Uzbequistão: um pouco sobre diferenças culturais

Pediatra brasileira fala sobre sua primeira experiência com Médicos Sem Fronteiras

De repente, fui chamada para trabalhar no Uzbequistão. Pelo que me lembrava de ter estudado no colégio, o país eras parte da antiga União Soviética. Recebi algumas informações sobre cultura, situação social e econômica atualizadas. Aceitei o desafio e descobri que seria a primeira médica brasileira a ir para O Uzbequistão. Quanta responsabilidade!

Cheguei no país em plena sexta feira, e fui muito bem recebida pela equipe nacional de Tashkent. No escritório, fui apresentada a todos (quanta gente!) e convidada gentilmente a almoçar. Durante o almoço, algumas diferenças: eles colocam a salada em pequenos pratos (como se fosse o prato de sobremesa) e ela é compartilhada entre as pessoas que se sentam próximas umas das outras. Você não se serve no seu prato e pronto; você compartilha. Assim como o pão: eles têm um pão especial aqui, que é servido durante as principais refeições, redondo, normalmente com um desenho no meio, que parece uma mandala. Muito bonito e saboroso, esse pão também é compartilhado, e “ai” de você se colocar o pão com o desenho para cima! Aqui eles também têm arroz e, durante o calor, muitas frutas! Que bom, não sentirei tanta falta daquilo com o que estou acostumada em casa. Durante esse almoço, o pessoal me contou que eles adoram assistir a novelas brasileiras e deram vários exemplos. Inclusive, falaram que eu parecia a heroína de uma das novelas! Ser diferente do que eles estão acostumados a ver tem suas vantagens! Depois, após uma curta conversa com o coordenador-geral do projeto, voltei para meu quarto na capital.

Ouvi tanto de MSF sobre o horário para voltar para casa, que a maioria dos projetos têm, sobre segurança, sobre não andar sozinho, etc., que fiquei impressionada ao perceber que teria o final de semana inteiro livre, que poderia andar pela cidade e fazer o que quisesse. Maravilha! No sábado andei pelo metrô, que inclusive é maravilhoso, fui entrevistada pelo guarda local que, ao perceber que eu não falava russo, pediu o meu passaporte. Assim que entreguei o ele me falou: brasiliana! E abriu um sorriso! Ufa! Depois disso foi para a praça da independência, que é gigantesca, maravilhosa. Você se sente uma formiga ao ver o tamanho dessa praça! Passei pelo museu nacional, outra construção maravilhosa e bem diferente das que vemos no Brasil.  

Após muitos briefings comecei meu trabalho em Nukus, capital de Karakapalkstan, no Uzbequistão. Aqui trabalhamos junto com os médicos do sistema de saúde local. Acho muito legal essa oportunidade de realmente estar dentro do sistema de saúde deles, e realmente trabalharmos juntos. Discutimos casos, tratamento, diagnósticos, e todo o tempo fui muito bem recebida e acolhida. A questão que fica é: eu não sei falar russo ou karakalpak, o que torna meu trabalho um pouco mais demorado, pois preciso da ajuda da minha querida tradutora para falar com ospais e as crianças, e até mesmo com os médicos locais para reunir as informações necessárias. Mas a melhor parte da pediatria é que você não precisa de tradutor; as crianças sabem falar com os olhos e com seus gestos. Ao atender e examinar uma criança juntamente com a médica do sistema de saúde local, eu, sem querer, acabei fazendo cócegas no paciente, ao palpar seu abdômen. Ele, então, olhou para mim, sorriu, e colocou as mãos na barriga. Ao perceber isso, sorri e então realmente fiz cócegas nele, o que resultou numa gargalhada deliciosa de se ouvir. E rimos juntos. Expliquei para a mãe dele que ele ficaria bem. Sem entender uma palavra do que eu disse, já que minha tradutora ainda não tinha feito a tradução, ela me estendeu as mãos e acenou com a cabeça, como que dizendo “muito obrigada”. Eu é que agradeço essa oportunidade de aprender com outra cultura.

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