África do Sul: Deslocados enfrentam processo de relocação confuso

Maioria das vítimas de violência está sendo levada para locais inapropriados e inseguros, sem serem previamente informados

Depois de viver sob condições de vida inaceitáveis por três semanas, os deslocados internos estão sendo realocados pelo Governo da África do Sul sem ter a informação necessária sobre seus direitos e seus deveres, em locais inapropriados e inseguros.

"Nossos pacientes já estão traumatizados pela violência que sofreram e pelas condições abomináveis do deslocamento", afirmou a enfermeira de MSF Bianca Tolboom. "Eles dizem estar sendo tratados como animais, não recebem nenhum tipo de informação sobre para onde estão sendo levados, quanto tempo vão ficar no local e quais são os planos para o futuro. Eles não são informados para poder tomar nenhum tipo de decisão. Essa incerteza só aumenta o trauma."

A preparação para os sites de relocação começou no sábado, três semanas depois que a primeira onda de violência foi registrada em Johanesburgo. Apesar da preocupação manifestada pelos atores humanitários com relação às condições para se viver nesses locais e sobre o cronograma desse processo, a relocação teve início no domingo, dia 1 de junho.

Não há uma verdadeira liberdade de movimentos para esses deslocados internos, que estão presos entre a relocação em locais inapropriados e a volta para seus países de origem, incluindo os que enfrentam problemas políticos. Além disso, a essa altura, os locais não estão bem preparados para receber os deslocados internos: as condições básicas para abrigos, água e saneamento não são atendidas e a segurança está longe de ser garantida.

"Um dos locais é um antigo depósito de lixo de uma mina de ouro", explica Rachel Cohen, chefe de missão de MSF na África do Sul. "Esse local em particular vai ser prejudicial para a saúde das pessoas, especialmente para aqueles que já sofrem de doenças respiratórias, o problema mais comum entre os nossos pacientes. Também há pouquíssimas latrinas, as tendas estão muito próximas umas das outras e o terreno irregular torna-se um perigo para as crianças."

"Nós temos visto famílias sendo separadas e ouvimos vários relatos de intimidações por companhias de segurança contratadas para 'proteger' os deslocados. As pessoas estão se sentindo encurraladas, sem ter a quem recorrer e dizem que ninguém está protegendo-os, nem mesmo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).", diz Rachel.

MSF esta preocupado com os relatos de nossos pacientes de que muitos zimbabuanos afetados pela violência podem ter ido se esconder no interior da África do Sul nas últimas semanas. Tendo realizado projetos para os zimbabuanos em Johanesburgo e Musina, na fronteira com o Zimbábue desde 2007, as equipes de MSF sabem que refugiados não identificados não pedem assistência pelo medo de serem deportados. A falta de status legal aumenta sua vulnerabilidade e tem um sério impacto no acesso à saúde para esse grupo.

Logo após os primeiros episódios de violência em Johanesburgo, MSF ofereceu assistência médica para a população deslocada. Nas semanas que se seguiram, equipes móveis de MSF estabeleceram uma presença regular em 15 locais e trataram mais de 2,5 mil pacientes, distribuindo cobertores, kits de higiene e lâminas de plástico, onde as condições de vida eram mais difíceis.

MSF está na África do Sul desde 1999, fornecendo tratamento compreensivo de saúde para HIV e TB em Khayelitsha, Cidade do Cabo. Desde Dezembro de 2007, MSF também está trabalhando no centro de Johanesburgo e Musina, na província de Limpopo, para ajudar os zimbabuanos que procuram refúgio na África do Sul a ter acesso a cuidados médicos. Após a violência recente e conflitos, uma equipe extra de emergência composta por seis profissionais internacionais e 30 nacionais reforçou a equipe já existente.

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