Um dia na vida de um enfermeiro de MSF

Leia mais sobre como sua liderança, dedicação e cuidado fazem a diferença

Um dia na vida de um enfermeiro de MSF

Mais de 8 mil enfermeiros trabalham duro com Médicos Sem Fronteiras (MSF) em todo o mundo, salvando vidas e oferecendo ajuda médica a quem mais precisa.

Para marcar este Dia Internacional do Enfermeiro, acompanhamos sete enfermeiros por 24 horas na frente de batalha da assistência humanitária.

 

 ANTES DO TRABALHO

Em Mocha, Iêmen

FURAHA BAZIKANYA WALUMPUMPU, Enfermeira/parteira

Eu acordo às 5 da manhã. Tomo banho, depois tomo café da manhã rapidamente, e às 7h estou no hospital pronta para substituir os meus colegas do turno da noite.

Antes de chegar ao hospital e começar minha ronda na enfermaria, já sei que a sala de emergência estará muito movimentada com pacientes com ferimentos a bala ou causados por explosões de minas terrestres e bombas, e mulheres grávidas.

O Iêmen é um país em guerra. O sistema de saúde foi destruído. Em Mocha, MSF mantém o único hospital do distrito que oferece assistência médica gratuita para a população local.

Antes de estruturarmos o hospital em Mocha, as mulheres com emergências obstétricas tinham que viajar seis horas até Aden para receber atendimento médico. Muitas não sobreviviam à jornada. Então, MSF decidiu intervir e ajudar essas mulheres, salvando vidas.

Ser enfermeira de MSF é difícil. Nós trabalhamos por muitas horas e o trabalho pode ser emocional e fisicamente desgastante, mas eu amo o que faço. Ser capaz de oferecer atendimento adequado, em tempo útil e gratuito às pessoas que mais precisam é um privilégio.

Embora meu corpo e minha mente estejam cansados, meu coração está completo.

 

MANHÃ

Gaza, Palestina

DIANE ROBERTSON BELL, Chefe de Enfermagem

Nossas acomodações ficam a apenas cinco minutos do escritório, por isso podemos ir andando para o trabalho todas as manhãs e evitar o tráfego caótico de Gaza.

Passamos por lojas e restaurantes movimentados, mas começo achar a cidade um espaço muito claustrofóbico para aqueles que não conseguem ir embora.

O dia de trabalho começa com uma reunião com todos os profissionais. Também temos um briefing de segurança, em que descobrimos se houve algum incidente ou bombardeio na noite anterior, ou se há algum protesto planejado para o dia.

Vou para meu computador, vejo e-mails e preencho toda a documentação necessária, mas, assim que termino, tento sair e visitar as clínicas, os centros cirúrgicos e a ala de internação. 

Entrando em uma clínica de MSF em Gaza, você verá muitos homens jovens com muletas, com fixadores externos, com bengalas. Na verdade, você vai ouvi-los primeiro. É um lugar barulhento, com muita conversa.

 

MEIO-DIA

SHAIBU GODFREY, Supervisor da Equipe de Enfermagem

Em Pulka, Nigéria

Chego ao hospital de Pulka e meu dia começa com uma ronda para que eu possa ter uma visão geral de como nossos pacientes passaram a noite.

Também aproveito a oportunidade para ouvir sobre os possíveis desafios que meus colegas enfrentaram durante a noite e para priorizar quaisquer problemas que precisem de acompanhamento imediato.

Uma grande parte do meu trabalho envolve me comunicar com colegas de outros departamentos.

Por exemplo, se tivermos um paciente que necessite de apoio psicossocial, eu entro em contato com o coordenador de saúde mental para garantir que ele receba aconselhamento. Se tivermos um paciente com problemas de saúde reprodutiva, eu falo com a coordenadora das obstetrizes, que pode ajudar a planejar um caminho para o futuro. Se tivermos algum problema com suprimentos médicos, eu trabalho com a equipe de farmácia para melhorar o sistema.

A ligação com diferentes colegas faz parte do trabalho de dar ao paciente o melhor cuidado que podemos prestar.

 

TARDE

Em Kutupalong, Bangladesh

SOPHIE HJORT, Enfermeira-chefe

Minhas tardes variam, pois meu papel é muito amplo, mas quase todas as minhas responsabilidades têm a ver com pessoas – recrutar pessoal, colaborar com outras organizações, ministrar treinamentos.

Uma coisa em que estou focando agora é ajudar os enfermeiros da minha equipe a assumirem mais responsabilidade por coisas como documentação e gerenciamento de alas – sabendo que suas ideias e opiniões são tão importantes quanto as outras.

Eu acho que esta é uma área muito importante, pois eles vêem mais os pacientes e por isso estão em uma boa posição para defendê-los. Ao longo da história, isso tem sido muito importante para todos os enfermeiros. 

 

FIM DO DIA

Em Karakalpakstan, Uzbequistão

JEROME DAEL, Chefe de Enfermagem

Esta tarde, trabalhei no projeto de testes clínicos em Caracalpaquistão, na região noroeste do Uzbequistão.

“TB PRACTECAL” é um projeto de pesquisa que visa identificar um novo regime de tratamento mais curto, eficaz e sem injeção para tuberculose multirresistente a medicamentos.

Existem dois locais para o ensaio clínico: um em Nukus, a capital, e outro fora da cidade, a cerca de 20 a 30 minutos de carro do escritório principal. As estradas às vezes podem ser difíceis, especialmente fora da cidade. É basicamente deserta, com verões extremamente quentes e empoeirados e invernos gelados. Pode ficar muito lamacento durante o inverno quando chove.

Trabalhando no escritório de ensaios clínicos, sempre ouço o som da impressora ou da copiadora, pois temos muitos documentos e formulários para imprimir, para preencher, assinar e escanear, e finalmente reportar aos pesquisadores, patrocinadores e para o Ministério da Saúde.

Antes de terminar o trabalho do dia, eu faço uma ronda final no escritório para ter certeza de que nenhum dos enfermeiros está tendo dificuldades com algo. Eu sempre me certifico de que eles vão para casa e tenham algum tempo para a família e tempo para descansar. No entanto, se a tarefa for urgente, dou-lhes meu apoio e me uno a eles para concluí-la. 

 

NOITE

A bordo do Aquarius

AOIFE NÍ MHURCHÚ, Ponto Focal de Pessoas Vulneráveis

Não houve duas noites iguais no Aquarius e nunca pude prever quais das minhas habilidades de enfermagem seriam as mais solicitadas.

Algumas noites foram passadas olhando para o horizonte, desejando que o barco em perigo fosse encontrado e para aquelas pessoas estarem a bordo em segurança conosco.

Outra noite foi passada preparando-se para uma situação de influxo em massa de pessoas feridas enquanto os holofotes de um helicóptero iluminavam a superfície do mar em busca de corpos durante um resgate crítico em que as pessoas estavam na água.

Quando um resgate era concluído e as pessoas estavam a bordo do Aquarius, o trabalho era rápido e dinâmico. As exigências da equipe médica eram grandes.

As pessoas mais doentes eram atendidas no início do dia e geralmente eu passava muitas noites na clínica cuidando de ferimentos.

Tivemos pacientes com ferimentos resultantes de lesões relacionados à violência, de infecções de pele devido às condições de vida insalubres e superlotadas na Líbia, e de queimaduras de combustível sofridas como resultado da mistura tóxica de combustível derramado e água salgada no fundo do bote de borracha. Esta mistura tóxica provoca uma queimadura química dolorosa que danifica qualquer tecido humano exposto.

 

TURNO DA NOITE

 

SARAH HOARE, Enfermeira Chefe

Bentiu, Sudão do Sul

O dia de trabalho termina oficialmente às 5 da tarde, mas a noite frequentemente também é movimentada.

Nós nos revezamos para fazer turnos de plantão para apoiar a equipe de enfermagem caso haja uma emergência, medicação faltando ou conselhos sobre algo como um curativo.

Uma vez que me certifico de que não sou mais necessária no hospital, tomo um banho gelado para me refrescar, para poder dormir a noite toda.

Eu amo fazer parte deste projeto. O que estamos fazendo é literalmente salvar vidas e melhorar a vida de outras pessoas.

Eu vou dormir com a sensação de que estou contribuindo para algo que vale muito a pena.

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