Cuidando de crianças com HIV no Tadjiquistão

A enfermeira Rebecca Alethéia conta os desafios e as alegrias do seu trabalho com MSF

Cuidando de crianças com HIV no Tadjiquistão

Me chamo Rebecca Alethéia e sou enfermeira especialista em infectologia, mestre em ciências da saúde. Em abril de 2017, tive a oportunidade de ingressar para trabalhar com Médicos Sem Fronteiras, um sonho desde o tempo da faculdade. Me encontro atualmente na minha primeira missão, localizada no Tadjiquistão, Ásia Central. Meu projeto é de um ano e seis meses.

Minha atividade é trabalhar na prevenção e promoção da saúde com crianças vivendo com HIV/Aids. Trabalhar com crianças não é uma tarefa muito fácil, principalmente quando se trabalha com uma doença que não tem cura e é repleta de estigma e discriminação. Compreender o contexto local e saber lidar com as especificidades de cada criança é um desafio diário para a promoção da saúde dessas crianças e suas famílias.

Atualmente trabalho como enfermeira supervisora, tenho uma equipe composta por uma enfermeira, uma enfermeira obstetra, uma pessoa encarregada do treinamento e quatro tradutores. A atividade consiste em prestar atendimento e atenção integral a crianças vivendo com HIV/Aids. Isso inclui desde o cuidado primário de higiene, até o suporte nutricional, medicamentos, suporte intra-hospitalar quando necessário, atenção para as gestantes, puérperas e crianças nascidas de mães soropositivo. Parte das ações são realizadas juntamente com a equipe de saúde local. Realizamos campanhas de mobilização, treinamento e atividade para crianças relacionadas a prevenção e tratamento do HIV/Aids.

Minha impressão inicial em relação ao país, à população e aos profissionais nacionais foi de muito amor, carinho, respeito e receptividade. A população é muito amável, hospitaleira e cordial. Acredito que não saber muito do país foi bom, pois não dava para criar muitas expectativas. O que me surpreende é que os profissionais amam o que fazem e estão dispostos a trabalhar junto e buscam mudanças e resultados.

Difícil é escutar cada história; sempre é muito desafiador e muito triste. Receber as mães, pais, avós chorando por saberem que seu filho tem HIV/Aids, implorando pela cura e acreditando que nós temos a resposta para isso, é de partir o coração.

Um dos maiores benefícios de trabalhar com MSF é saber que não irei salvar o mundo, mas que o pouco que eu fiz tem muito sentido para a minha equipe e para a população. Trabalhar com MSF tem mostrado que aprender é diário, constante e que nossas ideias são ouvidas e que sempre há algo mais para fazer. Consigo ver resultados, consigo ver as sementes plantadas no projeto e consigo ver resultados futuros. Se é difícil? Ah, sim, é muito! Mas, posso dizer que eu amo as coisas difíceis. Se fosse para ser fácil, continuaria na minha zona de conforto. Pode ser que eu seja muito otimista, mas é isso que me move.

Uma história que me marcou muito é de uma mãe que criou vínculo, uma mãe que chorava muito pela doença do seu filho, se sentia muito culpada e se sentia perdida em como ela poderia ser parte do tratamento e promover cuidado ao seu filho. Ela o considerava muito pequeno, muito magro e com pouco apetite. Conversávamos muito e tentávamos traçar um plano nutricional. Foram muitos encontros, mas não obtínhamos muito sucesso. Ela não tinha muitos recursos financeiros para subsidiar alimentos específicos para o filho. MSF provia cesta básica, mas precisávamos mostrar como eles poderiam fazer isso sem o apoio de MSF, uma vez que eles moravam muito longe e não conseguiam buscar a cesta básica em tempo. Tentamos ao máximo e obtivemos sucesso! Continuamos batalhando para que essa criança tenha uma vida normal.

O que me deixa feliz é o reconhecimento do meu trabalho. Me encontro feliz, satisfeita. Como eu escrevi anteriormente, vejo resultados; pequenos, sim, mas vejo. E sei que muitos resultados não irei ver hoje, mas o projeto não é feito só por mim, eu sou apenas a continuidade de muitos que sonharam, de muitos que já passaram e de muitos que estão por vir.
 

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