Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por graves crises humanitárias. Também é missão de MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos pacientes atendidos em seus projetos.
Levamos cuidados de saúde a pessoas em extrema necessidade de ajuda humanitária. Atuamos em contextos de conflitos armados e guerras, epidemias e pandemia, desastres naturais e socioambientais e em situações de refúgio, migração e deslocamentos forçados.
Como organização médica, buscamos sempre oferecer o melhor tratamento disponível aos nossos pacientes. O trabalho de MSF envolve uma grande variedade de atividades, desde a organização de campanhas…
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A febre de Lassa é uma febre hemorrágica viral, transmitida por roedores, que causa sérios danos a vários órgãos, reduzindo a capacidade de funcionamento do corpo. Ela é endêmica em alguns países da África Ocidental, como Nigéria, Serra Leoa, Guiné, Libéria e Benin. O vírus causador da doença foi descoberto em 1969, na região de Lassa, na Nigéria. Mais de 50 anos depois, ainda há desafios no combate à doença.
1.
A doença é causada pelo vírus Lassa, um vírus de RNA de cadeia simples pertencente à família Arenaviridae (Arenavírus).
2.
A febre de Lassa é transmitida por uma espécie de rato. Na Nigéria, onde Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem ajudado a combater a doença, essa espécie é encontrada principalmente em três estados no leste e sul do país: Edo, Ondo e Ebonyi. Quando os roedores infectados se alimentam, eles deixam vestígios do vírus através de sua saliva e fezes.
O vírus é contagioso e pode se espalhar de pessoa para pessoa através de fluidos corporais, incluindo saliva, urina, sangue e vômito. A doença geralmente atinge o pico do número de casos na estação de seca, quando os ratos procuram comida nas casas das pessoas.
3.
A doença causa sintomas semelhantes aos da malária, como febre, dores no corpo, dores de estômago e vômitos. Por conta dessa semelhança, é difícil identificar a febre de Lassa em tempo hábil. O ideal é iniciar o tratamento em até seis dias a partir do início dos sintomas, que são variados e pouco específicos.
4.
O gerenciamento adequado de resíduos, a preparação e o armazenamento apropriados de alimentos e a manutenção de um ambiente limpo são importantes para evitar o contato com as espécies de ratos portadores do vírus. Em caso de infecção, a detecção precoce e o tratamento são fundamentais para prevenir mortes.
5.
O diagnóstico clínico da febre de Lassa é dificultado por alguns fatores. Não só por conta da semelhança com os sintomas da malária, mas também porque a doença é difícil de ser distinguida de outras febres hemorrágicas, como o Ebola, e demais condições de saúde que causam febre, como a febre a amarela.
Para garantir o diagnóstico oportuno da febre de Lassa, é fundamental que as pessoas façam o teste em laboratório antes que os sintomas se agravem.
A febre de Lassa pode ser diagnosticada por meio dos seguintes testes:
• Ensaio de reação em cadeia da polimerase com transcriptase reversa (RT-PCR); • Ensaio de imunoabsorção enzimática de anticorpos (ELISA); • Testes de detecção de antígenos; • Isolamento do vírus via cultura de células.
6.
Não há vacina contra a febre de Lassa, mas existe tratamento. O medicamento ribavirina é uma opção para tratar a doença em seu estágio inicial.
7.
A cidade de Abakaliki, na Nigéria, passou por repetidos surtos da febre de Lassa desde 2018. Nesse mesmo ano, uma equipe de MSF chegou para ajudar a identificar pessoas com sintomas e cuidar de pacientes no Hospital Universitário Federal Alex-Ekueme. Cerca de 600 km mais ao norte, uma segunda equipe de MSF ajuda a tratar pacientes com febre de Lassa no hospital Tafawa Balewa, no estado de Bauchi, desde 2022. Em 2023, as duas equipes de MSF forneceram cuidados para 618 pacientes com suspeita ou confirmação de febre de Lassa.
Assim que um paciente chega ao Hospital Universitário Federal Alex-Ekueme com suspeita de febre de Lassa, ele é internado no centro de isolamento do hospital, construído por MSF. Os pacientes com teste positivo são imediatamente transferidos para a “unidade de virologia” para tratamento. Essa medida de isolamento é implementada para separar os pacientes com febre de Lassa, uma doença contagiosa, de outros pacientes.
Para ajudar a detectar casos de febre de Lassa em tempo oportuno na Nigéria, MSF desenvolveu um formulário de triagem em colaboração com o hospital Alex-Ekueme. Por meio dessa abordagem, os profissionais de saúde podem identificar casos suspeitos, registrando e analisando os sintomas gerais e principais dos pacientes e combinando-os com seu histórico de saúde e contato com roedores ou com uma pessoa infectada.
Além disso, com o objetivo de combater diretamente a causa da doença, MSF lançou uma “estratégia de controle de vetores” nas comunidades locais de Abakaliki, que inclui a instalação de armadilhas para ratos, o uso de rodenticidas (veneno para ratos) e o compartilhamento de informações de saúde sobre gerenciamento adequado de resíduos, preparação e armazenamento de alimentos.
Durante todo o ano, mas especialmente no decorrer da temporada de pico da doença na Nigéria, nossas equipes de promoção de saúde fornecem informações para as pessoas sobre a febre de Lassa e sobre onde obter cuidados médicos gratuitos.
Contrair a febre de Lassa pode afetar o bem-estar emocional e psicológico de uma pessoa. As equipes de saúde mental de MSF na Nigéria fornecem apoio psicossocial a pacientes com suspeita ou confirmação de febre de Lassa durante toda a internação, por meio de sessões individuais e em grupo, além da realização de dinâmicas com jogos.
Antes da alta, os pacientes recebem informações sobre os sintomas esperados e os potenciais impactos na saúde mental, para que estejam informados e preparados para a vida como sobreviventes da febre de Lassa. As famílias dos pacientes também recebem apoio da equipe de saúde mental, ajudando-os a entender e lidar com a condição de seus familiares. Após deixar o hospital, os sobreviventes continuam recebendo apoio da equipe de saúde mental de MSF, que faz o possível para garantir que sejam reintegrados às suas comunidades.
Em 2022, também respondemos a dois surtos de febre de Lassa na Guiné.
Página atualizada em fevereiro de 2024.