Ucrânia: idosos enfrentam barreiras no acesso a cuidados para COVID-19

Em meio ao conflito prolongado no leste do país, a falta de transporte, as dificuldades financeiras e o número reduzido de profissionais de saúde são os principais desafios

Ucrânia: idosos enfrentam barreiras no acesso a cuidados para COVID-19

Olha Kostenko ficou nervosa depois de ter uma febre alta em outubro. Para sua surpresa, seu marido e sua mãe, de 88 anos, também adoeceram. Para Kostenko, assim como para muitas outras pessoas que vivem em comunidades rurais remotas e afetadas pelo conflito no distrito de Mariinka, no leste da Ucrânia, sentir dores e calafrios em meio à pandemia de COVID-19 é motivo para ansiedade.

“Minha temperatura estava alta”, diz Kostenko, de 63 anos. “Era difícil cuidarmos uns dos outros. Foi difícil encontrar medicamentos – gastamos cerca de 16.000 hryvnia (US$570) com remédios para nós três – e tenho que comprar remédios novamente para a minha mãe. Temos dificuldades financeiras – pagamos luz, gás, e tudo é tão difícil.”

Desde o início da pandemia, em março de 2020, muitas unidades de saúde em Mariinka têm trabalhado com um número reduzido de profissionais de saúde. “Muitos médicos ficaram doentes, tiveram que ficar em quarentena ou simplesmente demitiram-se por terem mais de 65 anos de idade e correr mais risco de desenvolver sintomas graves de COVID-19”, disse Oleksandr Shcholokov, médico de MSF na região de Donetsk. “Houve um período em que testemunhamos filas enormes de pessoas esperando por consultas médicas em hospitais. Desde então, as autoridades de saúde aumentaram o número de leitos e tentaram reduzir a aglomeração. No entanto, a falta de médicos continua um desafio.”

Ao mesmo tempo, as longas distâncias, as más condições das estradas e a falta de transporte acessível impedem muitas pessoas de se deslocarem para os centros de saúde. Como resultado, as pessoas vulneráveis à COVID-19 e a outras doenças crônicas correm o risco de não receber atenção médica em tempo hábil. “Os pacientes, muitos deles idosos, enfrentam vários obstáculos para serem testados e tratados contra os sintomas da COVID-19 e, eventualmente, acabam sofrendo em silêncio”, diz Shcholokov.

Antes da pandemia, o sistema de saúde na região de Donetsk já estava sobrecarregado devido ao conflito em curso no leste da Ucrânia. Algumas instalações de saúde foram danificadas ou destruídas no conflito; outras agora estão inacessíveis porque estão localizadas em território não controlado pelo governo. Ao longo dos anos, muitos profissionais de saúde também deixaram a região temendo a continuação da violência.

Tetyana Pushkar, de 56 anos, mora na aldeia Stepne, perto da linha de contato que demarca os territórios controlados pelo governo e os que não são. Seu marido tem febre, dores e calafrios, mas encontrar transporte para procurar atendimento médico incerto a preocupa. “Temos uma pensão de 1.700 UAH (US$ 60), mas já gastamos 3.000 UAH (US$ 107) em despesas médicas”, diz ela. “No momento temos dívidas e ainda temos duas semanas ou mais de tratamento pela frente. O médico está próximo, mas as instalações que fazem raio-X estão longe. Alguns serviços são gratuitos e outros têm de ser pagos. É caro pegar um táxi e, se você pegar o ônibus, tem de fazer uma longa caminhada e perde o fôlego.”

Para apoiar as autoridades de saúde no distrito de Mariinka, MSF está oferecendo atendimentos domiciliares para pacientes de COVID-19 por meio de duas equipes móveis. Cada equipe é formada por um médico, uma enfermeira e um motorista e pode visitar entre 30 e 50 pacientes por dia e transportar amostras de testes de COVID-19. Desde abril de 2020, as equipes móveis forneceram consultas e visitas de acompanhamento a 2.670 pacientes. Nos últimos meses, MSF também apoiou o hospital em Krasnohorivka conduzindo treinamento sobre controle e prevenção de infecções, gerenciamento de casos, triagem e processos de diagnóstico, fornecendo equipamentos de proteção para profissionais de saúde e doando duas toneladas de suprimentos médicos e 22 pontos de oxigênio para pacientes com COVID- 19 que necessitam de suporte respiratório. MSF também oferece apoio psicossocial, educação em saúde e encaminhamentos por meio de uma linha telefônica para pacientes dos distritos de Mariinka, Yasynuvata e Volnovakha.

Na Ucrânia, MSF está respondendo à COVID-19 nas regiões de Kiev, Donetsk e Zhytomyr desde o início da pandemia. MSF também treinou equipes em lares de idosos em Kiev sobre prevenção e controle de infecções e ofereceu apoio psicológico a residentes idosos. Na região de Zhytomyr, durante as restrições de mobilidade relacionadas à COVID-19 desde março de 2020, MSF garantiu a continuidade dos cuidados para pacientes com tuberculose resistente a medicamentos (TB-DR), distribuindo medicamentos em unidades de tratamento de TB e oferecendo suporte psicológico aos pacientes. Em ambas as regiões, MSF ofereceu apoio psicológico por telefone para pacientes, familiares e profissionais de saúde.

 

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