colocam seus galões em uma fila para coletar água limpa no ponto de distribuição de MSF. A água é distribuída duas vezes por dia no ponto, mas ainda não é suficiente. Chade, 17 de novembro de 2023. © Linda Nyholm/MSF

Aproveitamento dos métodos tradicionais de coleta de água

Até recentemente, a região de Metche não possuía infraestrutura hídrica moderna. Os cerca de 2 mil a 5 mil habitantes da região dependiam de métodos tradicionais de coleta de água em wadis (leitos secos que se enchem de água apenas na estação das chuvas) e do uso de poços cavados por agricultores locais.

As equipes de água e saneamento de MSF têm trabalhado com urgência para perfurar poços. O acampamento e a comunidade local recebem agora cerca de 160 mil litros de água por dia. A quantidade disponível – seis litros para cada pessoa por dia – é muito pouco para sobreviver sem comprometer a saúde da população.

As equipes de MSF continuam buscando urgentemente novas fontes de água, incluindo a perfuração de novos poços – um processo mecanizado que é caro e demanda certo período de produção.

“Trabalhar nesta região representa desafios logísticos, devido à distância e às estradas precárias”, conta Paul Jawor, consultor de atividades de água e saneamento de MSF. “Mobilizar companhias de perfuração aqui leva tempo – um tempo que as pessoas não podem esperar.”

Para responder mais rapidamente, utilizamos conhecimento e métodos da comunidade, ao mesmo tempo em que introduzimos ferramentas para agilizar a coleta de água.”
– Paul Jawor, consultor de atividades de água e saneamento de MSF.

Trabalhando em colaboração muito próxima à comunidade local, os engenheiros de MSF que atuam com serviços de água e saneamento estão diversificando seus métodos, utilizando formas tradicionais de coleta de água.

“As pessoas estão acostumadas a coletar água dos wadis secos e continuam a fazer isso, pois a quantidade de água que podemos distribuir atualmente é insuficiente”, explica Jawor. “Juntamente com os líderes comunitários, implementamos agora um sistema no leito seco do rio para capturar a água da chuva que permeou a areia durante a estação chuvosa anterior. Embora não seja uma solução permanente, pode proporcionar algum alívio imediato a uma parte da crise hídrica e pode ser usada no futuro pela comunidade local.”

Apesar dos esforços das equipes de MSF para identificar e estabelecer novas fontes de água, há muita incerteza em relação à quantidade e qualidade do suprimento de água subterrânea disponível.

MSF é uma das principais fornecedoras de água no acampamento de Metche, que abriga quase 40 mil pessoas que fugiram do Sudão. Chade, 17 de novembro de 2023. © Linda Nyholm/MSF

Riscos à saúde

Algumas pessoas no acampamento de Metche não conseguem nem ter acesso aos seis litros de água por dia, especialmente as que vivem longe de um ponto de distribuição de água. Com a disponibilidade de água potável tão limitada, as pessoas são forçadas a priorizar o uso.

“Mulheres mães nos dizem que possuem 20 litros de água para sete pessoas em casa”, diz Marina Pomares Fuentes, referente médica do projeto de MSF. “Elas são obrigadas a escolher: beber ou cozinhar?”
A falta de recursos para higiene cria riscos para a saúde. “O ambiente em que vivemos é muito sujo”, conta Fatuma, engenheira e representante das mulheres do acampamento. “Sem água suficiente, as pessoas não podem lavar suas roupas ou a si mesmas, o que é um grande problema para as crianças.”

Nadia Omar Mohammad, por sua vez, descreve as escolhas diárias que deve fazer sobre o uso da água. “A distribuição de água é muito longe [da minha casa], e eu trago duas jarras de água por dia para uma família de oito pessoas”, explica ela. “A água limpa é apenas para cozinhar, beber e se limpar para a oração. Lavamos as roupas e banhamos nossos filhos no wadi. Essa é a única maneira que conseguimos, e às vezes nem temos água suficiente para beber.”

Nadia Omar Mohammad levou seu filho ao ambulatório de MSF no campo de Metche, no Chade. © Linda Nyholm/MSF

Situação particularmente perigosa para as crianças

No ambulatório de MSF em Metche, a equipe observou um aumento de infecções e doenças de pele, particularmente entre bebês e crianças. Nas últimas quatro semanas, 16% dos pacientes tratados por MSF em Metche tiveram infecções oculares ou doenças de pele, como erupções cutâneas, dermatite e sarna.

Médicos de MSF estão especialmente preocupados com o aumento dos casos de diarreia aguda, particularmente entre crianças menores de 5 anos de idade que já sofrem de desnutrição. No mês passado, 13% das consultas na clínica de MSF em Metche estavam relacionadas a diarreia e infecções digestivas.
“As doenças que estamos testemunhando são totalmente evitáveis”, esclarece Fuentes. “É um círculo vicioso: água suja e falta de comida deixam as pessoas doentes, mas sem água potável, elas estão apenas ficando mais doentes.”

 

Nossas equipes no leste do Chade estão respondendo às necessidades médicas e humanitárias dos refugiados sudaneses e chadianos repatriados nas províncias de Ouaddaï e Sila. Na província de Ouaddaï, fornecemos assistência médica no hospital e na unidade pediátrica do Ministério da Saúde na cidade fronteiriça de Adré, no centro de trânsito de Adré e na própria fronteira. Também administramos um hospital no acampamento de Ourang e uma clínica ambulatorial no campo de Metche. Na província de Sila, atuamos com clínicas móveis para fornecer assistência médica em Daguessa e Goz Achiye. Também estamos apoiando unidades de saúde na região.

Engenheiros de MSF que trabalham em atividades de água e saneamento estão fornecendo água potável para pessoas refugiadas em três acampamentos: Adré, Ourang e Metche.

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